CAPÍTULO 36 - A MARCA DO DIABO

737 157 175
                                    

ATENÇÃO: O capítulo a seguir contém cenas de violência explícita. Se isso te deixa desconfortável ou algo semelhante, não leia.

Por fim, caso achem algum erro, me comuniquem para que eu possa concertar. Boa leitura ;D

[...]

Pelo buraco no teto, já amanhecera.

Os pássaros cantavam lá em cima e a atmosfera carregava certa paz, como a calmaria antes da tempestade.

Taehyung estava deitado sobre o chão imundo onde passara a noite. Olhava para a luz da manhã vinda pela abertura, vislumbrando pequenos vultos ocasionais dos pássaros que voavam àquela hora da manhã.

Ao seu lado, estava Jimin; os cabelos loiros espalhados sobre o chão, misturados à sujeira e repletos de nós.

Estavam em silêncio, sem dizer uma só palavra, desde que acordaram.

Se antes a ideia de morrer queimado lhe era inconcebível, agora Taehyung quase podia sentir o cheiro de sua carne em contato com o fogo da fogueira da praça.

Sentia-se em pânico. Ansioso. Com medo da dor e da morte.

Mas, ao mesmo tempo, nunca antes se vira tão calmo quanto estava agora. E essa inconstância somente tornava seus sentimentos mais conflituosos do que já eram.

- Se você realmente é um bruxo - Jimin falou, de repente. -, este é o momento perfeito para usar os seus poderes e nos tirar daqui.

Taehyung suspirou; o pulmão já fraco após passar mais uma noite rodeado por poeira e podridão.

- Sim. - concordou. - E o mesmo vale para você.

O silêncio voltou.

Então, quando um novo pássaro sobrevoou o céu azul pela abertura no teto, Jimin esticou o braço e tocou o ombro de Taehyung, indicando o vulto com um aceno de cabeça cansado.

- É um estorninho. - disse. E, pelo seu tom de voz, ele parecia sorrir. - Eles estão entre os pássaros mais comuns da Escócia. Sua plumagem é iridescente.

- Parece um corvo idiota para mim. - murmurou.

Jimin riu baixinho. Sua risada estava rouca e a garganta parecia bem desgastada.

Ele se aproximou pelo chão, tocando ombro com ombro. Tê-lo por perto, diante das coisas que Taehyung descobrira na noite anterior, deixava tudo ainda mais confuso.

- Quando eu era pequeno, costumava ir a Brighton em novembro. - ele falou; ambos não desviando o olhar do teto. - Os estorninhos se juntavam lá, milhares deles. Formavam um bando enorme. Chamávamos de "murmúrio". Eles voavam e rodopiavam em uma espécie de nuvem hipnótica, tudo em padrões perfeitamente sincronizados.

- E por quê?

- Para proteger uns aos outros dos falcões. Segurança por maior número, entende?

De repente, lá em cima e ao longe, os gritos do dia anterior retornaram. Estavam distantes, mas se aproximavam. Eram as pessoas iradas, desejosas pelo resultado do julgamento que teriam esse dia.

Ao ouvi-las e se lembrar daquilo pelo qual tivera de passar no outro dia, foi inevitável estremecer. Não queria sair do buraco dos ladrões para se encontrar com a multidão enraivecida, seus alimentos apodrecidos e seus baldes de urina.

- Nós mal formamos um bando. - Taehyung disse, interpretando aquilo que Jimin quisera dizer com suas palavras. - E nem mesmo somos bruxos de verdade para voarmos.

O ômega pareceu pensar naquilo que falara.

A multidão se aproximava cada vez mais. Seus gritos se tornavam mais altos e seu ódio parecia se agravar.

SÉCULOS - TaekookWhere stories live. Discover now