CAPÍTULO 10 - FORT WILLIAM

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Eles continuaram com aquela pequena excursão pelos dias que se seguiram.

Não andavam mais do que alguns quilômetros por dia e paravam muitas vezes para que Junhyeok pudesse realizar seus negócios numa encruzilhada ou numa cabana, onde muitos arrendatários se reuniam com suas sacas de grãos e seus punhados de moedas de ouro.

Quando chegavam em uma aldeia ou vila grande o bastante para possuir uma estalagem ou taberna, Junhyeok mais uma vez encenava seu ato para recolher dinheiro ilegalmente.

Pagava bebida para todos, contava histórias em um tom alto e forte, fazia seu discurso e, por fim, se julgasse as perspectivas bastante boas, forçava Jeongguk a ficar de pé e mostrar suas cicatrizes. E assim, mais algumas moedas eram acrescentadas à segunda sacola que Hye carregava, a bolsa que deveria ir para França, para a corte do Príncipe Charles.

Taehyung odiava os momentos em que via Jeongguk se expor, tirando a camisa e deixando que a plateia se horrorizasse por si só, com Junhyeok exclamando palavras em gaélico que acreditava já estar conseguindo entender.

"Vejam o que os ingleses fazem com nosso povo!", o alfa gritava, apontado para Jeongguk como se fosse um animal em um zoológico. "Vejam como aqueles monstros tratam a nós, aqueles que lhes deram o dom do Segundo Gênero, vejam!"

As pessoas passavam a murmurar entre si, concordando com suas palavras; os olhos repletos de dó e raiva dirigidos ao rapaz das costas açoitadas.

"Eles invadem nossas terras, roubam nosso dinheiro, estupram nossos ômegas e chicoteiam nossos alfas! Vejam essa atrocidade! Vejam como os ingleses são ratos imundos! Vejam o que fizeram a esse jovem, sem ter qualquer tipo de compaixão!"

Porém, os olhares de dó se tornavam olhares de desprezo com facilidade.

Não gostava de ver Jeongguk exposto àquilo.

Perguntava-se como ele conseguia aguentar passar por cenas como aquelas, nas repetidas vezes ao longo da viagem. Ter todos observando suas costas daquela forma hostil, saber que tinham nojo, que falavam sobre as cicatrizes... Era demais.

Uma vez, enquanto Taehyung estava bebendo de uma caneca de cerveja bem ao canto da estalagem, isolado dos demais, pode ouvir um homem murmurar a uma amiga em inglês: "Que visão horrível, não? Cristo, eu preferiria morrer a deixar um sassenach fazer isso comigo".

E Taehyung percebeu que, com raiva e melancólico, Jeongguk parecia se tornar cada dia mais infeliz.

Vestia a camisa assim que Junhyeok terminava com sua apresentação, evitando perguntas ou prestar atenção nos comentários que gritavam para si. Com uma desculpa qualquer, deixava o lugar com a cabeça para baixo e evitava todos da comitiva até que prosseguissem com a viagem na manhã seguinte.

Sabia que aquilo não iria durar por muito tempo.

Jeongguk não aguentaria permanecer em silêncio, vendo os outros o tratando daquele jeito. Em alguma hora, explodiria. Taehyung tinha certeza. E ele não se mostrou errado quando, alguns dias mais tarde, aconteceu exatamente isso, em um vilarejo chamado Tunnaig.

Dessa vez, Junhyeok tinha posto uma das mãos sobre seus ombros pálidos e exortava a multidão da taberna, animado, realizando o mesmo discurso de sempre. Foi quando um dos espectadores resolveu gritar algo em gaélico (provavelmente bem pessoal e ofensivo). E não demorou para que Jeongguk se livrasse da mão de Junhyeok com um safanão e golpeasse o homem no estômago, deixando-o estirado no chão.

O vocabulário de Taehyung sobre gaélico ainda deixava a desejar, e ele não conseguiu entender muito bem os rosnados soltados durante a briga. Mas isso não se fez totalmente necessário quando uma mulher virou uma das mesas, derrubando copos e talhares no chão, e gritou algo que se assemelhava muito com "Peguem-no!".

SÉCULOS - TaekookWhere stories live. Discover now