Interlúdio: Qualquer Coisa

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Estamos na ala leste da Casa, exatamente no primeiro cômodo ao lado esquerdo do hall de entrada. O lustre é mais baixo, caindo como cascatas em camadas, talvez Erwin consiga tocá-lo se subir na mesinha de centro e dar um pulo. E essa mesa é circular, tendo uma garrafa de vidro com algo que eu deduzi ser uísque — assim como as outras mesas decorativas — e sendo emoldurada com material marrom-dourado.

Há dois sofás em cada lado da mesa, bastante estofados e branco-amarelados, com diversas almofadas em fileiras. Logo após os sofás, basicamente na frente ou trás da mesinha de centro (dependendo da direção), em mais ou menos dois metros, há uma cômoda quadricular com 12 pequenas gavetas. Ela parece ser antiga, mas é muito bem polida e aparenta ser firme — posso ver que há uma fechadura em cada uma das gavetas.

Na mesma parede em que essa cômoda está encostada, há uma TV pendurada logo acima, sendo talvez de 85 polegadas. A parede branca tem alguns relevos no gesso, como se tivesse sido esculpida, onde também há quatro quadros iguais: dois aos lados da parede e dois acima, na altura do andar superior. Essas telas parecem ser do tamanho de Erwin.

Por fim, na parede oposta à TV, há uma lareira acesa com uma tela, revelando o real motivo pelo calor desigual daquele cômodo. Às laterais, há duas saídas onde nos levam para o hall de entrada e janelas gigantes que estão sendo cobertas por cortinas ainda maiores, variando suas cores entre branco, mostarda, vinho e marrom.

Sentada na beirada do sofá de costas para as janelas, com as pernas cruzadas e coluna ereta, vejo Erwin servir-se do líquido cor de avelã. Ele olha para mim e estende um dos copos, em uma oferta silenciosa, fazendo-me estender a mão. A distância é clara, mas o Ackerman caminha, me entrega, dá a volta na mesinha e senta-se no outro sofá.

Isso faz meu estômago embrulhar, vide que ele claramente toma cuidado para não me tocar ou se aproximar demais, talvez com o pensamento de que terei mais um surto. A que nível eu cheguei para que uma pessoa pense duas vezes antes de se aproximar muito?

— O que é? — Pergunto, olhando para o copo.

— Bourbon.

— Bebida favorita dos mafiosos, não é?

— E do Damon Salvatore também. — Ele resmunga, com um sorriso curto e fino.

Wait, você assiste The Vampire Diares?

Erwin passa a mão pelos cabelos.

— Podemos conversar sobre isso depois, não acha?

Suspiro, acenando com a cabeça enquanto viro a bebida sobre minha boca. Cada gota rasga minha garganta e queima como lava líquida, mas a onda eletrizante que corre pelas minhas veias e ossos é revigorante. À minha frente, Erwin deixa seu próprio copo, ainda cheio, no móvel decorativo à sua frente. Então ele ergue o corpo novamente e não me encara quando começa a falar.

— Pedi para que Pieck mandasse todos os documentos que pudessem provar tudo o que aconteceu sobre Utahime e os eventos de 26 anos atrás.

— Como, por exemplo...?

— Papéis que provam a nossa aversão ao assassinato de Utahime, deixando claro que sequer sabíamos quem era o homem que atirou nela e que ele teve o que mereceu.

— E você espera que eles acreditem que havia um homem infiltrado nesse seu exército? — Pergunto eu, com um sorriso sarcástico. Meus lábios e maxilar ainda doem.

— Eu mandei tudo o que pudesse provar que ele, de fato, era infiltrado. Agora só tenho que descobrir como. — Inspirando ar, ele completa: — Mas isso não vem ao caso agora. A questão é que eles já devem estar analisando tudo, eu lhes dei 30 dias para pensarem na trégua e reverem os arquivos.

𝐂.𝐈.𝐀  || 2d × Reader (PT-BR)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora