35 › Punição

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NOTA: A S/n vai levar uma pequena surra nesse capítulo, mas antes que vocês digam que foi desnecessário ou não gostaram, pasmem; não foi desnecessário. O que ela vai levar aqui é considerado um carinho perto do que ela merece, na perspectiva dos Chefes — e de Satoru, principalmente.

S/n

Deparo-me em uma situação perigosa. A cada fôlego tomado, metaforicamente inspiro centenas de doses de anestesias gerais — do tipo que você toma quando vai fazer uma cirurgia arriscada. Entretanto, eu não estou num hospital, apesar de que as paredes brancas possam se encaixar perfeitamente no modelo hospitalar; na verdade estou de pé, usando algumas das doses de anestesia para resetar a sensação trêmula que às vezes ameaça tomar minhas pernas. Uso as anestesias fantasiadas para manter meu rosto neutro, a voz calma e os movimentos sutis. Devo tentar parecer o mais calma e inofensiva possível, porque, sem dúvidas e com razão, Satoru apontará uma arma em minha direção em menos de 15 minutos.

Estamos todos na sala de estar, encarando a TV gigantesca que servirá como um amplificador da imagem e som da chamada com Erwin. Já faz alguns segundos que são 19:59 e já faz um dia que Kento me encara com a atenção de um falcão. Mesmo agora, quando desvio o olhar do relógio e foco no lado oposto ao sofá, ele está me encarando. Sua expressão é aquela que odeio, a de concreto e gelo, a que faz meu sangue borbulhar e perfura o coração que descobri possuir recentemente.

Há uma pistola no meu tornozelo, coberta pelo cano da minha bota. Outras duas na minha cintura e uma na minha mão, assim como Nanami. E mesmo armada, sinto-me totalmente encurralada, ainda mais pela Ackerman que está caminhando até um iPad na pequena mesa de centro, deslizando o dedo indicador sob a tela lisa e, eventualmente, atendendo a chamada que eu nem mesmo ouvi iniciar-se.

Minha atenção volta até a TV, onde agora aquela figura esguia e gloriosa se faz presente.

Erwin está sentado num sofá cor-de-vinho, baixo e sem almofadas ou forros extra, apenas o veludo e as costas baixas e braços quadriculares. A cor destaca a camisa branca social e a calça jeans azul, que recebem uma boa iluminação de algo que penso ser um lustre. Não dá para ver nada além da parede cinzenta, do sofá carmesim e do homem mais poderoso da Europa. Meu pai.

Pelo canto do olho, reparo em Kento saindo da extremidade do sofá e parando logo atrás de onde Satoru está sentado, encostando a mão no ombro do amigo naturalmente. Mordo meus lábios, como um tipo de válvula de escape para não transparecer nenhuma emoção, então olho novamente para o Ackerman que não disfarça o olhar aliviado em minha direção.

— É bom saber que aceitaram meu pedido. — Diz ele, se referindo à ligação.

— Estou apenas fazendo um reconhecimento da sua estatura para saber onde atirar, seu fodido.

Satoru não segura a língua, fazendo com que Mikasa se mexa inquieta, próxima à TV. Os olhos de Erwin param em mim novamente, como se quisesse checar a minha reação ao xingamento do platinado. Permaneço totalmente neutra, tão bem mergulhada nas doses de anestesia que nem mesmo sinto meu próprio corpo.

— Gojo, eu não tenho o intuito de discutir. — A voz mecanizada declarou, fazendo jus à postura de Erwin, que consistia em mãos entrelaçadas e cotovelos apoiados nos joelhos. A coluna inclinada para frente. — Na verdade, venho aqui para pedir trégua.

Uma risada histérica. Satoru.

— Trégua, porra? — Ele encara a TV como se estivesse assistindo à apresentação de um circo. — Devia ter oferecido isso antes de ordenar que matassem Utahime! Antes de deixar que sua filha se aproximasse tanto de nós!

𝐂.𝐈.𝐀  || 2d × Reader (PT-BR)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora