34 › Convulsão

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S/n

Sinto meu corpo pesado, percebo as pálpebras fechadas como se tivessem zíperes e, acima de tudo, os lençóis tão macios que penso que estou sendo sugada para um mundo feito puramente de algodão. Levantar as pálpebras é como apertar num receptor para reativar meus outros sentidos, permitindo-me ouvir o barulho calmo do mar e, além dos lençóis de seda, sentir o vento calmo e salgado que escapa da porta de vidro. Na verdade, toda aquela "parede" é de vidro, não há sequer um traço de madeira ou concreto ou qualquer outra coisa daquele lado do quarto; são apenas duas bases bases de vidro que vão do chão ao teto e algumas cortinas brancas tão finas que parecem transparentes.

Quase que tarde demais, sinto o peso na minha barriga e a respiração pesada batendo no meu maxilar. Então as memórias voltam como uma avalanche: após nossa transa no carro, nós passamos mais ou menos duas horas lá dentro, recuperando as forças e o pouco de consciência. Levi mandou que nos trouxessem para casa, então tomamos um banho juntos, onde eu lhe chupei com tanta vontade que apenas agora percebo a queimação na garganta. No fim, o beijei enquanto andávamos pelo corredor da casa vazia e viemos parar neste quarto, que eu sequer imaginava que existia. Penso se poderia me mudar para cá. A vista do mar é deslumbrante.

Giro o pescoço, olhando para baixo e vendo o nariz de Levi quase encostando no meu queixo; sua mão está por dentro da camisa do meu pijama e ele está deitado de bruços sobre o meu braço dobrado. Minha mão direita vai até seu ombro, reparando nas marcas deixadas por mim na noite anterior e na madrugada de hoje. Apenas o toque novo é suficiente para que Levi abra os olhos com uma urgência quase preocupante — ele não demonstra espanto ou medo, mas seus olhos estamparam um alerta incomum.

Estes mesmos olhos, pretos com uma fina coroa azul em torno da pupila, relaxam ao se erguerem e encararem meu rosto, enquanto seu corpo permanece imóvel. A culpa me faz engolir em seco.

— Oi. — Cumprimenta ele, retirando a mão da minha barriga.

— Oi.

Levi se suspende brevemente com os braços, apoiando um bem ao lado da minha cabeça e descendo a boca até meu pescoço. Minha consciência ordena que eu o afaste, mas aproveito os últimos toques antes de reerguer o espírito responsável. Levi se demora no meu pescoço, beijando e, por fim, migrando os lábios até os meus próprios, onde ele encosta os seus e os mantém ali, misturando nossas respirações e roçando a boca uma na outra, ambos de olhos abertos, apenas encarando o que parece ser o reflexo de nossos próprios olhos.

— Não me olhe assim, eu sei o que isso significa. — Diz ele, encurtando a distância em um selinho breve e então se afastando, sentando-se na cama apenas para esfregar os olhos como se nada tivesse acontecido.

— O que significa... — Eu repito. — Olha, eu... Ontem foi muito bom, muito mesmo — ele gira o pescoço e me encara com as sobrancelhas erguidas —, mas eu...

— Você estava me usando para esquecer Kento, eu sei.

Meu coração tropeça em mil paralelepípedos e eu sinto que poderia muito bem morrer ali mesmo.

— Não foi bem assim...

— Foi exatamente assim, angel. — Seus ombros se curvam, acompanhando o sorriso irônico e raro em seu rosto. — Mas não se preocupe, você não vai partir meu coração.

— Por que você não tem coração?! — Sugiro, reivindicando o sarcasmo.

— Quase isso. — Ele dá de ombros, passando as mãos no cabelo. — Inclusive, ontem...

Eu me permito rir, mas um pânico súbito invade meu cerne quando paro de ouvir as coisas que Levi começa a falar. Sei que ele está falando. Posso ouví-lo, mas não consigo entender. Então o pânico é substituído por uma calma fria e eu me entrego à inconsciência, agradecendo aos deuses pela inatividade ansiada como consequência de mais de 24 horas sem dormir e de uma ressaca desgraçada.

𝐂.𝐈.𝐀  || 2d × Reader (PT-BR)Where stories live. Discover now