23 › Linhagem

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A inconsciência e o conforto eram gloriosos. Os lençóis, tão macios quanto os travesseiros aveludados, me esquentavam enquanto o vento fraco e gélido do ar-condicionado fazia meus pêlos se eriçarem por baixo dos cobertores. Talvez tenha sido o barulho natural do mar revolto, bem abaixo e atrás de nós, ou a mão tão fria quanto a temperatura do quarto — que segurava meu braço e sacodia meu corpo — que me fez despertar.

Abri os olhos, sentindo-os lacrimejar pela luz ambiente que escapava das cortinas azuis, de chiffon, completamente abertas. Ao erguer os olhos para o dono das mãos inquietantes, grunhi ao ver a faceta tediosa de Shouta. Os fios pretos despencavam como cascatas pelos ombros largos e musculosos do meu chefe; como sempre, a barba estava por fazer e seus olhos exibiam leves olheiras, denunciando o cansaço por fazer sabe-se lá o quê enquanto eu estava fora.

Apoiei meu próprio corpo sob os cotovelos e, rapidamente, inclinei-me para a beirada da cama, vomitando tudo o que eu tinha comido por pelo menos o último ano. O grunhido de Aizawa foi suficiente para saber que ele estava quase vomitando por me ver vomitando.

— Merda, S/n, você não sabe se controlar? — Perguntou ele, cobrindo o nariz e a boca com as mãos.

— Eu... — Passei o antebraço no rosto. — Bebi pra porra ontem.

— Eu sei que bebeu... Maldita hora para não ter empregados, onde infernos está Alissa?! — O Chefe vociferou, seguindo para o outro lado da minha cama.

— Ainda sem notícias dela? — Questionei, obrigando-me a sentar no colchão e não olhar para o vômito.

— Nem mesmo uma pista. — Shouta passa as mãos pelos cabelos, coçando a nuca por fim. — De qualquer forma, não vim aqui para vê-la vomitando ou falar de Alissa; Levi está nos chamando para a reunião.

Com reunião, ele queria dizer sentar-se nos sofás e contar como a missão ocorreu como se fossêmos um bando de amigos fofocando — bem, conteúdo eu tinha.

— E Mirai já chegou, precisamos de uma presença... Feminina, com aquela garota.

— Vão adicionar isso no meu salário?

Não irei matá-la, serve?

— Me ameace novamente e sinta seu pau ser cortado fora.

— Ah, mas você gosta tanto dele. — Shouta piscou, enquanto bocejava e caminhava em direção à porta.

— Seu imbecil — eu xinguei, em tom de riso —, diga a Levi que prepare um café ou chá para mim, estou com dor de cabeça.

— Sim senhora, majestade.

Ao chegar na sala, me deparei com uma das últimas coisas que eu achei que veria. Ainda um pouco tonta, desci da escada feita inteiramente de vidro com atenção; podia escutar a voz de Shouta e Levi na cozinha, bem como a de Kakashi, mas reparei apenas da garota não muito mais baixa que eu, sentada preguiçosamente no sofá enquanto conversava algo aparentemente muito interessante com a pessoa que disse que não gostava de crianças. Nanami.

Ao chegar no último degrau, aquele rosto esculpido se ergueu e me encarou curiosamente. Cabelos curtos e lisos, maxilar marcado, pele alva e olhos avelã salpicados de carmesim. Era linda, simplesmente, uma beleza juvenil e natural.

— Oii. — Obriguei o tom empolgante chegar à minha voz. — Bom dia. Você deve ser Mirai, certo? — Ela franziu as sobrancelhas, mas assentiu. Kento parecia me estudar com os olhos. — Eu sou S/n.

— Já ouvi falar de você. — Constatou ela. Foi a minha vez de franzir as sobrancelhas. — Bakugou disse que você é uma espiã mesquinha e suicida.

𝐂.𝐈.𝐀  || 2d × Reader (PT-BR)Where stories live. Discover now