38 › Casa Reiss | Parte Final

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O frio da manhã faz meus ossos tremerem. Ainda assim, após tomar um banho quente e trocar meus curativos, eu visto uma calça jeans e uma blusa preta de mangas compridas, permanecendo com as sandálias peroladas. Saio do meu quarto com lentidão, como se o frio congelasse meus ossos e me impedisse de movimentar meu corpo, no entanto, viro à direita naquele corredor e caminho até as escadas do hall, ignorando a entrada para o escritório de Erwin e seguindo pelos degraus claros.

Ontem de madrugada, Erwin me surpreendeu ao fazer panquecas e preparar o melhor chocolate quente que eu já tomei na vida — não é como se eu fosse confessar isso para ele —, todavia, agradeci a comida e saí da cozinha no mesmo pé, subitamente alegando estar com sono, que era a última coisa que eu sentia naquele momento. E ele disse que tudo bem, tal como pediu para que eu fosse para a cozinha hoje de manhã, onde conversaríamos sobre o Japão e "mais algumas coisas" que me tiraram o sono. 

E, andando em direção à cozinha que era depois da sala de estar e da sala de jantar, na ala leste da Casa, ouvi duas vozes femininas, baixas e roucas. Me apressei para ir ao seu encontro, passando por ambos os cômodos limpos e organizados; a mesa da sala de jantar era enorme, feita de mármore (como a maioria das coisas daqui) branco e cadeiras avulsas, todas sendo contornadas por uma madeira escura e cheias de estofados acinzentados.

Saindo do portal da sala de jantar, adentro a cozinha com as paredes completamente cobertas pela dispensa, a geladeira enorme e quadricular de metal, o forno acoplado à parede e o fogão à pia, o armário e o balcão longo no meio do espaço, sendo decorado com duas fruteiras e um filtro d'água feito de vidro topázio. Enchendo uma panela com água da pia, estava uma mulher baixa de aparentemente pouco mais que 50 anos, com olhos azuis e pele branca, seus cabelos estavam presos em uma touca creme feita de elástico, assim como os da outra mulher ainda mais baixa, aparentando ter pouco mais de 1,50 metro de altura e pele negra, talvez entre os 60 e 70 anos, com olhos tão pretos quanto o cabo da faca que ela manuseava ao fatiar alguns pedaços de carne.

— Hã... — Eu murmuro, inesperadamente desconcertada. —  Bom dia?

As duas abrem largos sorrisos, acenando entre si antes de voltarem-se para mim novamente.

— Bom dia, senhorita Ackerman. — A mais baixa diz. Me pergunto como elas sabem quem sou. — Nós somos as cozinheiras daqui. Eu me chamo Varvara, mas a senhorita pode me chamar de Varya. — Ela leva a mão enluvada ao peito, coberto por uma roupa branca. — E esta é Natalya. — A portadora de olhos azuis dá um sorriso que esconde seus olhos.

Eu dou mais alguns passos para frente, apoiando os braços no balcão.

— ...É um prazer conhecê-las. Eu sou S/n e particularmente prefiro que as senhoras me chamem pelo nome. 

 — Só se você nos chamar pelo nome também, querida. — Varvara retruca, voltando a passar a lâmina pelo bife.

— Combinado, então. — Coço a nuca, incerta do que fazer ou falar. Percebendo isso, ambas esperam pacientemente. — Vocês viram o Erwin?

— O menino ainda dorme, querida. — Disse a mais velha, surpreendendo-me por chamá-lo de "menino". Há quanto tempo ela trabalha aqui, afinal? — Está muito cedo.

— Ah, está? — Pergunto, em um tom distante. 

Natalya aponta para a parede ao meu lado esquerdo, mostrando um relógio de ponteiros que parece ser feito de bronze. Ele marca 5 horas da manhã. 

— Ele acorda tarde? — Pergunto um pouco mais baixo, como se Erwin pudesse me ouvir.

— Na verdade, o senhor Ackerman acorda um pouco antes das cinco, mas ele só foi descansar quando chegamos mais cedo, às quatro horas. — A mulher mais alta explica, enquanto Varvara acena em confirmação.

𝐂.𝐈.𝐀  || 2d × Reader (PT-BR)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt