25 › Deja Vu

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18 malditas horas de vôo, Wakatoshi disse. Estávamos dentro daquele jato há mais ou menos 16 horas, se eu marquei bem.

Como o esperado, haviam roupas femininas no avião; Tendou, aquele que me deu as roupas, disse que estava proibido de me contar quem as escolheu e como sabia exatamente o meu tamanho e minha preferência. Congelei o ódio, a dor e a melancolia dentro de mim; em todos os momentos, desde que entrei na McLaren com Wakatoshi, eu venho me sentindo como se estivesse em baixo d'água, privada de ar. Venho me contendo de atirar nas malditas cabeças daqueles homens por aceitarem trabalhar para Erwin ou da vontade avassaladora de gritar e berrar e espernear. Eu estava agoniada entre aquelas pessoas, estava agoniada perto de Maki, sinto que estou agonizando e em um ataque de pânico infinito desde que soube daquilo.

Mesmo assim, não reclamei quando aqueles homens se referiram a mim como "srta. Ackerman", quando mencionaram Erwin como "seu pai" ou sequer quando conversaram entre si e sorriram casualmente como se não estivessem trabalhando para um desgraçado. Lhes dei a minha melhor dose de frieza, até porque era apenas o mais puro gelo que corria pelas minhas veias.

Quando saí do banheiro, caminhei de volta até o meu assento próximo à janela. Eles me avisaram sobre o quarto logo ao lado do banheiro, sobre a cama macia que eu podia descansar se eu quisesse. Me trataram tão bem que senti nojo, se referiram a mim com tanta submissão e respeito que eu quase os bati.

Ser filha de Erwin não é sinônimo de privilégio, de presente.

Eu não pedi isso.

Eu não quero isso.

Encarei a janela, respirando fundo mais uma vez para conter o pânico que ameaçava me consumir. Talvez uma hora eu deixasse.

Estávamos sob as nuvens da Rússia; a cidade de Moscou era esplêndida à noite, parecia ser um local glorioso e imaculado, embora seu submundo seja governado pela pior escória.

Arrumei a jaqueta de couro sob meu tronco, engolindo em seco e levando embora o pensamento de que aquela roupa foi dada, indiretamente, por ele. Em outra ocasião, eu iria preferir morrer de frio à vestir algo oferecido por ele.

— Srta. Ackerman. — Ohira, um homem alto e de pele avelã chamou minha atenção. — Iremos pousar, a viagem foi mais rápida do que previmos. A srta. Reiss vem recebê-la.

Com isso, voltou à ala que dividia com seus companheiros, me deixando paralisada.

Reiss.

Historia Reiss.

O verdadeiro nome de Alissa.

O que diabos ela faz aqui? Ela sabia que Erwin é meu...

Desta vez, não congelei a raiva, mas a deixei queimar como nunca. Apertei os braços da cadeira acolchoada enquanto sentia a leve manobra do pequeno avião; quando eu descesse aquelas escadas, iria abrir o crânio de Historia à base de socos, exatamente como fiz com aquele Comandante da CIA.

Então esperei, pacientemente. Vi os pilotos conversando com os integrantes da Shiratorizawa, os vi carregando maletas, até que Wakatoshi veio até mim e fez um sinal com a mão, me chamando para pisar no território russo. E apesar da naturalidade do líder, ele me analisava com cautela e sabedoria; todas as minhas adagas e a pistola foram tiradas de mim, assim como o celular que eu fiz questão de transformar em pó antes de entregá-lo.

Mas eu sabia que não precisaria de arma alguma para acabar com a raça de Historia. E se sua maldita esposa interferisse, a mataria também.

Ao descer as escadas, senti o vento poderoso e frio, assim como vi cinco malditos carros ao redor daquele jato. Nenhum era esportivo, para o meu azar; todos blindados e muito longe de estarem rebaixados. Todos pretos, com vidros ainda mais escuros. Ainda assim, do lado fora, haviam quatro ou cinco seguranças, todos empunhando fuzis de artilharia pesada.

A pista era iluminada, apesar de tudo, e eu senti minhas unhas perfurando a carne da mão quando as fechei em punho ao ver Historia saindo de um dos carros. Seus cabelos dourados eram bagunçados pelo vento, mas seu tamanho e as bochechas coradas lhe davam um ar inocente e lindo. Atrás de si, uma mulher alta e de curtos cabelos marrons apareceu. Ela tinha sardas e pele avelã, assim como Ohira. Logo depois, apareceu uma mulher um pouco mais baixa que Ymir — deduzi que aquela fosse a esposa de Historia —, com cabelos negros e sedosos, pele alva e um sobretudo branco acizentado. Seu rosto era sereno e ela parecia irritantemente tranquila.

Atrás de mim, Ushijima era uma parede de músculos, prestando atenção em cada movimento meu.

Quando desci o último degrau, caminhei furiosamente até Historia. Aquela mulher de cabelos negros nem ao menos se moveu, mas a suposta Ymir se pôs na frente da loira, que a empurrou de volta para o lugar.

— Fique onde está. — A mulher desconhecida exigiu. Parei de caminhar ao ouvir o barulho das armas apontando para mim. — A Pequena Ackerman de Erwin... — Ela contemplou, como se apenas agora pudesse me ver. Eu não conseguiria descrever o tamanho de minha raiva.

— Atirem. — Eu incitei, caminhando lentamente na direção de Historia. Ela ainda estava relativamente longe. — Vamos, atirem na porra da filha de seu chefe.

Sendo assim, continuei andando furiosamente, convicta de que eles logicamente não atirariam. Quando cheguei a cinco passos de Historia, Ymir avançou como uma sombra. Eu estava com tanta raiva e tanta vontade de arrancar a cabeça de todos ali que apenas um golpe com o cotovelo foi o suficiente para deixá-la inconsciente. O corpo dela caiu dramaticamente no chão, fazendo Historia arregalar os olhos. Do outro lado dos carros, a mulher gritou:

— Ushijima!

Eu pude ouvir os passos apressados do mafioso, mas ele não chegou a tempo de parar meu soco no rosto da vadia loira. O crack foi suficiente para saber que tinha quebrado o nariz, mas não o suficiente para fazer com que meu fodido "instinto Ackerman" se acalmasse. Queria quebrar os dentes dela, então a mandíbula e os braços, pernas, queria esmagá-la inteiramente usando apenas as mãos.

E estava prestes a fazer isso quando Wakatoshi prendeu meus braços e me imobilizou. Tentei me debater, mas se eu me mexesse muito, poderia acabar fraturando a coluna ou os dois braços. O xinguei tanto que os seguranças fizeram uma careta, mas por fim, acrescentei à Historia, o rosto dela sujo de sangue e o meu molhado de lágrimas que eu nem sabia que estavam fluindo. De qualquer maneira, minha voz foi firme quando prometi:

— Não importa o que aconteça ou quanto tempo passe, me lembrarei do seu rosto e da sua voz cínica, lembrarei da forma que me traiu e quando a encontrar novamente, longe disso tudo, irei descarregar uma MP5 em você, srta. Reiss. Estará com tantos buracos que será confundida com uma peneira. — Eu sorri para ela, enquanto Ushijima lutava para reerguer meu corpo que permanecia inclinado na direção dela. — E esse dia vai chegar. Eu sei que vai. Eu garanto que vai, e do mesmo jeito que me recordarei desse seu rosto cínico, lembrarei dessa promessa.

Após isso, uma dor lascinante na perna. Um tiro. A mulher de cabelos escuros, com uma pistola apontada em minha direção, a bala queimando dentro da carne e o sangue jorrando como água de um riacho.

— Isso deve ser o suficiente para acalmar esse seu instinto animal. — Debochou ela, calmamente. — Mas um sedativo também pode ajudar.

Então, a última coisa que me lembro, é o aceno para o homem atrás de mim, que desprendeu uma das mãos e foi ágil em injetar algo no meu pescoço.





Ao acordar, um deja vu.

𝐂.𝐈.𝐀  || 2d × Reader (PT-BR)Where stories live. Discover now