Two Weeks

797 51 42
                                    


É engraçado, hoje em dia, notar como as coisas mudaram. É curioso de imaginar a pessoa que eu era meses atrás, quando cheguei em Los Angeles recém órfã e com o coração extremamente machucado. É cômico de perceber quantas coisas eu me permiti fazer, quantas atitudes eu abominava e jurava que nunca ia chegar nem perto de praticar. Contudo, lá estava eu, pagando a minha língua.

Eu costumava odiar até mesmo o cheiro de um cigarro tempos atrás, até fumar os primeiros por causa de Alice. Não se tornou um vício, eu raramente pegava um pra fumar, mas naquele momento, naquela madrugada, era tudo que eu queria. Porque acabei percebendo que isso me relaxava imensamente.

Assim, lá estava eu, Axl e Slash no quarto do cabeludo, fumando cigarros e pensando em tudo. Algumas horas atrás, quando eu subi para o meu quarto com Axl, decidimos deixar Slash sozinho por um tempo, mas logo estávamos batendo na sua porta e pedindo para ficar por lá. Tentamos consolá-lo, dizer alguma coisa, mesmo que tudo esteja uma merda. Então, eu e Axl acabamos percebendo que nada do que disséssemos ia adiantar algo, seria melhor apenas fazer companhia para o nosso amigo, deixar o silêncio falar por si.

— Não sei com que cara vou voltar para LA. — Slash murmurou, quebrando a quietude. O fumava um baseado, diferente de mim e do meu namorado.

— Como assim?

— Eles estão esperando que as coisas tenham dado certo.

— Talvez ainda dê. Talvez Isaac pense em tudo essa noite. — Murmurei e escutei o cabeludo rir ironicamente.

— Aquele cara não vai mudar de opinião de uma hora para outra.

— Espero que ele pelo menos te peça desculpas. — Axl disse, trincando o maxilar. — Foi um belo filho da puta.

— Ele não 'tá nem aí, Axl. Eu não quero ouvir nada que ele tenha a dizer para mim mais. — Rebateu. O silêncio voltou e eu apenas suspirei. Estávamos os três jogados no chão gelado do quarto encarando o teto branco.

Cerca de cinco minutos depois, ouvimos batidas frenéticas na porta e levantamos as cabeças rapidamente, confusos. Todos ficaram imóveis até ouvirmos os sussurros.

— Slash? Amor? — Era um sussurro bem baixinho e quase desesperado. No mesmo segundo Slash se levantou e destrancou a porta, quase caindo no chão pelo abraço apertado que Kimberly deu, chorando em seu pescoço. Ele enrolou-a em seus braços, pedindo para que não fizesse barulho e trancou a porta novamente. Axl se sentou no chão e eu sentei-me na sua frente, entre as suas pernas. Senti seus braços me rodeando e me abraçando por trás, um beijinho sendo depositado no topo da minha cabeça.

— Meu amor, você está bem?

— Óbvio que não, Slash. Eu não consigo acreditar nas coisas horríveis que o meu pai te disse horas atrás. Estou envergonhada e furiosa. Eu nunca te chamaria até aqui se soubesse que ele seria tão duro, realmente imaginei que ele estava disposto a tentar ser melhor, mas...

— Ei, calma. — O moreno pediu quando Kim começou a ficar sem fôlego por estar tão desesperada. Ela respirou fundo e enxugou as bochechas com as mãos.

— É sério, amor. Por favor, me perdoe. Você não devia nunca ter que passar por toda essa merda.

— Está tudo bem, Kim. A culpa não é sua, está bem? — Pegou o rosto dela nas suas mãos, fazendo com que ela o olhasse. Minha amiga assentiu, tentando se acalmar, mas lágrimas ainda escorriam de seus olhos marejados.

— Ele me trancou em meu quarto porque imaginou que eu não ficaria quieta, mas tenho uma chave extra escondida. Quero ficar com você aqui até o amanhecer.

You Could Be MineWhere stories live. Discover now