•PRÓLOGO•

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•Lili

- ANDRÉIA! QUERO VOCÊ NA MINHA SALA AGORA. - O meu chefe grita de algum lugar no corredor e eu fecho os olhos, respirando fundo para controlar os meus instintos assassinos.

CINCO ANOS que eu trabalho aqui e esse idiota faz questão de errar o meu nome toda santa vez. Eu entenderia se ele me chamasse de Lilian, ou qualquer outra coisa que também pudesse ter “Li” como apelido. Mas Andréia?! ANDRÉIA?! Poderia muito bem ter mudado para Marinalva, ou Jucicleide de uma vez.

Respiro fundo de novo e começo a recitar o meu mantra especial para momentos em que preciso encontrar a minha calma interior - aquela que eu não uso muito, mas que deve estar perdida em algum lugar aqui dentro.

Você ainda não aprendeu a fazer fotossíntese, Lili. Precisa de um salário se quiser continuar comprando aquela coisinha mágica chamada comida. E, se você matar o seu chefe, sua mãe vai te matar. Além disso, é legal ter um teto sobre a cabeça, não é?! Se estrangular o cara, pode dar adeus ao seu belo apartamento e “olá” para voltar a morar com os seus pais. Aqueles seus pais que ignoram o conceito de privacidade, lembra?!

Ugh! Esse é o melhor argumento de todos.

Eu empurro a minha cadeira para trás e me levanto, arrumando a minha saia enquanto continuo repetindo o meu mantra sem parar. Os outros jornalistas me dão olhares cheios de expectativa, provavelmente porque esperam que eu vá dar alguma das minhas respostas típicas. Como daquela vez em que eu apareci usando uma camiseta com um grande “O MEU NOME É LILI, PORRA” bordado na frente.

Gosto de chamar essa minha tática de “ironia sutil”.

E foi assim que a minha fama de esquentadinha virou a diversão desse jornal. Claro que isso foi antes que eu encontrasse a luz, que eu criasse o meu mantra, que eu encontrasse o meu poço de temperança interior... Ou seja: antes que o chefinho jurasse que mais uma das minhas gracinhas me renderia uma bela demissão por justa causa. Aposentei a camiseta “Lili” depois dessa. Foi um momento triste.

- Até o jeito de andar dela me dá medo.

Ouço uma das estagiárias falar e reviro os olhos para ela, sem nem tentar esconder a preguiça que sinto desses comentários. Tenho certeza de que não era um filhotinho assustado assim, quando entrei aqui. Francamente! Medo de mim?! Justo de mim?! Eu sou tão doce!

Hehehe.

- Chamou, chefinho querido?! - Eu paro na porta da sua sala e dou o meu melhor falso sorriso inocente.

- Faça as malas, Andréia. Você vai para a Austrália. - Ele fala sem levantar os olhos dos papéis espalhados na sua mesa e eu começo a rir.

- Essa foi boa, chefe. Austrália, claro. Preciso contar para o pessoal, eles vão adorar. - Dou mais alguns passos para frente, fingindo que entendi a sua piada. - O que eu posso fazer por você? Algum obituário? Alguma outra matéria sobre o rosto do Mick Jagger aparecendo em torradas?! A última parecia mais uma uva passa do que o Mick Jagger, mas quem sou eu para julgar...

- Você caiu e bateu a cabeça na calçada? - Ele pergunta e eu continuo com o meu sorriso congelado no rosto.

Dentro da minha mente, imagino uma cena em que tiro uma marreta gigante de trás das costas e amasso o seu corpo gorducho até que vire uma sanfona, igual nos desenhos animados. Também serviria entrar acelerando com um caminhão pela parede da sala, ou cercá-lo de dinamite e explodi-lo até que virasse só montinho de pó. Calma, não se preocupem. O montinho de pó sempre reaparece magicamente inteiro depois.

- Terra para Andréia! Além do sério problema de atitude, agora você ficou surda, garota?!

Droga! Divaguei demais nos cenários sangrentos e esqueci de respondê-lo. É... Isso acontece mais do que eu gostaria de admitir.

BAD SPROUSE || adaptação sprousehart Where stories live. Discover now