LOGAN
Quase penso em matar a primeira aula quando estaciono, mas o pensamento de que Lara está lá dentro me causa uma estranha motivação. Eu até consigo imaginá-la toda preocupada, correndo para dentro da escola como se fosse o fim do mundo.
Sorrio com a imagem, desligando o motor e pegando minha mochila do banco do passageiro.
Vejo que o estacionamento está lotado quando saio do carro, e não demoro a avistar o Honda de Charlie parado numa área coberta. Como aquele bocó consegue sempre pegar um lugar bom?
Bocó. Já estou até falando igual a Lara.
Dou risada quando percebo este fato, sentindo o peso da mochila me incomodar conforme me dirijo até a entrada. O corredor está vazio, uma visão que costumava ser bem comum a mim ano passado — pois eu vivia matando aula —, e não ouço quase nenhum ruído enquanto caminho. A não ser pelo meu celular, que começa a vibrar logo depois.
O pego do bolso com uma velocidade incrível, pensando ser da Lara, mas para a minha decepção é apenas uma mensagem de Charlie.
— Droga — eu resmungo, bloqueando a tela e andando o mais rápido possível para a sala de aula agora.
Quase escancaro a porta quando chego, o que faz todos os alunos olharem em minha direção. A Sra.Sullivan, professora de matemática mais chata do mundo, desvia o olhar da sua caderneta para me encarar. A chamada... se ela já tiver dito meu nome estou mesmo bem encrencado.
— Sente-se logo — ela praticamente rosna, voltando a rabiscar alguma coisa na folha.
Não perco tempo. Corro até a minha carteira, desabando a mochila no chão e contemplando o estranho silêncio que ocupa a sala. Isso quase nunca acontece, mas como hoje ela provavelmente vai falar sobre as notas da última prova eu posso até sentir a tensão no ar.
Mas não tenho muito tempo pra sentir muita coisa, pois logo meu olhar é atraído para uma das carteiras da frente. Para uma específica, em frente à janela, que é o lugar da Lara.
E está vazio.
Onde ela está?
LARA
Engulo em seco, sentindo como se eu estivesse dentro de um filme colegial. O que é até estranho, pois nunca imaginei Katherine como uma personagem desses filmes.
Só que ela combinaria. Combinaria muito. E pode ser coisa da minha cabeça, mas só por vê-la se aproximar de mim já me sinto tão intimidada que quero sair correndo daqui.
O que seria impossível, pensando bem. Pois meus pés parecem grudados ao chão.
Droga.
— Ahn... oi? — eu digo, insegura, enquanto observo ela parar bem em minha frente.
A garota cruza os braços, abrindo um sorrisinho enquanto me observa de cima abaixo. Não parece um sorriso malvado, afinal, o que só me deixa ainda mais confusa.
— Então, o que você é do Logan? — diz ela sem rodeios.
Dou um passo para trás, o peso da mochila começando a me incomodar, e tento manter contato visual com ela conforme penso na resposta.
Infelizmente, me vejo ao mesmo tempo rodeada por lembranças antigas que surgem à superfície.
Já conheci uma garota como Katherine.
E fiz ela se arrepender de cada coisa que tinha dito para mim.
Uma pena que já não sou mais aquela Lara.
— Somos amigos — eu consigo dizer, a voz tão calma que até me impressiono. Permaneço segurando firme na alça da mochila, como se de alguma forma isso aumentasse minha segurança.
— Amigos? — Ela troca o peso do corpo, parecendo mais curiosa do que qualquer outra coisa.
Me forço a confirmar com a cabeça, e por algum motivo sinto um aperto no peito por estar dizendo isso.
— Pensei que fossem algo a mais — comenta Katherine, os olhos brilhando ao me analisar. — Sabe, pelo rolê do parque e tudo.
— Por quê? — eu indago, aumentando meu tom de voz e dando um passo em sua direção. — Você tem alguma coisa com ele?
Meu coração começa a bater mais rápido pela atitude que tive, algo que com certeza não faço há muito tempo. Como tive coragem de falar isso? De enfrentá-la dessa forma?
Talvez a minha outra versão não esteja tão escondida quanto eu pensava.
Ou, talvez, Logan esteja mesmo me motivando a fazer algo.
Katherine nega com a cabeça, soltando uma risada baixa.
— Não, nós não temos. Ainda não.
— Ainda? — eu repito, arqueando as sobrancelhas.
— Sim, ainda. Que parte você não entendeu?
Abro a boca pra dizer alguma coisa, mas fecho novamente de tanta surpresa por suas palavras. Ou por sua grosseria, sendo mais específica.
E lá vai novamente... a insegurança volta com tanta intensidade que quase saio mesmo correndo dali.
— Eu não sei — murmuro, desviando o olhar para o chão. — Só é.... estranho.
— É, também é estranho ele começar a andar com você do nada. Demorei até a perceber que estudava nesta escola.
Levanto a cabeça novamente, agora curiosa conforme a observo. Katherine engole em seco, seu olhar oscilando tanto que ela não consegue encarar um ponto fixo. Parece.... parece desesperada para me atingir.
Qual é a dessa garota? Pois eu sinceramente não consigo a entender.
— Bom, existem muitos estudantes nesta escola — eu digo baixinho, já me preparando para dar as costas a ela. — É praticamente impossível que você conheça o rosto de todos.
Porém, sinto as unhas dela cravarem em meu braço assim que eu começo a me virar.
— M-me solta — digo rapidamente, tentando me desvencilhar, mas os lábios de Katherine se apertam com força, os olhos semi-cerrados para mim. — O que você quer?
— Quero saber o que você faz — dispara, e posso jurar que sua voz parece trêmula. — Vai, me diz. Agora.
Franzo a testa, sem saber se rio ou se choro com esta situação. Ela está se referindo a quê exatamente? Ao Logan? Porque nem eu sei a resposta para isso.
— Você tá me machucando — eu grunho, puxando meu braço em vão, conforme sinto o toque dela me apertar. Já até enxergo as marcas aparecendo na pele.
— Vai, fala! — Katherine aumenta seu tom, e está praticamente gritando agora. — O que você faz?
— Ei, Kat! — Ouço uma voz de repreensão ecoar quase no mesmo momento, e observo uma garota se aproximar de nós. Me lembro dela quase que instantaneamente, em especial pelo cabelo louro. É Vanessa, a garota que acompanhava a louca no banheiro aquele dia.
Katherine solta meu braço, desviando o olhar para o chão, como se estivesse se sentindo culpada. Ela cruza os braços.
— O que você tá fazendo? — exclama Vanessa, encarando a amiga de um jeito irritado. — Hein?
Esfrego meu braço, tentando aliviar a dor, e penso por um momento se eu deveria continuar aqui ou aproveitar para sair correndo.
— Nada — murmura Katherine com firmeza. — Tá tudo bem.
Vanessa então move seu olhar para mim, parecendo curiosa e talvez até um pouco preocupada. Ela não carrega nenhuma mochila, assim como Katherine, o que me deixa um pouco intrigada. Como essas garotas caminham por aí assim? Será que deixam os livros no armário o tempo todo?
— Tem certeza? — insiste Vanessa, o que faz a amiga bufar.
— Tanto faz — resmunga ela, lançando mais um olhar de desprezo em minha direção antes de virar e marchar para fora.
Vanessa a segue, não sem antes dar uma viradinha para mim e dizer um "desculpa qualquer coisa", apressado e baixinho. Eu apenas assinto, observando as duas sumirem para fora.
Estranho. Muito estranho. Será que entrei dentro de um filme clichê e não notei? Dou risada com o pensamento, me arrastando até o armário novamente para pegar os livros da próxima aula.
Pois a primeira eu claramente já perdi.
[....]