Armada com meu scarpin, decido ir para cima do Fred com tudo, vou fazer um estrago na cara dele, bom essa foi apenas a primeira reação que tive, porém algo me impediu de prosseguir com meu ataque, ou melhor, uma pessoa. A segunda reação: Gritar. Acabo de ter meu corpo completamente imobilizado por duas mãos grandes e quentes, me arrastando para longe contra minha vontade, tirando-me a oportunidade de espancar aqueles dois até a morte.
Todos os meus gritos foram perfeitamente abafados, minha boca vedada por uma mão tatuada. Me admira que este garoto me conduza facilmente pela boate, como se eu fosse uma boneca, sem a mínima chance de escapar, penso em acertá-lo com meu scarpin, quando sou devolvida ao chão. E a mão permanece cobrindo minha boca, dou uma mordida irada
"Você me mordeu sua louca!" Giro para encarar o maníaco que me arrastou, é exatamente quem eu estava pensando: Caio!
"Louca você vai ver agora." Acerto sua cabeça com meu scarpin, me preparo para acertá-lo de novo quando ele pula em cima de mim e caímos ambos no sofá, eu por cima dele, o fato de eu usar um mini vestido e apenas calcinha por debaixo me distrai um tiquinho, ele arranca minha arma e eu tento me levantar, mas sei que se fazer isso exatamente agora, corro o risco de deixar visível mais do que deveria.
"Olha pro lado seu tarado." Ele fica rindo de mim, seu peito se convulsionando faz com que o meu também trema.
"Nada que eu já não tenta visto." Fala desaforadamente, cubro seus olhos com minha mão e saio de cima dele.
"Mas meu fundo não é amostra grátis babaca." Passo a mão na cara agoniada. "Me devolve meu sapato." Estico meu braço na direção dele.
O descarado continua rindo da minha cara, que garoto mais folgado e debochado, eu explodo, surto de verdade, golpeando ele com uma sequência de muros, que não faz nada para se desviar, deixando com que eu tome a iniciativa de parar por conta própria.
"Mais calma?" Faz a pergunta me avaliando dos pés à cabeça. Nada como um vestido justo para atiçar a mente masculina.
"Você é muito brava para o seu tamanho." Caio acaba de me chamar de baixinha! Argh, vontade de socar ele de novo.
Tem como uma coisa dessa ser mais humilhante? Um cara rindo de minha estatura e que sem saber me foi atribuído o árduo trabalho de carregar dois pares de chifres?
Começo bater o pé impaciente, o descalço, lidando com o ódio eminente e vergonha. Observo Caio se curvar na minha direção, com a ponta dos dedos acaricia o dorso do meu pé, por alguma razão meu corpo reage se arrepiando, me equilibro em seus ombros enquanto me calça.
Ficamos nos encarando por alguns segundos, eu nunca reparei antes, mas seus olhos são castanhos claros, cor de âmbar, e ele usa piercing no canto da boca, que coisa mais sexy.
"Você aceita um copo d'água?" Caio observa-me ao se reerguer, mantendo seu olhar no meu rosto.
"Não. Eu quero cachaça." Respondo despudoramente, hoje vou de bebida quente.
"Tequila? Martini? Whisky?" Me oferece algumas opções.
"O que você decidir está bom." Dou uma risada curta, depois encaro a pequena sala particular que estamos, área privada dos funcionários, daqui se enxerga a cozinha.
"Já volto loirinha!" Reviro os olhos em resposta.
Me permito espiar a cozinha daqui mesmo, pessoas se movimentam de um lado para o outro. Caio retira seu avental enquanto sussurra algo no ouvido de uma mulher loira, bem alta e pelo que parece ser a chefe de cozinha, ela ri para ele amigavelmente, depois ele sai do meu campo de visão e a loira continua focada no seu trabalho.
Apesar de todos estarem sob uma pressão típica de cozinha lotada com pedidos para serem entregues, parecem felizes, outros tensos, mas nada disso se compara ao meu estado emocional, um turbilhão de novas emoções se misturam dentro de mim, com cores e efeitos diferentes. O sentimento de rejeição está ficando cada vez mais ameaçador, dói ser traída e trocada.
Se não fosse pelo Caio, nessa altura do campeonato todos estariam me atribuindo um novo apelido, que se espalharia facilmente nos corredores da escola. Nem quero pensar na criatividade que os alunos iriam ter.
Caio retorna para o pequeno cômodo.
"Aqui está! Foi mal a demora, meu expediente terminou e resolvi tirar logo aquele bagulho de mim." Caio me entrega a bebida, ele se decidiu por tequila.
Bebo todo líquido de uma só vez e sinto o álcool passar pela garganta como fogo. Caio tenta segurar o riso, enquanto minha cara se deforma com algumas caretas.
Ele dispara novamente para a cozinha. Aproveito para observá-lo com mais afinco.
Estudamos juntos desde o primeiro ano do ensino médio, e era como se todo esse tempo não dividíssemos a mesma sala. Sua inexistência na maioria das aulas colaboram.
Os cabelos foram o que mais me chamou atenção, sua cabeleira desalinhada o deixa com um ar de "largado", e o desleixo parece acender uma placa luminosa com a palavra "rebeldia" que no final das contas acaba sendo uma boa dose de encrenca. E estou começando a convencer-me que nem toda encrenca é ruim. Seria hipocrisia não afirmar que essas tatuagens e corpo atlético fode com um psicólogo de qualquer garota.
"Se quiser posso te dar uma carona até sua casa." Caio oferece rindo, alguma coisa no comportamento dele é desarmônico com sua aparência, fica rindo o tempo todo, se esforçando para ser legal. Aí tem...
"Não." Respondo de supetão.
Minha resposta o pega desprevenido, findando os risos. Ainda estou me decidindo se ele fica mais lindo animado ou zangado.
"Não quero ir pra casa." Emendo na resposta.
Por algum motivo ele encara a pista de dança.
"Prefere ficar aqui?" É quase palpável sua decepção, os olhos sinistramente semicerrados.
"Não. Eu quero sei lá... Me leva com você, não quero ir para casa." Minha resposta o faz invadir um pouco do meu espaço, eu gelo por dentro, pela proximidade sem toque.
"Que tal um barzinho mais reservado?" Sugere, me fazendo assentir exageradamente.
Não é a primeira vez que tomo uma decisão impensada. Normalmente sou movida por impulso, e minha cota de confusão parece não ter fim. Mas quer saber? Foda-se. Se eu acabar dando pra ele também não será o apocalipse, quero mesmo é vadiar.
"Então vamos de uma vez." Caio me puxa pelo braço, o acompanho me sentindo estranha.
Por sorte saímos pelos fundos.
O clima está ameno, pinheiros margeiam o interior do estacionamento e é possível visualizar vários corpos se mexendo ao ritmo das caixas de som de um carro automotivo. Nesse curto espaço de tempo, sinto-me inquieta, ainda sem acreditar fui feita de trouxa. Tudo poderia ser um sonho ruim, como uma nuvem passageira que surge no céu do nada e posteriormente se dissipa, mas não é, a vida bem que adora pregar peças, e as pessoas então...
Pessoas alegres bebendo, dançando, namorando... E meu "namorado" lá dentro aos beijos com a garota que mais odeio: Laila Millar! A filhinha do diretor.
Caio chama minha atenção. Me resgatando dos pensamentos depreciativos.
Ele me olha como se eu sofresse de algum retardamento, e me entrega um capacete.
Nunca andei numa máquina suicida dessa, o alto índice de mortalidade nessas coisas me faz entrar em pânico. Subo mesmo assim.
"Pode se segurar em mim." Caio dá partida e eu me atraco nele com toda minha força.
Mantenho os olhos fechados durante o atalho para a morte, este garoto só pode ser louco ou tá querendo companhia para ir pro inferno, sem condições, a gente voo literalmente.
Levou aproximadamente quinze minutos até ele parar num estacionamento e desligar essa coisa. O bar parece bom, tranquilo e com música ao vivo, é possível se sentar do lado de fora e apreciar a brisa fresca vindo do parque, um lugar ideal para quem gosta de conversar.
"Você está pálida." Comenta com gozação.
"Se quer se matar, me avisa que eu pego um Uber." Rio do nada, talvez a bebida esteja começando fazer efeito.
Nos sentamos um de frente para o outro, o garçom anota nosso pedido e sai.
"Sabe ele era meu amigo. Acho que o único que tive até hoje." Começo falar, e percebo o peso que existe em cada palavra.
"Quem o garçom?" Caio pergunta se virando na direção do estabelecimento e encarando a fachada.
"Não. O cachorro do Fred." Respondo impaciente, só agora me dando conta da ambiguidade.
"Sei como é." Responde desinteressado e olhando alguma coisa no celular.
"Não. Você não sabe. O que você sabe perfeitamente é matar aula." Que garoto mais ensosso.
"Eu não mato aula." Rebate rindo em um tom mais elevado. "Ela que me mata."
O garçom chega com as bebidas e percebo os olhos escuros de Caio sondando meu rosto. Tudo bem! Admito que ele é um pedaço de mau caminho, mas o Fred é mais bonito.
"Você deve ser o orgulho dos seus pais." Disparo, querendo ser tão insensível quanto ele foi comigo.
"Bem por aí." Concorda sombriamente. "Você sabe... Do mesmo jeito que você deve ter orgulho de sua 'amizade' com seu adorável namorado." Ele ainda faz sinal de aspas para enfatizar.
"Seu grosso." Engulo a bebida subitamente, quase me engasgando.
"Rapa até que enfim um elogio." Dá risada, depois bebe a própria bebida. "Hum, Alice eu preciso de uma mãozinha sua. Só você pode me salvar." O desespero é tangível em seus olhos.
"Salvar? De quem?" O pavor inunda minhas emoções.
"Do meu pai." Diz angustiado e com sua mão agarrada na minha.
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Obrigada por cada voto e comentário!💓😗 Tô chocada pela minha escrita de uns anos atrás kkkk tá dando um trabalhão reescrever tudo, pelo menos estou ciente q avancei em muita coisa.😂😂 Até mais!!!