Ruan narrando:
Acordei com o canto do galo, era bem cedo, ainda amanhecia, deixei o meu rancho e fui até a casa de Isabelle, eu ia dar um jeito de entrar. Com certeza o mordomo estava dormindo e só tinha um jeito, eu ia ter que subir pelas janelas até o quarto dela, nunca mais eu tinha feito isso. Então pulei dois muros até cair no quintal da casa dela. Vi que a porta estava aberta, o mordomo dormia em um quarto bem próximo do portão, já pro caso de alguém entrar. De ponta de pé eu adentrei, fui sorrateiro, quando cheguei as escadas lembrei de onde era o quarto dela:
— Sobe as escadas e dobre no corredor da esquerda, vá para a primeira porta, lá é o quarto dela. - Subi as escadas e vi que alguém abriu uma porta e ligeiramente me escondi por trás de um pilar. Acho que foi a irmã dela, porque a sombra era pequena. Ela não me viu, apenas foi pra um outro quarto e aquele não era o quarto de Isabelle. Continuei escondido até que o silêncio se prolongou e eu decidi ir até a porta do quarto dela.
Cheguei bem em frente a porta do quarto dela e tentei abrir a porta, por sorte, a ninfeta dormia com a porta do quarto aberta. Abri bem devagar e adentrei fechando a porta com a chave é claro. Ela dormia pronfundamente:
— Você é gostosa até dormindo. - Disse baixinho e vi ela se virar. Deitei ao seu lado de forma que não encostasse. - Que cama confortável. - Era muito confortável. - Então ela abriu os olhos e quando me viu, abriu bem os olhos - é, sou eu, não é sonho.
— Ruan? O que está fazendo aqui? Como você veio parar bem aqui? - Perguntou com um olhar confuso.
— Eu queria te ver e vim. - Ela me se sentou na cama e eu continuei deitado.
— Você entrou correndo risco, se minha mãe sonhar que você entrou aqui, ela vai ter um ataque nervoso. - Disse e eu ri.
— Sua mãe é muito ambiciosa, o funeral tem que ser um luxo, não é? - Falei com irônia.
— Ruan, pelo menos dessa vez seja direto. - Eu toquei seu braço.
— Garota, eu quero você! - Ela me olhou.
— Agora? Decidiu que quer ficar comigo, agora?
— Eu decidi a muito tempo, mas pensei em te deixar ser feliz e se realizar socialmente, só que mudei de opinião e vim atrás de você pra te pedir que fique e seja feliz comigo. - Ela ficou em silêncio por alguns segundos. - Você não vai embora!
— Falta um dia. - Disse me olhando.
— Eu tenho um lugar pra te levar.
— Um lugar? Aonde?
— É uma surpresa. Se me amar você vai ficar aqui. - Levantei da cama dela e ela também se levantou, se aproximando de mim.
— Preciso de você. - Ela me abraçou e eu a apertei.
— Você não vai, eu quero você aqui. - Disse em seu ouvido e ela me apertou.
— Ruan... Eu tenho tudo marcado, vou ter que cancelar... Eu mereço muito amor. - Disse sorrindo e eu a olhei.
— Vou te dar até você pedir pra parar. Cancela, hoje a tarde eu vou te levar ao nosso lugar. - Ela sorriu.
— Nosso lugar? Na casa velha?
— Eu disse que era surpresa, não foi? - Ela me olhou.
— Ta, a tarde, que horas? - Perguntou.
— As três eu passo aqui, então eu já vou, tenho que concluir a surpresa. - Ela sorriu.
— Eu vou te levar até a porta, pro caso de alguém acordar. - Eu toquei o rosto dela.
— Me leva. - Ela pegou na minha mão e quando desciamos as escadas eu a beijei, inesperadamente claro, foi um beijo cheio de saudade e de vontade. Ouvimos uma porta abrir.
— Se esconde, se esconde! - Eu desci correndo e procurei um lugar pra me esconder.
Isabelle narrando:
— Também está sem sono? - Perguntou Anne e neste momento eu abri um sorriso, ainda bem que não era minha mãe.
— Eu? Também! Também! Anne, ainda é muito cedo. - Disse a olhando.
— Eu não tenho sono, dormi um pouco e não dormi mais... - Ela desceu as escadas se sentando no ultimo degrau, Ruan estava a dois passos dela.
— Anne, gatinha. Vamos na cozinha e eu te faço um chocolate quente. - Disse descendo e Ruan saiu de onde estava. - Ruan... Por que saiu?
— Porque ela é sua irmãzinha, não vai contar nada, não é? - Perguntou olhando pra Anne, e ela sorriu.
— Uau, o motoqueiro está aqui. O que ele faz aqui, Isabelle? - Eu olhei pra ele.
— Explica, motoqueiro! - Disse e ele riu.
— Vim pedir pra que Isabelle fique com a gente, você sabe né? Ela quer ir embora e isso não tá certo. - Disse ele enrolando ela, e ela sorriu.
— Eu também não quero que ela vá. - Disse Anne.
— Ela me disse que não ia, agora ela vai ter que cumprir a palavra dela e ficar. - Eu olhei pra Anne, ela estava com os olhinhos brilhando.
— É gatinha, eu vou ficar. - Ela abriu um sorriso.
— Aaaaah, que bom. - Disse Anne e Ruan me olhou.
— Agora vai, antes que minha mãe acorde, nos vemos na hora combinada. - Ele saiu e eu sentei ao lado da Anne.
— Que bonitão ele né? - Disse ela e eu ri.
— O Ruan é. Anne, eu quero muito que você me dê todo seu apoio. Eu sei que você gosta de Ruan e quer que eu fique com ele, eu sei disso. - Disse a olhando.
— O que eu devo fazer? Só te dar apoio... - Eu afirmei que sim. - Ta. Vamos tomar chocolate quente.
— Vamos. - Saimos em direção a cozinha.
Ruan narrando:
Enfrentei o que eu mais temia, que ela não ficasse, que ela dissesse que não, mas ela gosta de mim, eu deveria ter tido mais confiança disso. Bom, Pietrinho dançou né? Lamento! Ha, ganhei do riquinho metido a besta. E pra comemorar, eu vou tomar umas doses com Marechal, meu sogro. Então, fui vê-lo no café:
— Senta ai, e me trás o whisky mais forte que tiver. - Ele me olhou.
— Tão cedo aqui? - Perguntou colocando whisky em dois copos.
— Tenho que ficar de boa, eu convenci Isabelle a ficar e ela decidiu não ir mais pro exterior. Diga ai, tem novidade melhor? - Ele riu.
— Menino, eu confio nessa sua marra. Ela ia pra Miami, com vontade de ficar. - Eu fiquei bem sério.
— Valeu por tudo. - Disse e ele me olhou sério.
— Não por isso.
Isabelle narrando:
Eu tinha em mim sentimentos diversos, era alegria misturada por confusão, de uma coisa eu tinha certeza, eu não vou deixar Ruan, não vou! Depois que ele foi embora eu e Anne tomamos um chocolate quente e não conseguimos dormir mais, então ficamos conversando e brincando, então eram 9 h e eu precisava falar a Pietro o que aconteceu, e que eu não vou mais com ele, ia ser sincera. Então fui a casa dele, ele estava tomando sol no jardim, na cadeira de rodas:
— Oi Pietro, como você ta? - Perguntei e ele me olhou meio triste.
— Assim, desse jeito... E você? - O olhei.
— Estou bem, olha eu tenho que te contar uma coisa. Uma coisa bem séria, uma decisão que eu tomei. - Ele me olhou.
— Decisão? Que decisão? - O olhei sentando perto dele.
— Eu vou ficar aqui. Não vou pra Miami. - Ele me olhou odioso.
— Então fica, Isabelle. Eu já fiz de tudo pra que você entendesse que eu te quero do meu lado, mas você.. - O olhei interrompendo.
— Você mesmo já me falou que quer o melhor pra mim, eu sinto que o melhor é ficar! Numa boa! - Ele tentou levantar, mas o esforço era perdido.
— Isabelle! - Disse me olhando.
— Fala. - Ele tocou minha mão.
— Vai ficar por Ruan? - Fui sincera.
— Sim, por ele. - Ele soltou minha mão.
— Eu não sei como você se interessou por alguém como ele, Isabelle. Não te entendo. - Disse e eu sentei perto dele.
— Pietro não tem isso, eu gosto dele e ponto final, não existe isso. Ruan é tudo que qualquer menina sonha. - Ele riu do que eu disse.
— Do jeito que a carruagem vai, você e ele vão os dois presos por roubar pra sobreviver. - O que? O que esse moleque disse?
— Não tente ser irônico, isso não funciona com você! Eu prefiro roubar pra sobreviver com Ruan, do que estar com alguém que pode me dar tudo, menos calor e amor. - Ele se sentiu ofendido, então me olhou de lado.
— Eu não vou me importar, eu já me comprometi demais ficando aqui, não vê? Agora eu sou um inválido. - Retrucou.
— Pietro as coisas acontecem e nós não podemos lutar contra o que é pra acontecer, vê se indo pra Miami você se toca de que ser um riquinho mesquinho não vai te levar a nada. E sabe o que eu acho, que realmente você tem que sair daqui, esse lugar não é pra meninos bobinhos. - Disse e ele me olhou novamente.
— Fica e aproveita. Quando se arrepender, eu não vou estar mais aqui. - Disse me olhando nos olhos e eu levantei.
— Nunca vou me arrepender, estou fazendo o que eu queria fazer. - Eu ia deixando o jardim e me direcionando pra sair.
— Não posso acreditar que aquele morto de fome a conseguiu. - Disse aos sussurros.