LOGAN
— Ei, passa pra cá! — eu exclamo, apontando para a travessa de fritas que Katherine mantém em suas mãos.
— Não, não, não! — responde ela, já meio bêbada, conforme fecha os olhos e balança a cabeça várias e várias vezes.
Lara ri ao meu lado, observando sua nova amiga (sim, ainda não me acostumei com isso) enfiar um monte de batatinhas na boca enquanto toma conta da travessa que nós pedimos. Inacreditável.
— Essa garota quer apanhar, não é possível! — berra Melissa, sentada tão longe na mesa que por um instante eu até esqueço que ela está ali. Todo mundo ri de sua reação, enquanto Alex, sentado ao lado de Katherine, tenta recuperar nossas fritas das mãos do inimigo.
Todo mundo fala, ri e grita ao mesmo tempo. É uma confusão de ruídos, sendo a primeira vez que me sinto tão feliz por estar cercado por professores e colegas de sala.
Estamos comemorando o fim das aulas. O restaurante é todo iluminado por velas, com um clima rústico devido às mesas de madeira. A escola alugou o espaço hoje apenas para os veteranos. Como o último ano é grande demais, todas as enormes mesas do restaurante acabaram sendo usadas, cada uma espalhada em um canto do lugar. Charlie e Melissa foram os primeiros a chegar, e por isso conseguimos um lugar tão facilmente. É divertido saber que estamos todos juntos hoje, comemorando nossa passagem para o mundo adulto.
Mas a melhor coisa disso está sentada ao meu lado. Rindo e tomando um gole de suco. Seu rosto está até meio vermelho de tanto que ela já deu risada. É claro que mal conseguimos conversar direito devido à barulheira, mas eu não posso dizer que não estou gostando... até porque, toda vez que Lara quer falar comigo, ela precisa se inclinar sobre mim pra que eu possa escutar. E vamos dizer que isso é uma experiência um tanto satisfatória.
Entretanto, tenho que admitir que, quanto mais os dias passam, mais difícil é manter o controle. Continuo obviamente respeitando o espaço da Lara, pois temos que ter em vista que sua saúde mental precisa ter total atenção. Mas já estamos juntos há dois meses. E, caramba, estamos falando de Lara Becker. Qualquer coisa que essa garota faz me deixa louco.
Muitas vezes tenho que me afastar um pouco dela pra acabar não fazendo besteira. E quando digo besteira, digo deixar que a parte debaixo assuma o controle. O que com certeza não é algo lá muito inteligente de se fazer.
Volto minha atenção para o presente quando sinto algumas batatas serem jogadas na minha cara. Olho na hora para Katherine, que está competindo com Alex pelo controle das fritas. Não sei se dou risada ou se reclamo pelo desperdício de batatas. Fala sério. Não dou um mês para esses dois começarem a namorar. Agora que Carter foi jogar volêi na Flórida (um olheiro o recrutou na última semana de aula) sinto que Katherine pode finalmente parar de se culpar pelo que rolou entre os três. Mesmo que só tenha visto sobre isso na televisão, imagino que triângulos amorosos sejam bem complicados. E, também, Carter já estava há um tempo precisando respirar novos ares.
Preciso confessar que fiquei bem aliviado com isso. Ainda tenho medo do meu querido amigo querer se meter no meu relacionamento de novo. Carter pode ser importante na minha vida e uma pessoa inofensiva, mas é fato que ele consegue ser chato pra caramba quando quer.
Além do mais, quero aproveitar cada segundo com Lara e com meus amigos antes de partimos.
— Acho melhor pedirmos outra porção — sussurra Lara no meu ouvido, enganchando o braço no meu enquanto observa Katherine e Alex. Sigo seu olhar, rindo com ela.
— É melhor mesmo. Essa infelizmente já foi tomada pelo inimigo.
Fico chocado quando, em seguida, a própria Lara toma a atitude de chamar pelo garçom. Ela parece tão confortável e bem quando pede outras duas porções que eu só fico observando, admirado.
Assim que o garçom se afasta, eu a puxo para mim.
— Tô muito orgulhoso de você... — murmuro para ela, beijando seu rosto. — Muito, muito orgulhoso...
— Ei, ei, ei! — ouço Charlie gritar, numa voz meio grogue (o que é raro, pois ele raramente fica bêbado) antes de atirarem uma bolinha de papel usado na gente. — Se soltem os pombinhos e prestem atenção aqui!
Eu e Lara olhamos para ele, mas permaneço com os braços em volta de sua cintura para mantê-la comigo.
— Olhem aqui! Todo mundo! — Charlie grita conforme se levanta, apontando sua taça de cerveja para o alto. Ele consegue chamar a atenção das outras mesas também, pois noto alguns se virando para olhar. — Quero propor um brinde ao fim do ensino médio!
Todo mundo começa a gritar, levantando suas bebidas para o alto. Eu e Lara fazemos o mesmo, nos unindo ao pessoal.
É incrível a energia que posso sentir no ambiente agora. Como se nada mais existisse. Nenhuma desavença, nenhuma preocupação com notas ou faculdade. Apenas estudantes, que dividiram anos da vida juntos, e que agora se separariam rumo a uma nova etapa da vida. Todos no mesmo barco. Passando pela mesma coisa. E podendo ter a honra de compartilharmos juntos dessa vitória.
Alguém aumenta a música do restaurante, que por uma grande coincidência é We Are Young. A batida reverbera pelo ar, e todos começamos a cantar juntos enquanto berramos um com os outros. É uma emoção fora do normal ver mais de cem adolescentes cantando juntos. Acho que nunca me senti tão melancólico e feliz quanto agora.
Aproveito até para observar Charlie e Melissa no canto da mesa, Mel com os olhos cheios de lágrimas enquanto acena para cima ao ritmo da música. Em seguida lanço uma olhada para Alex e Katherine, sentados em nossa frente e rindo juntos. Vejo até Evan e Cameron abraçados enquanto cantam, de um jeito que indica que há algo a mais ali que eles estão mantendo escondido de nós. Então observo Mason, cercado pela sua trupe de atletas e parecendo bem imerso enquanto canta. É emocionante ver todos os meus amigos aqui, os professores, até a galera que eu via pelos corredores e nas festas. Todos juntos. Todos se despedindo da adolescência. Curtindo esse momento do qual eu nunca quero me esquecer.
Então, por fim, olho para Lara. A minha Lara. Minha namorada. Jogando as mãos para o alto e cantando concentrada com os olhos fechados.
E eu aproveito para me juntar a ela.
Porque, nesta noite, nós somos jovens.
[....]
— Eu nunca pensei que fosse me sentir tão feliz com a galera da escola — comenta Lara, rindo sozinha ao se jogar no banco do carro. — Fiquei até triste de sentir o clima de despedida. Imagina. Eu triste por me despedir da escola. A Lara de antes nunca acreditaria.
Abro um sorriso conforme coloco o cinto de segurança, as luzes dos postes iluminando a estrada escura. Ainda consigo ouvir meus amigos berrando lá fora. Devem estar se despedindo outra vez.
— Pois é. Até eu fiquei meio mal. Vou forçar o Charlie a vir me visitar pelo menos uma vez por mês. Não quero perder o contato com aquele idiota...
Lara vira a cabeça para mim, ainda relaxada sobre o banco.
— Você acredita que a Katherine vai tirar um ano sabático também? Ela me disse que pretende viajar enquanto descobre o que quer fazer da vida. Eu acho uma ótima ideia, na verdade. Essa coisa da gente ter que entrar imediatamente na faculdade só serve pra fazer a galera escolher as coisas sob pressão. Nós não devíamos ter que carregar esse peso com dezoito anos.
Assinto com firmeza, ao mesmo tempo em que coloco a chave na ignição e me preparo para partir.
— Verdade. Eu mesmo não tenho certeza nenhuma sobre o que vou fazer. Já até mencionei o assunto com a minha mãe. Charlie tá determinado em ir na área de economia, mas eu não me sinto certo. — Apoio as mãos no volante, encarando a rua solitária por alguns segundos conforme entro em uma reflexão esquisita. — Nem um pouco certo, na verdade.
Lara fica um tempo em silêncio, e, quando olho para ela, vejo que ela abaixou a cabeça e começou a brincar com o tecido do vestido.
— Eu conversei com a Dra. Ross e ela me disse que eu passei por coisas difíceis nesses últimos anos, e que por isso seria bom eu tirar um tempo pra pensar antes de entrar na faculdade. Poder focar nisso agora, já que passei o ano todo focada e... afundada em outras coisas. — Ela faz uma pausa um tanto significativa, e então ergue a cabeça para mim. — Por isso decidi que vou tirar esse ano pra mim. Eu queria... sei lá, fazer um mochilão pela Europa ou algo assim. Acho que viajar sozinha pode ser bom pra que eu foque nessa independência que eu quero conquistar. E a Dra. Ross concorda. Pode ser um momento bom pra eu pensar e refletir. Deixar as coisas negativas que eu consumia pra trás e poder pensar com calma no futuro.
Fico quieto, e por um momento até me esqueço de dirigir. Só consigo olhar para ela. Hoje, especificamente, Lara caprichou demais. Eu tenho notado como nos últimos meses ela tem cuidado mais de si mesma. É perceptível até na forma como ela se veste e anda. Não tem mais aquele visual cabisbaixo e relaxado de antes. Agora ela parece se importar mais consigo mesma. Sem se esconder debaixo daqueles moletons compridos e tendo coragem de usar as roupas que quer.
Quando a peguei em casa mais cedo e mesmo agora, vendo-a maquiada, usando esse vestido roxo e com leves brilhos espalhados pelo cabelo, eu percebo o quanto sua mudança está irradiando de dentro pra fora. Eu só consigo sentir muito, muito orgulho dessa menina. Especialmente por ela ter me deixado fazer parte disso.
Mas a ideia de ficar um ano longe dela... não me soa muito boa.
— É... sério? Você quer viajar sozinha, então?
Ela faz que sim.
— Uhum. Acho que é a oportunidade perfeita pra eu alcançar o que eu quero. E talvez... — Ela morde os lábios antes de continuar, lançando-me um olhar que eu já sei bem reconhecer. — E talvez você pudesse passar um tempo comigo em algum lugar antes de ir pra faculdade. Podíamos ficar... sei lá, uns dois ou três meses juntos. Viajamos por um tempo e aí você voltava pra casa.
Ela fica meio agitada quando termina de falar, esticando os braços e esperando com ansiedade pela minha resposta.
— E então, o que você acha?
Fico quieto, olhando para frente outra vez enquanto finjo pensar. Faço a expressão mais séria possível, e, quando finalmente olho para Lara de novo, quase não resisto ao ímpeto de beijá-la e tirar essa expressão nervosa de seu rosto.
Quando não aguento mais manter o personagem, acabo dizendo enquanto ergo as sobrancelhas:
— Precisa mesmo ser só durante três meses?
Eu esperava que ela ficasse brava e começasse a discutir sobre a terapia dela, a independência e tudo aquilo, mas em vez disso o que Lara faz é pular em meu pescoço. Fico tão surpreso que demoro um pouco para raciocionar. Mas então me dou conta do quão bom é tê-la junto comigo, e aproveito do momento para colocar meus braços ao redor de seu corpo e abraçá-la com força, inspirando o cheiro gostoso de seu cabelo. Lara parece gostar disso, pois solta um grunhido baixo e se aninha mais contra o meu corpo, de forma que causa um calor imediato por mim.
A partir daí, as coisas ficam meio difusas. O convite dela e a minha resposta um tanto impulsiva parecem ficar no passado, pois tudo em que consigo focar agora é em seu corpo colado ao meu. Meu cérebro logo avisa sobre o perigo deste momento. Se afaste logo antes que seja tarde. Antes que você não consiga mais se controlar.
Bom... mas infelizmente, tudo o que o perigo fez é deixar as coisas mais divertidas...
Então eu não me afasto. E é tão fácil, tão bom... que tudo o que faço é abraçá-la mais. Lara passa os braços ao redor da minha cintura, me arrepiando. Então ela começa a se afastar, e eu a seguro antes que ela possa continuar.
— Não se afasta, não... — sussurro contra o seu ouvido. — Fica aqui.
Mas ela se mexe de novo, e, quando olho em seus olhos, vejo a timidez brilhar naquelas íris castanhas tão lindas.
— Acho... melhor você me levar pra casa. Minha mãe pode ficar preocupada se eu demorar muito.
Ela fala isso sussurrando, o que torna tudo ainda pior. No entanto, tento não pensar na pulsação ecoando pelo meu corpo, no calor que me atinge ou em seus lábios lindos quando eu enfim me afasto.
— Tá. Tudo bem.
Minha voz quase não sai, e fico parecendo um idiota enquanto tento me recuperar e pegar no volante. Por sorte Lara não fala mais nada, então eu foco na direção e apenas nisso pelos próximos minutos.
Sinto-me até aliviado quando chegamos e sua mãe não está em casa. Por algum motivo eu ia me sentir mal se a visse agora. Estou tão envergonhado que planejo correr o mais rápido possível assim que a deixar em casa, mas, quando paramos em frente à sua porta, Lara se vira rapidamente para mim.
— Você... quer entrar?
E, simples assim, todo o meu plano desaparece como em uma onda de fumaça quando Lara me faz essa pergunta. Mesmo sabendo que é um erro, um grande erro, eu não consigo recusar. Eu nem ao menos quero recusar.
Mesmo que eu saiba que é um erro, um grande erro, é óbvio que eu assinto.
Lara abre um sorriso e me puxa com ansiedade para dentro.
Oh, céus. Vou precisar de forças.
Ela parece bem animada conforme me leva até o seu quarto, a casa já um pouco escura com a chegada da noite. Assim que chegamos, Lara é rápida em sentar-se na borda da cama e soltar um suspiro longo conforme encara o nada.
— É engraçado pensar que em breve nós nunca mais vamos voltar pra escola. Meio... doido.
Deixo que essa reflexão me invada também conforme caminho até ela, me juntando à Lara quando me sento ao seu lado na cama.
— Pois é. A gente passa a vida toda indo pra lá pra depois sermos jogados no mundo. É até meio assustador.
Lara olha para mim, parecendo intrigada, conforme a sombra de um sorriso se apossa do seu rosto. Gosto de vê-la me encarar desse jeito. Faz com que eu sinta aquele formigamento gostoso pelo corpo. Uma sensação da qual eu não me acostumo. Saber que Lara Becker me encara desse jeito.
— É impressão minha ou o dono Logan tá ficando filosófico também?
Dou de ombros, me aproximando dela ao me arrastar pelo colchão para mais perto.
— Ah, sabe como é... uma certa garota andou me influenciando. Daqui a pouco meus pais vão me proibir de andar com você. Vai que eu acabo fazendo alguma loucura como me tornar professor de filosofia ou algo assim.
Ela solta uma risada tão gostosa quando me empurra que eu sinto isso aquecer o meu peito. Sem querer, me vejo sorrindo também. Nunca acreditei muito quando as pessoas diziam que energias podem ser transmitidas de um corpo para o outro, mas acho que agora eu acredito. Porque é como se eu sentisse a alegria de Lara me atingindo também. Como se meu corpo pudesse relaxar por saber que ela está bem.
E não existe sensação mais comfortante do que essa.
— Não, mas agora é sério. — Lara se ajeita de novo na cama, virando-se mais para mim e fechando seu sorriso quando me olha intensamente. — Você não precisa viajar comigo se não quiser, Logan. Não quero atrapalhar seus planos nem nada.
— Não se preocupa, linda. Você sabe que eu tô meio perdido pra começar a faculdade agora também — eu digo baixo, me virando mais para pegar em suas mãos. — Vai ser divertido viajar com você. Já ouvi muita gente dizer que isso é uma experiência bem daora pra quem quer ser mais independente e tal. Tenho certeza que vai funcionar.
Ela assente.
— Sim... eu ouvi falar mesmo. Mas fico meio nervosa de começar... principalmente por ser algo novo pra mim. — Lara faz uma pausa, abrindo um sorriso cúmplice quando me ergue o olhar. — Mas aposto que ir com você vai tirar essa minha ansiedade inicial. E vai me ajudar bastante também.
A simples menção dela faz com que eu comece a nos imaginar viajando, rindo juntos sobre alguma cabana de acampamento e experimentando comidas novas... o que faz com que uma felicidade borbulhante cresça em meu peito, de forma que me surge uma ideia um tanto travessa; então me inclino sobre Lara e sussurro em seu ouvido:
— Sabe o que também pode ajudar bastante? Ganhar alguns beijos...
Começo a beijá-la carinhosamente para provar o meu ponto de vista, começando pela bochecha e depois indo para o queixo, o pescoço... entretanto, assim que sinto a pele de Lara se arrepiar com os meus toques e ela soltar um murmúrio baixinho, o carinho é repentinamente substituído por algo mais forte. De uma hora para outra, meu corpo esquenta, e passo a visualizar a nossa proximidade de modo diferente. Não posso controlar quando meu sangue ferve de adrenalina pela simples possibilidade do que pode acontecer.
Como foi nos últimos meses, preciso engolir em seco e usar de toda a força que encontro para me afastar lentamente dela, limpando a garganta enquanto me arrasto pela cama. O sorriso de Lara some, mas vejo que seu olhar permanece em minha boca. E, aos poucos, começa a descer pelo meu corpo, com uma expressão tão concentrada que meu coração se acelera. Eu penso que não pode piorar, que as coisas não podem ficar mais descontroladas do que isso, mas Lara me prova de imediato que estou errado quando a vejo apertar as mãos com força contra os joelhos, como se estivesse ficando... necessitada? Por minha causa?
Um sorriso pequeno surge em meu rosto. Balanço a cabeça em negação, mordendo os lábios.
— É melhor você parar com isso, Lara Becker — eu acuso num murmúrio. — É muita maldade comigo.
Ela respira fundo, com tanta força que noto seu peito subindo e descendo. Seus olhos parecem pegar fogo ao se fixarem em uma parte abaixo de mim, uma que inevitavelmente encontra-se dando sinal de vida. Ao me dar conta disso, o calor piora, e sinto tanta empolgação e descontrole que sei que posso pular em cima dela a absolutamente qualquer segundo a partir de agora.
Sei que devo estar com uma expressão obcecada e doentia, já que não consigo parar de arregalar os olhos para ela, mas por algum motivo bizarro Lara não parece incomodada e nem sequer envergonhada com a situação. Na verdade, ela parece bem determinada em continuar me olhando. E quanto mais ela faz isso, mais eu sinto aquela parte de mim ficar empolgada. Céus. Estamos entrando em um terreno muito perigoso por aqui...
— Eu... — Limpo a garganta de novo, me sentindo como aqueles casais evangélicos que precisam se afastar o tempo todo um do outro pra não cair no pecado. E olha que o pecado está bem perto de mim neste momento. — Eu acho melhor eu ir.
Estou prestes a me levantar, obviamente pensando nas palavras de Lara alguns meses atrás (quando tornamos tudo oficial e ela me disse que ainda não estava pronta), mas ela agarra meu braço com força, me impedindo de levantar da cama. Eu não demonstro, é claro, mas o gesto me deixa tão feliz que eu poderia prensá-la contra o colchão agora mesmo.
— Não — Lara diz baixinho. — Fica.
Permaneço quieto por alguns segundos, pensando em quanto tempo eu aguentaria ficar aqui sem que as coisas saíssem do controle. Talvez uns dois minutos.
— Lara, é melhor que...
— Não, Logan — ela me interrompe, balançando a cabeça. — Não precisa. Eu... eu cansei de esperar.
Fico estático por um momento.
— Como é?
Ela fecha os olhos, repetindo com ênfase:
— Eu cansei. Eu.. eu tô pronta. E eu quero muito que seja com você.
Levo uns segundos pra compreender o que exatamente ela quer dizer, mas, antes que eu consiga, Lara se aproxima agitadamente, soltando um suspiro exagerado quando cruza as pernas em minha frente.
— Eu sempre me sinto segura quando tô com você. E acho que foi por isso que deu tão certo. Eu até entendo que eu precisava desse tempo pra me reconectar comigo mesma, mas agora eu percebo que te conheci no momento certo, sim. Se fosse qualquer outra pessoa que tivesse me convidado pra ir em um parque de diversões, eu não teria aceitado. — Ela ri pelo nariz, claramente perdida em lembranças. Sorrio junto dela, me lembrando daquele dia perfeito. — Mas, sei lá, você fazia eu me sentir segura. O que era um milagre, porque eu recusava absolutamente toda oportunidade que tinha de me enturmar. É como se, no fundo, eu sempre soubesse que era mesmo você. Como se algo dentro de mim sentisse que eu podia confiar. — Ela ergue os olhos, me abrindo um sorriso torto. — A intuição sempre nos avisa.
Por uns segundos, só consigo olhar para ela, encantado. Naquela época eu estava tão empolgado e ansioso por ter Lara comigo que realmente cheguei a me perguntar algumas vezes do porquê ela ter aceitado meus convites assim tão facilmente. Tudo bem, não tão facilmente, mas tinha aceitado, o que já era uma grande coisa pra ela. Mas nunca na vida eu iria imaginar que sua resposta seria essa. Porque ela confia em mim.
— Tem... certeza disso? — Eu pergunto seriamente, arqueando a testa com um sorriso brincalhão. — Porque uma vez que você disser, não vai ter como voltar atrás....
Ela abaixa a cabeça outra vez, sorrindo um pouco, o que eu percebo com dificuldade pela falta de iluminação.
— Tenho. E acho que nunca tive tanta certeza de algo na vida.
A resposta dela me deixa tão nervoso e empolgado que sinto meu corpo esquentar. Um formigamento estranho se apossa da minha pele só de imaginar o que pode acontecer agora. Sei que já repeti isso milhares de vezes desde que me aproximei dela, mas ainda não acredito que estou diante de Lara Becker neste instante, a garota que pensei que nunca passaria de alguém que eu só observava de longe. E que nós dois estamos aqui, juntos, prestes a dar um passo que vai mudar as coisas entre nós.
Mas, que se dane. Tô pouco me importando com a mudança agora. Tudo com o que me importo é com o que estou sentindo, com o que sinto quando estou com ela.
Eu quero isso. Eu quero como nunca quis com nenhuma outra garota.
E eu só espero que Lara queira também.