Amor Virtual

By miarrossi

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Após a morte do pai, Lara se fechou completamente do mundo. Indo contrariada à escola e vivendo uma vida sem... More

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epílogo
Agradecimentos
NOVA HISTÓRIA PUBLICADA!

s e v e n t y

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By miarrossi

LARA

Quando eu era pequena, sempre via os personagens tomarem atitudes no último segundo. O momento em que eles acordavam e percebiam que tinham feito uma grande besteira, então corriam atrás do que queriam antes que fosse tarde demais.

Vi muitos filmes sobre isso. Sobre pessoas se arriscando nos últimos quinze minutos de trama. Eu sempre os admirei, e, quanto mais eu crescia, mais via o quanto é preciso ter coragem para isso. Coragem para ir ao aeroporto e impedir que seu amor parta para sempre; coragem para subir no palco do colégio no meio do baile e explicar para todos sua versão da história; coragem para pegar um táxi ainda de pijama e ir atrás do seu emprego dos sonhos. Em um determinado momento, comecei a perceber que era por isso que coisas assim, como nos filmes, não acontecem na vida real. Porque, diferente dos personagens, nós não somos tão corajosos. Preferimos ficar onde estamos, acomodados, do que nos arriscar a um destino tão incerto. Não saímos do lugar a não ser que alguém nos dê um grande empurrão e nos jogue ladeira abaixo.

De uma certa forma, acho que a Dra. Ross está sendo o meu empurrão agora.

Minhas mãos tremem quando apoio-as sobre meus joelhos, observando a estrada à minha frente. Ao meu lado, minha mãe está dirigindo.

Ela está me levando até a casa de Logan.

Eu estou louca? Sim, com certeza. Estou cometendo um erro? Não há dúvidas disso. Vai dar errado? Com noventa e nove porcento de chance. Mas, ainda assim, eu estou indo. Porque eu preciso, pela primeira vez na vida, fazer alguma grande loucura. Me arriscar. Botar a cara no sol e ir no medo mesmo.

Preciso concertar a besteira que eu fiz.

Não mandei nenhuma mensagem ao Logan, porque quero chegar de surpresa. Sim, sei que é totalmente absurdo e que as chances de eu quebrar a cara são quase que certeiras, mas acho que a minha versão teatral resolveu dar as caras agora. Então eu quero correr esse risco.

Preciso mostrar pra mim mesma que eu sou capaz.

— Tem certeza que é aqui? — pergunta minha mãe tediosamente, entrando na rua de Logan e olhando ao redor enquanto dirige, o carro praticamente parado de tão devagar.

Olho para ela, sentindo-me feliz. Tê-la perto de mim é bom. Quase como se meu pai ainda estivesse vivo. Talvez, quem sabe, as coisas dêem certo agora. Na minha última consulta, a Dra. Ross me disse para trazer minha mãe na próxima semana. Que utilizando o argumento do luto, talvez ela topasse fazer terapia. E eu acho que, se falar direitinho, talvez eu realmente consiga convencê-la a ir. E assim minha mãe pode, como eu, aprender a se tornar a melhor versão de si mesma.

E nós podemos aprender juntas a nos aproximar.

Não vou colocar muitas expectativas nisso, porque sei que as coisas não são fáceis. Mas, quem sabe. A chance está aí. Temos que aproveitar pra tentar.

Meu coração começa a acelerar quando avisto a fachada familiar da casa de Logan. De repente, uma sensação desconfortável se apossa na boca do meu estômago. Estou tão nervosa que poderia vomitar. Céus. Não vou suportar isso. É demais pra mim.

Devo ter feito a careta mais terrível do mundo conforme minha mãe segue com o carro, pois, poucos segundos depois, ela me encara, me vendo apoiada no braço da porta quase como se quisesse me camuflar aqui.

— É essa? — Sua voz soa impaciente, ansiosa. — É essa a casa dele?

Como eu não respondo, minha mãe olha para a casa de novo, e bem neste instante vemos uma figura alta sair de lá. Meu coração volta a bater acelerado, mas dessa vez por outro motivo. De saudade. Logan mantém a cabeça baixa ao seguir até a lixeira, as costas arqueadas de um jeito meio desanimado quando joga um saco de lixo fora e retorna para dentro; sumindo dentro de casa.

Meu coração murcha. De repente, o medo é substituído por uma estranha coragem. Preciso vê-lo de novo. Preciso estar com ele.

Esse período curto em que me afastei serviu para me ensinar uma grande lição.

Estou muito mais apaixonada por Logan do que eu imaginava.

Infelizmente, agora não posso mais usar nada como desculpa para fugir daqui. Minha mãe já sabe qual é a casa de Logan. Ela acabou de vê-lo.

Tenho que terminar o que comecei.

Não digo nada conforme ela estaciona do outro lado da rua. Sinto-me da mesma forma de quando tinha quatro aninhos de idade e fui fazer balé pela primeira vez. O medo de estar num lugar desconhecido, a ansiedade de não saber o que te espera. A possibilidade de tudo dar errado.

Só que, agora, é pior. Porque agora não corro apenas o risco de sair magoada.

Corro o risco de perder Logan para sempre.

O silêncio que surge é desagradável quando minha mãe enfim desliga o carro, apoiando um braço na janela e olhando para a casa de Logan. Fico observando seus gestos corporais, tentando adivinhar o que ela pensa. Por fim, minha mãe diz seriamente:

— Você ainda não me contou o que veio fazer aqui.

O silêncio volta. O que eu respondo? A verdade? Parece constrangedora demais.

A ansiedade retorna a ocupar meu corpo quando digo:

— Eu... eu queria pedir desculpas por me afastar. Dizer que cometi um erro e que tenho um novo plano de ação.

Ela se vira para mim, erguendo as sobrancelhas.

— Novo plano?

Só então percebo a estranha semelhança que minha mãe possui com Katherine. Seria engraçado fazer amizade com alguém tão parecida com a pessoa que eu passei anos tentando entender. Talvez fazer amizade com a versão menos triste e traumatizada da minha mãe me ajude a compreendê-la melhor.

Confirmo com a cabeça, lembrando das palavras da Dra. Ross.

— Sim. Um plano pra eu poder ser mais independente.

Ela não desvia o olhar do meu, o que me deixa decepcionada. Jurava que ela se sentiria mal por saber o quanto suas palavras me afetaram.

Pouco tempo depois, minha mãe volta a encarar a casa.

— Fico feliz em ouvir isso.

Suas palavras me impressionam. De todas as coisas que ela poderia dizer agora, nunca sonharia que seria essa frase.

Surpreendentemente, minha mãe continua, chamando minha atenção ao declarar ainda olhando pela janela:

— Então vá logo, antes que eu te faça mudar de ideia.

Por incrível que pareça, sou capaz de notar a ironia em sua frase. Isso me faz querer sorrir, embora eu tente tirá-lo de meu rosto o mais rápido possível.

Mas meu sorriso não quer surgir apenas por isso. Mas também pelo fato de que, por permanecer evitando meu olhar, eu começar a perceber o que já deveria ter notado muito tempo antes. Que essa é a forma da minha mãe se fechar. De se isolar. Porque, em alguns sentidos, ela é tão reservada quanto eu. Não sabe se abrir nem demonstrar suas fraquezas. É como se fosse obrigada a ser forte o tempo todo.

Mas eu sou capaz de ver agora. Sou capaz de enxergar a verdade por baixo da casca. E talvez seja até por isso que meus caminhos estejam se cruzando com os de Katherine também. Porque, talvez, minha missão seja ajudá-la da mesma forma que preciso ajudar à minha mãe.

E eu vou fazer isso. Vou da forma que eu puder. Assim como estou ajudando a mim mesma.

Motivada pelas palavras da minha mãe, eu abro a porta do carro, sentindo um nervoso tão grande que me dá até tontura. Tento me acalmar e respirar fundo conforme atravesso a rua, ficando ainda mais nervosa por saber que minha mãe está assistindo tudo. Vou ter uma plateia para a minha humilhação.

A casa do Logan está silenciosa quando me aproximo, sentindo ao mesmo tempo vontade de vê-lo e de sair correndo. É claro que vai dar errado. Eu fui uma tonta com ele. Eu o magoei. Logan já esperou demais por mim. Eu não deveria nem estar aqui.

Mas eu estou. E agora não tem mais volta.

Minhas mãos tremem quando me dirijo até a campainha. Pareço sofrer de Parkinson quando aperto, e o som dela se espalhando pela casa me faz querer abrir um buraco no chão. Droga. Vou passar a maior vergonha da minha vida.

Mas vou fazer isso. Por mim. Por ele.

Por nós.

Tento respirar quando ouço sons de passos, mas não consigo. Minhas mãos estão suando, então coloco elas para trás enquanto espero. Posso sentir o olhar de minha mãe em minhas costas lá do carro. Acho que nunca senti tanto nervoso em toda a minha vida. Será que vale mesmo a pena fazer isso? Oh, céus. Não acredito que estou mesmo aqui. Não acredito que vou me prestar a esse papel.

Minha mente fica em branco com a mesma velocidade em que a porta se abre. Fico gelada de nervoso assim que me deparo com a mãe de Logan em minha frente, me encarando com olhos azuis claros e definitivamente surpresos. Meu interior já deve ter derretido de tanta ansiedade.

— Lara? Oi! Que surpresa boa. — Ela sorri, revelando leves rugas em volta dos olhos, e passa para o lado, como num sinal para que eu passe. — Fico feliz em te ver. Vamos, entre.

Ok, eu não esperava por essa. Pensei que a conversa toda rolaria aqui na porta mesmo, como provavelmente teria acontecido em um filme.

Dou uma olhadinha para trás, para conferir se minha mãe continua estacionada ali, e sigo a Sra. Fell para dentro.

— Ele está no quarto. Espere aqui um segundo.

Fico parada, incerta, enquanto ela caminha animada em direção aos corredores. Aproveito para dar uma olhada nas fotos de família de Logan que havia visto quando vim até aqui da última vez. Ao mesmo tempo em que sinto falta daquela época, também sinto aversão em pensar que eu vivia daquele jeito. Nunca mais quero viver assim. Mesmo que faça pouco tempo, nunca mais quero permitir que eu viva assim. Em um estado tão fechado, tão triste. Colocando minha felicidade nas mãos dos outros.

Olho de imediato para a mãe de Logan quando a ouço se aproximar de novo. Ela parece ansiosa e satisfeita comigo ao sorrir, apontando para trás.

— Já avisei que você está aqui. Primeira porta à esquerda.

— Ah, certo. Obrigada.

Lanço um sorriso amarelo em agradecimento, e, insegura, começo a caminhar pela casa; lembrando-me um pouco da outra vez em que estive aqui. Estou tão nervosa que fico observando o ambiente ao redor para evitar minha chegada. Mas o quarto de Logan acaba estando muito perto, e, antes que eu note, já estou parada em frente à porta. Ouço um som baixo do outro lado, o que indica que ele deve estar ouvindo música.

Dessa vez sou rápida em bater. Então me afasto da porta, meu coração martelando tanto que sinto como se qualquer pessoa pudesse escutar.

A música para, e ouço uma movimentação leve lá dentro. E então silêncio. Olho de esguelha para os lados, mas não avisto ninguém, nem a mãe de Logan. O que será que ela disse pra ele? Será que ele quer me ver? E se ele me ignorar aqui como punição?

Poucos segundos depois, meus questionamentos se apagam. Logan acaba de abrir a porta.

E assim que olho para o seu rosto, o mesmo de sempre, com aqueles olhos azuis tão gentis e receosos e o medo nítido que ele sempre teve de se aproximar demais, tão bonito que chega a me dar vontade de gritar, percebo que eu tive uma baita sorte por ter recebido uma mensagem dele por engano.

Espero que eu tenha sabido dar valor.

Não falamos nada de início, mas estou tão feliz por ver ele e também tão nervosa que nem me importo. Ah, como eu me sinto feliz... é normal isso? É normal sentir uma felicidade desse nível apenas por ver uma pessoa? Será que estou confundindo as coisas? Será que tem algo de errado?

Pare de querer sabotar a sua felicidade. As reflexões que eu cheguei na última consulta voltam em minha mente de imediato. Sim, sabotar... talvez a Dra. Ross tenha razão. Eu posso estar com medo de ser feliz. Passei tanto tempo triste que não sei mais como é vivenciar outra coisa.

Eu tenho que ter fé. Pode dar certo. Vai dar certo.

Tem que dar.

— Hm... oi — eu digo por fim, cruzando os braços e começando a trocar o peso do corpo. Tento não abaixar a cabeça e permanecer olhando para ele, mas é difícil. — Eu... precisava falar uma coisa importante.

Ele continua parado, com a mão na porta. Quando Logan arqueia a testa, sei que tenho que dizer algo a mais.

— A gente... pode conversar?

Por fim, Logan morde o lábio e abaixa a cabeça, fazendo que sim. Tão lindo.

Entro quando ele passa para o lado, observando o máximo que posso do quarto dele enquanto Logan fecha a porta. Está igual a uma última vez em que estive aqui. As paredes escuras, a tv, um cheiro leve de perfume, coisas espalhadas pelos lugares... mas, agora, com um pequeno grande detalhe.

Há um buquê de flores vermelhas meio murchas em um canto.

Ah, meu Deus.

Será que é o que eu tô pensando? Ou isso não tem absolutamente nada a ver comigo? Não tem como ter, aliás, né? Não houve pedido.

Não houve porque eu disse que não aceitaria.

Inevitavelmente, me lembro de uma conversa que nós dois tivemos um tempo atrás. Quando eu disse que gostaria de receber flores de alguém.

Não, não pode ser. Eu me recuso a acreditar. Não pode ser.

Sei que Logan já fechou a porta e que está se aproximando de mim, mas ainda assim mantenho meu olhar naquele buquê. De repente, me esqueci do que vim fazer aqui. Não me lembro de mais nada. Só consigo focar naquilo. Eu preciso saber o significado daquilo. Senão jamais poderei dormir.

— Você... quer sentar?

Movo meu olhar para Logan, vendo que ele o mantém fixo no meu. Se notou para onde eu olhava, preferiu não falar nada.

Assinto, e em seguida ele caminha até a cama, empurrando algumas roupas para trás quando se senta na beirada. Eu o sigo, e, assim que me sento ao seu lado, Logan apoia as mãos para trás e espera.

Tudo bem, então. Vamos lá.

— Eu... fui em mais uma consulta — eu começo, olhando para as minhas mãos e fingindo estar concentrada nelas. — Conversei com a Dra. Ross sobre... muitas coisas. E com a ajuda dela eu cheguei em um consenso.

Logan não fala nada. Sendo assim, junto forças para levantar a cabeça para ele no mesmo instante em que inspiro fundo, mas acaba não saindo nada quando olho em seu rosto. Logan permanece quieto, mas posso jurar que parece tenso agora. Seus olhos se movem entre os meus com uma certa ansiedade. Como se quisesse que eu terminasse logo com isso mas não soubesse como dizer.

Inspiro fundo outra vez, e, juntando fôlego, solto bruscamente:

— Me desculpa. Por ter te impedido. Sei que fui um pouco egoísta com você. Eu só... só tive medo de dar tudo errado entre a gente caso eu continuasse com aquilo sabendo que eu não tava bem. Eu queria fazer a coisa certa.

Logan permanece quieto. Mas, por algum motivo, isso não me incomoda. Tenho muito o que dizer.

— E eu ainda quero fazer a coisa certa. E eu vou. Vou cuidar de mim e me priorizar sempre. Acontece, que... — Respiro fundo, encarando a parede atrás dele. — Acontece que eu aprendi que não preciso excluir toda a felicidade da minha vida pra isso. Sei que vou correr um risco e que pode dar tudo errado, mas quero tentar. Se der errado, se eu não conseguir e acabar prejudicando os dois, então volto pro meu plano antigo.

Faço outra pausa para respirar, evitando encarar Logan. Espero que ele esteja entendendo o que eu quero dizer, e espero que ainda não seja tarde demais.

— Decidi que vou parar com isso e aceitar as coisas boas que surgem pra mim — eu concluo, ajeitando minha postura e me forçando a olhar para ele. Torcendo para que diga algo.

Logan continua sério, me olhando. Seu olhar balança meu coração. Quando penso que tudo está perdido, ele finalmente diz algo.

— E como você pretende fazer isso?

Sua voz está exatamente como sempre... linda. Do jeito que eu gostava de ouvir em nossas tão preciosas ligações. Mas agora é uma voz sombria, formal.

Penso um pouco na resposta, me lembrando do que conversamos.

— Bom, tem alguns dias reservados pra mim. Apenas pra mim. E também alguns exercícios, algumas tarefas que vão me ajudar nesse meu desejo de ser independente.

Logan nem pensa pra falar, naquele mesmo tom neutro esquisito, quando diz baixinho:

— Que tipo de tarefa?

Dou de ombros.

— Ah, várias coisas. Ir no shopping sozinha, comprar algo pra mim, meditar... sei lá. Coisas que façam eu focar apenas em mim de vez em quando. Pra que eu possa saber que não vou me deixar de lado. Que eu vou... — engulo em seco, desviando o olhar quando estou prestes a completar — que eu vou conseguir entregar amor a alguém antes de receber.

Estou muito envergonhada quando levanto a cabeça para ele dessa vez. Posso jurar que agora os olhos de Logan brilham com alguma emoção que eu não sei definir. O que será que ele acha disso tudo? Meu Deus, preciso que ele diga algo. Não tenho estruturas pra suportar isso.

O rosto de Logan parece se suavizar um pouco. Espero que isso seja um bom sinal. Ainda assim, sou capaz de enxergar em sua expressão que ele parece estranho. Diferente, por algum motivo.

— E por que você tá me contando isso? — murmura Logan enfim.

Por favor, pare de agir desse jeito neutro e esquisito. Por favor, volte a conversar comigo como você fazia antes...

Começo a perder as esperanças dessa droga dar certo conforme me remexo na cama, virando-me um pouco mais para ele, e digo seriamente:

— Porque acho que você tem o direito de saber. E também porque... — abaixo a cabeça, embaraçada — porque eu quero me desculpar. Por ter agido de forma tão impulsiva. Sei que te forcei a fazer uma escolha e...

— Você não precisa se desculpar. — Logan nega devagar com a cabeça ao me interromper, naquela mesma máscara de rigidez. — Eu te entendo, Lara. Você fez o que precisava fazer.

Assinto, sentindo de repente um aperto na garganta. Por alguma razão, o rumo disso tudo me faz querer chorar. Talvez pela percepção de que as coisas não estão caminhando como eu planejava.

— Sim, mas... aquela não é a única opção — eu continuo, forçando minha voz a permanecer firme; embora só consiga um pouco disso. — Talvez a mais indicada, mas... não é a única. E se for tão importante assim pra mim... eu possa arriscar. Além do mais, vou ter acompanhamento o tempo todo. Durante todo o processo. Se a Dra. Ross ver que não tá dando certo, tenho certeza de que ela vai me avisar. E então eu posso voltar pro plano inicial.

Ergo meu olhar timidamente para ele quando termino de falar. Sei que não estou sendo cem por cento clara, então torço muito pra que Logan esteja entendendo o que quero dizer.

Ele olha fixamente para mim. Sério. Rígido.

— E você... tem certeza disso?

Confirmo com a cabeça.

— Tenho. Já resolvi tudo.

— E é por isso que você veio aqui?

Suas perguntas são rápidas, impacientes e indiferentes. Como num interrogatório. O fato de eu não saber o que ele está pensando me frustra absurdamente.

Confirmo outra vez.

— Uhum...

Silêncio. Total e completo. Logan continua me estudando, como se estivesse decidindo o que fazer. Ele parece uma estátua. Que ódio. Com certeza isso é proposital.

Então, finalmente, Logan solta um suspiro alto e exagerado. E em seguida balança a cabeça com determinação ao fechar os olhos.

— Não, Lara. Me desculpa, mas isso tá errado.

Minha mente fica em branco. Oi? Como assim errado?

Nervosa, triste e preocupada, eu pergunto baixinho:

— Por quê?

Estou muito confusa.

Logan permanece sério quando abre os olhos de novo e se vira mais para mim, cruzando uma perna sobre a cama. Meu estômago parece embrulhado, e sinto a ansiedade causando borboletas em meu interior. Felizmente, Logan é rápido em continuar.

— Porque você não devia ter vindo aqui. Com certeza não devia.

Ele fala com tanta convicção que eu fico espantada. Como é?

Noto de imediato a forma como Logan fica nervoso, começando a passar a mão pelo cabelo e olhar ao redor do quarto. Como se procurasse por algo em específico. Sem pensar, uma ideia me atinge. Ele está com outra pessoa aqui. Ele é bonito, popular, é claro que seguiria em frente.

Como eu sou idiota.

Toda a ansiedade que eu estava sentindo é logo substituída pela tristeza. De repente, este quarto parece quente demais, e tudo o que eu quero fazer é sair daqui o mais rápido possível. Quero ir embora. Quero me enfiar debaixo das cobertas e passar o dia todo lá, no conforto do meu quarto.

Meu Deus. Eu cometi um erro enorme. O próprio Logan disse isso. Ele deve estar neste momento pensando em como eu sou tonta. É claro. Faz todo o sentido.

Que droga... como posso ir embora sem parecer estranho? Será que devo fingir que recebi uma ligação, pedir desculpas e sair? Provavelmente seria o melhor. Cortaria logo isso antes que eu passasse mais vergonha.

Estou quase pegando meu celular quando Logan se levanta da cama.

Olho para ele, tonta.

Logan começa a andar em círculos pelo quarto.

— Merda, merda — ele resmunga, passando a mão pelo cabelo repetidas vezes. — Tá tudo errado. Não era pra ser assim...

Fico sentada, sentindo como se eu tivesse pulado uma parte da minha vida e sido transportada para uma cena aleatória. Que droga tá acontecendo aqui?

Até que, por fim, ele para totalmente e olha para mim. Mas não um olhar comum. Um olhar profundo. Nervoso. De quem está prestes a anunciar algo que vai mudar tudo.

Merda.

Já nem sinto mais meu corpo quando Logan declara:

— Era eu quem devia ir, Lara. Era eu quem devia terminar o que comecei.

Fico estática.

Não estou entendendo nada.

— Era eu quem devia... — ele desvia o olhar, como se não conseguisse falar enquanto me olha — era eu quem devia parar de ser a droga de um covarde e fazer alguma coisa.

Como não consigo mais ficar quieta diante dessa total bagunça, resolvo perguntar:

— Como assim? Do que você tá falando?

Ele parece ter muita dificuldade para conseguir olhar para mim, e, quando finalmente o faz, Logan permanece sério ao dizer:

— Você disse que não aceitaria se eu fizesse o pedido. Então eu respeitei sua decisão. Respeitei e cancelei o que eu tinha preparado.

Meu corpo gela.

Imediatamente, me lembro do buquê no canto do quarto. Não consigo me controlar quando me viro e o encontro ali no chão, bem como eu tinha visto, com as rosas vermelhas meio murchas.

Oh, céus. Eu sou um monstro...

— Mas aí... — Logan vira a cabeça para outro lado de novo — aquele homem estranho apareceu, e... e confundiu minha cabeça. Então pensei que pudesse tentar de novo. — Ele ri consigo mesmo, olhando para o chão. — O engraçado é que eu tava pensando nisso agora mesmo quando me dei conta de que eu teria sim coragem de ir lá e fazer. Mas o problema é que eu estaria desrespeitando sua decisão se eu fizesse isso. E tudo ficaria pior do que começou. Então eu desisti.

Eu nem respiro direito conforme Logan vira-se lentamente de volta para mim.

— Mas aí você aparece aqui... pra mostrar que talvez fosse sim pra acontecer.

Ficamos em silêncio.

Ouço um ônibus passando na rua.

Engulo em seco.

— Era sim pra acontecer. Mas não da sua parte. Era eu quem finalmente tinha que tomar uma atitude. Porque, na verdade, acho que quem era a covarde aqui esse tempo todo era eu. — Abaixo a cabeça, a vergonha me atingindo. Minha voz está muito mais baixa quando continuo: — Sempre tive medo de tudo. De errar, de não gostarem de mim... mas acho que o maior medo que eu criei esse tempo todo foi o de ser feliz.

A vontade de chorar me atinge, mas dessa vez deixo as lágrimas caírem. Deixo porque não são lágrimas de tristeza.

São lágrimas de alívio. De paz.

— Se permitir ser feliz também é... — faço uma pausa rápida, controlando minha voz instável —, admitir que o risco das coisas darem errado sempre... vai existir. Mas que também... — fungo quando uma lágrima quente desce pelo meu rosto —, não vale a pena excluir toda a felicidade da sua vida por isso.

Uma sensação quente cobre meu peito quando levanto a cabeça para Logan. A expressão em seu rosto é lotada de compaixão conforme ele se aproxima de mim. E o engraçado é que não sinto vergonha por estar chorando na frente dele. Apenas me sinto... segura. Confortável.

Sinto-me em casa.

Dou risada ao mesmo tempo em que choro quando reuno forças para me levantar. E dessa vez sou eu que me aproximo de Logan, com um sorriso triste e feliz no rosto quando respiro fundo e afirmo:

— Chega de ter medo.

E minhas palavras soam como um grito único de independência e libertação.

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