Amor Virtual

Por miarrossi

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Após a morte do pai, Lara se fechou completamente do mundo. Indo contrariada à escola e vivendo uma vida sem... Más

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epílogo
Agradecimentos
NOVA HISTÓRIA PUBLICADA!

f i f t y f i v e

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Por miarrossi

LARA

Mesmo que eu tenha escolhido uma sandália baixa para hoje, já sinto que vou me arrepender da escolha conforme começo a caminhada pela rua de casa.

A noite está silenciosa, o que chega a ser um milagre, e tudo está tranquilo pela cidade. Me sinto como uma garota boba, caminhando para uma festa que ninguém nem espera que eu vá.

Um tempo atrás, a maior diversão dos meus dias era sair de casa e caminhar por estes bairros. Eu não o fazia sempre, mas muitas vezes isso me ajudou a não ser engolida pelas paredes. Por sorte as ruas são tranquilas, bem-iluminadas e com uma sensação de segurança; ainda que eu tenha medo de andar por aqui sempre.... mesmo sabendo que o número de assaltos é baixo.

Nunca é bom arriscar. Não como eu estou fazendo agora.

Esfrego meus braços, me arrependendo por não ter trazido um casaco, conforme observo as casas grandes e silenciosas ao meu redor. Mesmo que eu já tenha olhado o endereço umas dez vezes, sei onde a casa fica. É perto daqui, e já passei várias vezes em frente a ela enquanto caminhava. Na maioria das vezes, dava para ouvir a música alta e as vozes mesmo a quilômetros de distância.

E pensar que Logan deveria estar nessas festas.... tão perto de mim. Sempre tão perto... e uma simples falta de aproximação nos manteve estranhos. Quantas pessoas devem passar pelo mesmo? Quantos prováveis melhores amigos devem sentar-se um ao lado do outro todo dia na sala de aula sem sequer saberem que formariam uma amizade tão incrível? Quantos prováveis casais devem encontrar-se todos os dias numa festa, passando um ao lado do outro, impedidos de criar uma história de amor simplesmente pela falta de uma única aproximação?

A vida é mesmo uma bagunça. E é engraçado como uma simples escolha pode tão facilmente alterar o nosso destino.

Por uma coisinha, eu e Logan poderíamos não ter nos conhecido. E quem eu seria hoje? Onde eu estaria? Como eu estaria?

Não sei se devo agradecer por tê-lo conhecido ou lamentar por só ter mudado quando alguém me levou a tal. Eu deveria ser capaz de cuidar de mim mesma.... não deveria?

Gosto de sentir que Logan está aqui por mim, mas, digamos que não posso querer que este estado dure para sempre.

Talvez por isso que eu também tenha tomado essa decisão, da festa, sozinha. Para mostrar que posso fazer algo sem a influência de alguém.

Porém, por mais que eu continue pensando nisso ao caminhar pelo asfalto, vendo os carros engolidos pelas garagens e o silêncio da noite ocupando o ar, não me sinto confiante. Não sinto que estou tomando a decisão certa. Só sinto, a cada passo que dou, o desejo de dar meia-volta e sair correndo aumentar freneticamente.

Mas me mantenho aqui. Me mantenho seguindo em frente. Evito os pensamentos de que a essa altura eu já deveria estar sabendo lidar melhor com situações sociais. Evito a incerteza que quer vir me sabotar. Evito tudo. Vou numa festa, como uma adolescente normal, e amanhã terei uma consulta com uma terapeuta; como uma adolescente com problemas normal. Está tudo bem. Tudo sob controle.

Eu vou conseguir.

Eu vou conseguir?

Chega. Sem auto-sabotagem. Não mais. Meu pai não gostaria de me ver assim.

Finalmente, após caminhar mais um pouco, já consigo ouvir a música ao longe. Baixa, com as batidas do som ecoando pelo ar a cada vez que eu me aproximo.

Quando chego ao fim da rua e viro à direita, conferindo o celular mais uma vez antes de escondê-lo em meu vestido, já consigo encontrar carros estacionados pelos cantos, os modelos indicando claramente serem de adolescentes. É sempre assim: por mais que existam diferentes classes sociais, aqueles que completam dezesseis anos parecem sempre seguir um mesmo modelo. Carros parecidos, indicando por si só serem de estudantes. Talvez pelo que esteja na moda atualmente.

Passo pelos carros mais distantes, vendo por estes a quantidade de gente que deve estar lá dentro. Fico tão nervosa quanto na minha formatura da oitava série. Droga. Que raios eu tinha na cabeça em querer vir aqui? Devo estar pensando que já sou como os outros, social e feliz. Burra, burra, burra. Claro que eu não sou como os outros.

Foi burrice achar que eu poderia ser.

Que mania de sofrer por antecipação!

Se eu não estivesse tão agoniada, poderia até dar risada. Meu pai vivia falando isto quando eu começava a surtar antecipadamente. É quase como se eu pudesse ouvir a voz dele agora, como se estivesse aqui ao meu lado dando-me este conselho. Me repreendendo por estar tão nervosa com algo que sequer aconteceu.

Agora que ele não está mais aqui, preciso ser eu a me aconselhar.

Quando meu pai se foi, comecei a perceber que ele me ajudava bem mais do que eu imaginava. Talvez fosse isso que me fizesse amá-lo tanto, que me fizesse sentir-me estranha ao ver alguém falar sobre como o carinho de uma mãe é sempre mais importante do que o de um pai. Com o carinho que ele me dava, com o amor.... nunca compreendi aquela frase. Nunca fez sentido para mim.

Às vezes, penso se foi apenas conexão ou culpa da ausência de minha mãe.

Talvez eu nunca descubra.

As luzes ficam mais fortes conforme ando, a música distante aumentando cada vez mais. Como se, a cada passo, tudo ao meu redor gritasse: "você está chegando. Desista agora ou será tarde demais."

Ignoro o aviso e continuo. Cada vez mais perto... direto para o local em que todos os meus sentidos apitam para que eu fuja.

Talvez seja assim que se supere um medo. Indo de encontro com aquilo que você mais tema em seu interior.

E é pensando nisso que eu crio coragem de seguir em frente, me aproximando da grande casa iluminada. Todas as janelas estão abertas, risadas e vozes ecoando dos fundos. Os portões de ferro da frente estão escancarados, carros estacionados de qualquer jeito na garagem externa. Como se as pessoas simplesmente houvessem deixado o carro ali e corrido para dentro.

Meu coração bate desenfreado dentro do peito quando aproximo a mão do ferro gelado do portão, afastando-o para passar. A porta solta um ruído feio e alto quando a empurro, como soaria em uma casa abandonada dentro de um filme de terror. Mas meu terror no momento é que alguém me escute e veja que um novo convidado chegou. Prefiro não ser identificada até que esteja lá dentro, misturada entre as pessoas.

Já estou mais aliviada quando piso na grama e começo a caminhar pela parte traseira da casa, o vento frio da noite batendo em minhas pernas. Droga de ideia. Droga de lugar. Isso tudo é culpa de Logan e daquele seu maldito rosto triste perfeito.

Quase dou um pulo de susto quando ouço alguém gritar atrás de mim, e me viro no instante em que um cara passa ao meu lado com um barril enorme do que provavelmente é cerveja. Ele está animado e contente, nem me notando ao marchar determinado em direção à frente da casa. Por enquanto as paredes me escondem, então não tenho visto ninguém e ninguém pode me ver; tudo que ouço são as vozes, a música e o som de algo caindo na piscina. Talvez alguém.

Por isso enrolo o máximo possível na caminhada, até o momento em que a casa termina e chego na parte que amedronta. A provável área de lazer, aberta, iluminada e abarrotada de gente.

Fico tão impressionada e também atordoada com a quantidade de informação que dou um passo para trás, observando tudo que sou capaz enquanto abraço o próprio corpo. Tem uma piscina. Grande e azul. Com pessoas dentro e fora. Bóias. Colchões infláveis. Bandejas infláveis com bebidas flutuando. Pessoas gritando. Dançando. Rindo. Pulando na água.

A parte coberta contém uma churrasqueira, com um balcão comprido, onde várias pessoas encontram-se apoiadas ao beber e conversarem. Por todo o canto tem gente dançando, a música está alta com uma batida que faz o chão tremer, e uma luz de balada ocupa o ambiente, colorida e em movimento; passeando pelas pessoas e pelo chão de forma tão agitada quanto o pessoal.

É bonito, até. Animado. Isso, é claro, até você olhar mais detalhadamente, observando as garotas intimidantes rindo umas com as outras (como se participassem de algo único e especial) enquanto dançam com garotos. Estes, por sinal, parecem piores ainda. Olhando para o corpo das meninas sem nem disfarçarem, falando alto, gritando e mexendo com qualquer uma que dê a mínima atenção que seja a eles.

Um lugar onde eu poderia facilmente ser pisada e amassada.

Quero correr para longe daqui.

A música troca, algum som da Katy Perry enchendo o ar quando dou meia-volta e começo a caminhar para a tranquilidade dos fundos da casa novamente, andando o mais normal e disfarçado possível para fora, no mesmo instante em que uma voz alta e masculina grita pela multidão:

Lara? É ela mesmo? Ô Lara!

Paro de andar no mesmo segundo. Fico estática, encarando os arbustos das cercas que parecem ser um excelente lugar para eu me enfiar e ficar escondida pelo resto da noite. Droga.

Droga.

Contra toda a minha vontade, me viro de novo, o mais lento que posso dessa vez, sentindo meu coração bater tão descontroladamente dentro do peito como se todo mundo pudesse escutar. Procuro em meios aos rostos algum conhecido, identificando Evan imediatamente no meio de todos, apoiado ao lado da churrasqueira com uma latinha de cerveja na mão. Ele acena para mim com a outra, parecendo surpreso e intrigado por me ver aqui. Mas também há algo divertido em seu rosto, distraído, talvez pelo que seus amigos estejam dizendo. Ou talvez porque ele já esteja meio bêbado.

Aceno de volta, abrindo um sorriso sem-graça e com certeza nada verdadeiro, sem saber se devo continuar parada aqui ou simplesmente ir embora agora que já o cumprimentei. Porém, para o meu total desalento, Evan levanta mais o braço e grita:

— Vem aqui, Lara!

Não posso. Sinto muito, mas com certeza não posso. Fique aí acenando para o ar, pois vou me virar e correr o mais rápido possível para longe dessa droga de lugar.

Mas, para a minha infelicidade, também não tenho coragem de fazer isso, então simplesmente começo a caminhar em direção a ele o mais rápido possível, xingando Evan mentalmente por ter falado tão alto; noto várias pessoas me olhando conforme caminho até o amigo de Logan.

Só quando eu chego que vejo os garotos parados ao lado dele, todos virando-se para mim imediatamente para observar a pessoa nova que se aproxima. Só há uma garota com o grupinho, uma ruiva baixinha usando jeans surrados. Ela parece amigável ao me observar, o que chega a ser um alívio em comparação a tudo.

— Ué, por que você não disse que ia vir?

Essa é a primeira coisa que Evan fala, bebendo um gole da latinha enquanto espera pela minha resposta. Os outros garotos ficam quietos ali, também esperando que eu fale e parecendo todos concentrados demais nisso. O fato me incomoda; não gosto da atenção ou de sentir que estou sendo observada.

— Eu... decidi de última hora. — Tento não focar nos olhares parados em mim quando falo, sentindo aquele típico pânico que conquistei aproximando-se como uma sombra fantasma pelas minhas costas.

Ele assente, tranquilo e descontraído. É engraçado como as pessoas, mesmo tão próximas de nós, podem não fazer a menor ideia dos demônios que nos amedrontam em nosso interior.

— Entendi. O Logan tá lá dentro, eu acho. Me perdi do pessoal depois que o babaca do Johnson me chamou pra cá. — Ele para de falar por um momento quando o garoto musculoso ao lado dele bate de brincadeira em sua cabeça, os dois rindo. — Pode ir lá procurar por ele. Deve estar na cozinha ou na....

Evan é interrompido de novo quando um garoto escandaloso vem correndo até nós, gritando e com os braços abertos, conforme começa a perguntar sobre um barril.

— Onde vocês colocaram? — pergunta o cara, a respiração ofegante e o suor escorrendo pelo pescoço. — Perguntei pra Gabriela se ela viu, mas a garota tá mais perdida que eu!

— Ué, a Gabriela tá aqui? — Evan parece ter se esquecido de mim agora, concentrado no papo com o garoto agitado e extremamente alto ao meu lado. — Pensei que ela estivesse no Alasca.

— Que Alasca, cara, tá doido?! Ela tava na casa dos pais este final de semana.

Começo lentamente a me afastar dos dois, sentindo-me exorbitantemente deslocada, até que avisto as enormes portas brancas da entrada da casa. Desvio das pessoas enquanto vou até lá, passando ao lado da piscina e finalmente entrando no conforto da sala de estar.

Mesmo que a música permaneça tão alta aqui quanto lá fora, o fato de conter menos pessoas me deixa imediatamente mais confortável. Contém só alguns casais aninhados no sofá, dois caras jogando algo no chão e algumas pessoas conversando perto dali, na bancada que provavelmente leva à cozinha. Marcho determinada até lá, obcecada em encontrar Logan ou algum dos amigos dele. Outros amigos. Me sinto completamente perdida, sem preocupar-me com nada além de achar um conhecido. Preciso imediatamente achar um conhecido.

Assim que alcanço a cozinha, me arrependo no mesmo instante. Um grupinho de garotas conversando num canto vira-se na hora para mim, como se eu houvesse interrompido algo estritamente sagrado.

Felizmente — ou não —, reconheço um dos rostos, segurando um copo de plástico na mão e apoiada contra a bancada. Katherine. Ela parecia observar algo no celular da amiga, menos agora; já que todas me observam.

— Lara? — Katherine é quem fala, arqueando a testa. Ela não esconde sua surpresa em me ver. — Nossa, que milagre te ver aqui... tá procurando o Logan?

Engulo em seco antes de assentir, aquela sombra de pânico voltando a me ocupar ao sentir os olhares de todas em mim. Pode ser só impressão minha, talvez nem todo mundo esteja me encarando assim ao mesmo tempo, porém permanece sendo inevitável sentir que estão.

— Nossa. — Ela ri, embora eu não saiba identificar se há maldade no gesto. — Então você finalmente sai da toca e o Logan some? Que raiva desse garoto. Já mandou mensagem pra ele?

Fico até espantada com a possível gentileza vindo dela, mas Katherine parece normal ao colocar uma mão na cintura e virar-se mais para mim, aguardando que eu diga algo.

— Ahn, não. Na verdade não. É uma boa ideia. Vou fazer isso.

Abro outro sorriso amarelo, já cansada deles por hoje.

— Ótimo. Me avise caso eles tiverem sido abduzidos ou algo assim. Quero ser a primeira a saber se Carter e Alex forem excluídos do planeta terra.

A risada que sai de mim em seguida é completamente verdadeira.

— Obrigada pela dica. Se... caso vir algum deles, você pode...

— Eu te aviso — completa Katherine, séria, apesar de parecer ter notado meu receio em pedir aquilo. — Fica tranquila. Nenhum deles escapa do meu radar.

Não entendi completamente o que ela quis dizer com aquilo, mas me baseei em murmurar outro "obrigada" antes de correr para longe dali, encontrando escadas para o andar de cima e subindo os degraus rapidamente conforme agarro meu celular. Procuro pelo nome de Logan em meio aos contatos, percebendo que eu não deveria ter subido aqui assim que começo a andar pelo corredor silencioso. Provavelmente a festa ocorre apenas lá embaixo, já que está tão vazio e com uma cara particular. Talvez eu deva voltar...

Estou prestes a discar o número de Logan e dar meia-volta quando uma porta se abre repentinamente, me fazendo soltar um gritinho de susto conforme dou um passo para trás.

Um garoto surge em meu campo de visão, parecendo também surpreso ao dar de cara comigo.

Logan. Nunca senti tanto alívio na vida.

— Lara? — Ele abre um sorriso enorme, o braço apoiado no alto da porta. Mal me aproximo e já noto que ele estava no banheiro. — O que tá fazendo aqui? Pensei que não viria.

Encolho os ombros, me arrependendo na hora de estar usando um vestido que me deixa tão exposta.

— Pois é... mudei de ideia. — Tento imitá-lo ao abrir um sorriso torto. — Mas quase que eu fui embora. Vocês... sumiram.

— Ah, é, sobre isso. — Ele olha para o chão quando solta uma risada. — Eu e Evan chegamos cedo demais hoje. Charlie e Melissa nem estão aqui, isso que eles costumam vir bem cedo. Eu tava enrolando por aí, odeio começo de festa.

— Ah. — Tento não parecer tão surpresa, mas acho que meus olhos devem estar tão arregalados quanto se eu tivesse usado alguma coisa. — Mas... mas tá lotado lá fora.

— Sim, mas uma festa só fica lotada de verdade quando a casa tá entupida de gente. — O sorriso que ele me lança agora é meio engraçado, como se Logan se divertisse com minha falta de conhecimento nesse assunto. — A maioria que chega cedo pra dançar vai embora antes das nove. A festa de verdade só começa por aí.

— E o que voc....

Alguém me interrompe, chamando por Logan do que deve ser das escadas, já que a voz está tão alta. Parece ser um garoto, talvez Carter. Outros caras riem junto dele, um ruído alto de algo sendo arrastado.

Loogaann... nós vamos achar você!

— Droga — resmunga ele, olhando para o corredor atrás de mim por apenas um segundo antes de me puxar junto dele para dentro do banheiro. Não tenho nem tempo de dizer algo quando a porta se fecha e a escuridão do cômodo vem de encontro conosco.

Logan fica encostado contra a porta, me mantendo junto de seu corpo, conforme passos se aproximam do lado de fora. Aos poucos minha visão acostuma-se à falta de claridade, e vejo Logan fechar os olhos como se temesse que qualquer mínimo ruído entregasse nossa localização.

Não entendo o motivo, e vejo a pergunta do porquê dele estar aqui em cima sozinho ainda entalada em minha garganta, mas o calor de seus braços em volta de mim e seu cheiro tão característico impedem que eu fique muito concentrada nisso. Ou em qualquer coisa que não seja o fato de estarmos em um banheiro minúsculo, no escuro, abraçados. Ou simplesmente com os corpos colados, em uma definição melhor.

Nossa. Acho que não sei o que dizer. Apenas que essa festa pode acabar não sendo tão ruim quanto eu pensava.

Por fim os passos voltam se aproximar. Como se estivessem passando em frente ao banheiro.

— O quê? — sussurrou alguém do lado de fora, uma voz masculina.

— Eu vi ele, só não sei onde — cochichou outro.

— Tá, vem cá.

Alguém sussurra mais alguma coisa, embora dessa vez eu não consiga escutar, antes das risadas baixas recomeçarem até que sumam pelo corredor.

Logan parece ficar aliviado na penumbra quando o silêncio finalmente retorna.

Não disfarço minha frustração agora.

— Logan! O que est...

Ele tampa minha boca antes que eu possa continuar.

Logan parece preocupado com a situação, embora eu me sinta dentro de um filme esquisito onde não sei absolutamente nada do que acontece. O que não me deixa feliz.

Não perco tempo quando ele finalmente abaixa a mão.

— Tá acontecendo alguma coisa? — Mantenho minha voz baixa quando me afasto uns milímetros, apenas o suficiente para que nossos corpos não fiquem tão colados assim. — Porque eu ouvi uma voz e....

— Não é nada demais — se apressa ele em dizer, tão baixo quanto eu, ainda que não escutemos mais nada ao nosso redor além de nós dois. — É que... é que eles costumam fazer umas brincadeiras assim com o pessoal. Eu tinha topado, só pra não ficar sem fazer nada quando soube que você não ia vir. Então eu meio que.... que tô participando agora.

Ele solta um suspiro forte, claramente frustrado ao jogar a cabeça para trás e encarar o teto.

Eu ainda estou sussurrando quando resolvo perguntar:

— Que tipo de brincadeiras?

Logan encolhe os ombros, como se tivesse receio em continuar.

— Bom, basicamente... eu não posso ser encontrado.

Franzo a testa, assentindo devagar enquanto absorvo a informação.

— Então... você basicamente tá brincando de Polícia e Ladrão?

Ele semi-cerra os olhos, parecendo não ter visto as coisas por esse lado.

— Ah, é. Até que é. Basicamente um Polícia e Ladrão.

Arqueio a testa, esperando que Logan diga mais alguma coisa. Mas ele ainda parece bem interessado em fazer a ligação do jogo de adulto deles com uma brincadeira infantil.

— E o que acontece se eles te pegarem?

Logan volta a olhar para mim, abrindo um sorrisinho.

— Bom, aí é que fica interessante... os desafios podem variar. De beber quantos shots eles mandarem até pular na piscina sem roupa.

O quê? — eu grito baixinho (se é que isso é possível), enquanto recuo violentamente para trás, batendo as costas no que deve ser um porta-toalhas.

A expressão de Logan agora parece culpada.

— Pois é... mas é raro chegar nesse nível. Eu só topei porque o Carter disse que ia ser divertido.

— E você escuta o que o Carter fala? — rebato, tentando me desvencilhar das toalhas secas que quase caíram em cima de mim.

— Ele é meu amigo, Lara. Um babaca às vezes, eu sei, mas meu amigo. E eu noto que ele não é tão legal com você, mas deve ser só ciúmes ou algo assim. Carter me ajudou muito quando ficávamos de detenção no fundamental.

Logan já está se aproximando de mim de novo, fazendo uma carinha inocente como se isso resolvesse tudo.

— Só que as pessoas mudam, Logan. Ele pode ter sido uma pessoa legal antes e agora nem tanto. Eu sou observadora, noto quando alguém não parece ser tão sincero quanto diz. E é perigoso confiar tanto nos outros. Ainda mais quando esses outros te convencem a entrar numa brincadeira que pode facinho se tornar algo ruim. É sério, Logan! Não acho que você deveria ouvir tanto o Carter. — Estou meio agitada quando termino de falar.

Logan arqueia a testa, então, parecendo desconfiado, embora sorria ao se aproximar ainda mais de mim.

— É impressão minha ou a dona Lara tá preocupada comigo? — Sua voz volta a ser um sussurro; porém dessa vez não há a menor intenção dele não ser ouvido.

— Como é? — Abaixo o tom involuntariamente, embora não esconda o choque com a sua péssima conclusão. Tento não sorrir, mas ele o faz tanto que é praticamente impossível de não ser influenciada. — Você é péssimo, Logan.

Ele solta uma risada que é baixa e gostosa de se ouvir.

— Eu sou?

— Sim, você é. — Desvio o olhar ao tentar fechar meu sorriso, sentindo as bochechas quentes como nunca. — Terrivelmente péssimo. E não sabe interpretar o conselho das pessoas.

— Hmmm não sei não, hein... acho que eu interpretei perfeitamente.

Um arrepio me invade quando ele me puxa pela cintura, o hálito quente batendo em meu pescoço. Meu coração está acelerado, uma adrenalina invadindo meu corpo como Logan sempre tem o dom em fazer. Me sinto feliz, animada e sem o menor desejo de sair daqui de dentro. Quem diria que ficar no banheiro de uma festa pudesse ser tão divertido?

A alegria vai embora tão rápido quanto vem o susto ao ouvirmos alguém bater na porta. Alto. Forte. Um som desagradável e irritante.

Logan se afasta abruptamente, murmurando um "droga". Deve ser o quarto só nos últimos dez minutos.

Ei! — grita alguém, uma voz feminina dessa vez. Ela parece irritada.

Ficamos quietos, esperando, até que ela volta a esmurrar a porta como se soubesse que estamos aqui dentro.

Saiam daí! Eu quero usar o banheiro!

Eu e Logan nos entreolhamos.

— E agora? — sussurro.

Ele pensa um pouco.

— Melhor saírmos — sussurra enfim, já se dirigindo para a porta.

— Não! Logan, espera!

Tento manter minha voz baixa ao correr com ele até a porta, e por sorte Logan se vira para mim antes de tomar uma atitude.

— Tá tranquilo, a gente procura algum quarto vazio pra eu não ser pego enquanto eu ligo pro Charlie ver se ele já tá chegando. Vai ser super de boa. — Logan ainda cochicha, a mão na maçaneta. — Pode ser?

Sem ter mais o que fazer ou dizer, eu apenas assinto, incerta, me escondendo atrás dele enquanto Logan abre a porta; a meia-luz do corredor nos invadindo imediatamente. Uma garota loura, com um top branco e jeans pretos estilosos, está parada ali, parecendo prestes a esmurrar a porta novamente. Ela recua quando nos vê, surpresa.

— Pronto, tá livre — diz Logan para ela, agarrando minha mão e nos levando para longe dali. Sinto que a garota nos observa sair, mas estou feliz demais ao seguir Logan pelo corredor para ficar afetada.

Parecemos animados ao caminharmos juntos, silenciosos e atentos como se estivéssemos em um filme de perseguição. Tanto eu quanto ele observamos os quartos por qual passamos, procurando por algum cômodo que seja bom o suficiente para ficarmos quando Logan for fazer a ligação. Não pode ser óbvio demais, caso contrário, os caras daquele jogo idiota que Logan entrou nos encontrarão facinho.

— Aqui, esse parece bom.

Logan aumenta o passo em direção à última porta do corredor, de frente para outra, que parece ser o canto mais esquecido da casa. Casa com mais quartos do que jamais vi, por sinal. Faço uma nota mental de perguntar quem mora aqui conforme entramos.

Paro no meio do cômodo, impressionada, ao mesmo tempo em que o ouço fechando a porta. É um quarto bem antigo, talvez um cômodo para receber visitas mais velhas que preferem um ambiente mais convencional. Uma penteadeira envelhecida está localizada perto da janela, me lembrando de um programa brasileiro sobre viagem no tempo que eu assisti uma vez. A cama de casal, que está bem no centro do cômodo, é bonita até, com colchas de um branco manchado e cabeceira de madeira.

Me viro para Logan quando canso de observar, me surpreendendo ao ver que ele está parado ao lado da porta, encostado na parede, com as mãos no bolso. Me olhando.

— Achei que fosse ligar pro Charlie — eu falo propositalmente, abrindo um sorriso perspicaz.

Ele também sorri, nem um pouco sutil.

— Você me distrai, fazer o quê. E confesso que tô me divertindo pensando em como seria se tivéssemos nascido no século passado. E se esse quarto fosse nossa lua-de-mel.

Dou risada, embora sua fala tenha me deixado absurdamente nervosa.

— Bom, para termos uma lua-de-mel nós precisaríamos nos casar primeiro. E namorar primeiro.

Logan olha fixamente para mim quando diz:

— Por mim nós já podemos providenciar esse avanço, então.

Ele está sério agora. Sem nem piscar.

Me impressiono por ainda estar de pé. Minhas pernas estão bambas. Meu coração palpita no corpo inteiro. Pareço derretida por dentro.

Ele quer namorar comigo. Namorar. E estar numa relação de verdade. Juntos de verdade. Oficialmente. E Logan Fell, o garoto bonito que eu via andar por aí na escola, poderia enfim ser meu. Meu namorado. Meu companheiro. Em todos os lugares. Meu.

Eu quero isso. Que se dane o resto, que se dane tudo.

Se ele me pedir, agora tenho certeza de que eu irei aceitar.

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