Karma

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Tudo girava. Meus olhos ardiam, as pálpebras pesavam e meu corpo parecia pesar mais do que eu conseguia carregar. Respirei fundo tentando lembrar o que havia acontecido, mas nada vinha em mente.

Coloquei uma mão na frente do rosto e tentei ajustar meu foco visual encarando meus dedos. Ao levantar o braço, senti algo beliscar minha pele e só então percebi o cateter preso por uma agulha em meu membro direito. Uma bolsa de soro fisiológico estava pendurada ao lado da cama com a ajuda de um suporte, e o som quase mudo do líquido escorrendo da bolsa até a agulha me fazia questionar o que diabos havia acontecido.

Ao tentar arrancar o esparadrapo colado por cima do objeto pontiagudo que furava minha pele, escuto uma voz ecoar ao meu lado.

“Eu teria cuidado com isso se fosse você.” Ela sorri diante da minha clara confusão. “Você está bem?”

Fechei os olhos como reflexo ao sentir uma pontada na cabeça. O objeto macio que sustentava meu corpo fazia minha dor nas costas agradecer. Encarei o teto do cômodo onde eu me encontrava.

“Onde eu tô?”

“Você desmaiou no lobby”, a voz parecia mais calma agora que eu aparentava ter recobrado a consciência por completo.

“O quê?”

“Você está na enfermaria, querida”, ela fala se afastando e puxa uma cadeira para sentar ao meu lado. O barulho da mobília de ferro sendo arrastada contra o piso frio me faz tremer.  

“Camila...” Balbuciei.

Dinah crispa os lábios ao ouvir o nome. Pouco a pouco meu subconsciente volta ao normal e eu começo a lembrar dos últimos fatos ocorridos antes da minha visão não passar de um borrão.

“Você precisa ficar calma”, ela diz em um tom irritantemente angelical.

“Ela fugiu”, falei indignada. “Como diabos ela fugiu?!”

“Nós não sabemos... Ontem à noite nós estávamos checando pela última vez os pacientes antes de fecharmos a ala dos dormitórios, mas ela havia simplesmente sumido.”

Engoli seco tentando entender o que se passava na cabeça de Camila. Ela me fez prometer que eu não iria me afastar e menos de 24 horas depois, ela faz exatamente o oposto do que havíamos combinado.

“Eu posso buscar um copo d’água pra você?”

A encarei confusa. Levantei brevemente do colchão e apoiei o peso do meu tronco sobre os cotovelos. A agulha pinicando contra minha pele não me incomodava tanto quanto o instinto maternal da mulher sentada em minha frente.

“Eu posso pedir pra que preparem alguma coisa pra você comer”, ela continua. “O médico que te examinou falou que você está praticamente anêmica.”

Uni as sobrancelhas. Isso era literalmente uma versão 2.0 do que havia acontecido no Kings Park com Naomi. A bondade em excesso, o sentimento ridículo de pena, a querida gentileza de oferecer um copo d’água na tentativa de me tranquilizar e o pedido infeliz e inoportuno pra que eu me acalmasse em uma situação caótica.

“Não”, falei firme. “Eu não quero água, muito menos comida.”

Balancei a cabeça tentando levantar –, o que era uma tarefa bem difícil, considerando o fato de que meus ossos pareciam gelatina e minha visão girava como se eu estivesse presa em um carrossel. Pela minha visão periférica eu pude ver que ela havia levantado da cadeira e estava prestar a tentar me impedir de levantar.

“Lauren—”

“Não!” Apoiei as mãos sobre a cama tentando encontrar equilíbrio. “Eu tenho que achar ela. Ela precisa de mim, ela precisa de alguém, a pobrezinha deve estar sozinha no meio dessa estrada sem fim e ela é tão frágil... Ally. Eu preciso ligar pra Ally. Ela vai saber o que fazer, ela sempre sabe...”

Get Me OutOnde as histórias ganham vida. Descobre agora