Tic-Tac

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Durante o nosso período infantil, nós sempre íamos para a cama com resquícios de contos inocentes na memória. Histórias geralmente curtas, enredos aparentemente bobos, que nos embalavam o sono e alimentavam nossa indescritível sede pela realização de um conto de fadas.

Era maravilhoso acordar e se imaginar em um castelo. Ser chamada de princesa e usar um vestido cor de rosa no primeiro aniversário que surgisse no calendário colado à geladeira. E chega a ser estranho falar dessa fase sem lembrar o quão boa essa parte das nossas vidas apresentava ser. O quão mágico, fácil e colorido o mundo ao nosso redor soava.

"O conto de fadas na realidade", eu dizia baixinho.

Mas é claro, como tudo na vida acaba, o conto de fadas também desaparece. Lentamente ou em modo gradativo. Não importa. No segundo em que a inocência desaparece dos nossos olhos, não há como voltar atrás. Não há mais brilho, as cores vão embora, e tudo o que nos resta é o amargo preto e branco.

Dizem que quando você conhece a sua alma gêmea, você passa a enxergar colorido novamente. Talvez seja isso que explique aquela leveza e felicidade que você sente o tempo inteiro. É como experimentar um pedacinho daquela alegria da infância com a maturidade que você ganhou nos últimos anos. A única diferença, é que agora a realidade está no conto de fadas.

~~

"Eu não quero fugir."

A voz à beira do choro fazia meu peito arder. Droga de sentimentalismo.

"Eu não vou deixar eles te levarem, Camila."

As órbitas me fitavam com preocupação. Medo de não saber absolutamente nada do que estava por vir. Senti um toque delicado em meu ombro no segundo em que fechei o guarda-roupa e joguei três peças de roupa em cima da cama.

"Amor..."

"Se vista", pedi. "Coloque qualquer coisa, eu não me importo. Vamos sair daqui em cinco minutos. Por favor, esteja pronta quando eu voltar."

Era evidente o quanto ela estava odiando tudo aquilo. O quanto ela desprezava o preço da liberdade. Cristo, como eu queria que as coisas fossem diferentes.

Assentiu relutante enquanto forçava um sorriso nos lábios. Decidi rumar em direção à sala para me poupar da cena de vê-la chorando. Encontrei Taylor segurando uma Violet assustada no colo enquanto Dinah andava de um lado para o outro no segundo em que pus os pés no corredor.

"Vocês vão sair?" Minha irmã indagou aflita. A garotinha em seus braços estava prestes a chorar e eu sabia exatamente o porquê. Meu lado maternal gritava para que eu a pegasse no colo e cantasse qualquer coisa na tentativa de acalmá-la, mas eu sabia que não havia tempo para isso.

Encarei Dinah à procura de respostas. Eu sabia que iríamos fugir. Eu só não sabia pra onde.

"Meu apartamento", a enfermeira responde com urgência. Retira um molho de chaves e um pedaço de papel amassado do bolso. "É um prédio antigo, fica afastado da cidade."

"Okay..."

"E eu sei o que você tá pensando", ela rola os olhos. "Mas não se preocupa. Eles não vão procurar vocês lá."

Sorri nervosa ao pegar as chaves e o endereço do local.

"Como você sabia? Quer dizer... Quem te contou uma informação dessas? Essas apreensões não são confidenciais?"

"Agradeça a Deus por Beth perambular pelos corredores à noite e escutar isso a tempo."

"Beth ouviu isso?"

Get Me OutOnde as histórias ganham vida. Descobre agora