Wait Outside

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É incrível como a ironia trabalha na minha vida. Há duas semanas atrás eu estava me arrumando e descendo o elevador do meu prédio para finalmente – após dois anos de muita espera e ansiedade – buscar minha irmã em uma clínica psiquiátrica.

Nesse mesmo dia eu me perco nos intermináveis corredores daquele lugar e acabo conhecendo uma mulher taxada como louca – que, além de salvar a minha vida no caminho de volta pra casa, me faz voltar lá por pura compaixão e prometer a ela que eu a tiraria de lá.

Hoje eu estou aqui, dentro do carro, levando a irmã dela de volta pra casa e tentando me recuperar do melhor beijo da minha vida.

Ah, ironias.

Surtar definitivamente não era uma opção. Depois de um breve "volta logo" e mais um beijo na testa eu finalmente me vi livre para rumar em direção ao estacionamento. Passos trôpegos e respiração irregular não passaram despercebidos pela Cabello mais nova. A primeira coisa que eu ouvi ao sentar no banco e fechar a porta – com muita dificuldade, por sinal – foi:

"Você está bem?"

Não, eu não acho que bem chegava perto de descrever o meu estado. Talvez extasiada ou maravilhada fizessem jus às minhas sensações, mas ainda assim eu não sabia explicar o que eu estava sentindo. Eu podia responder que eu não estava nas melhores condições para conversar e apenas levá-la pra casa em um silêncio total no caminho de volta, mas eu sabia que isso estava perto do impossível.

"Ahn... Eu não sei", falei rindo. Eu tinha certeza absoluta de que eu parecia uma completa idiota, mas a esse ponto eu simplesmente não ligava.

Ela me encara com as sobrancelhas arqueadas e esboça um sorriso nos lábios idênticos ao da irmã.

"Você não sabe?"

"É... Estranho, não?"

Sofia ri. Ela provavelmente deveria estar pensando que eu estava bêbada ou alguma coisa do tipo, quando na verdade eu só estava em um estado de puro choque com os últimos acontecimentos envolvendo uma morena de olhos castanhos.

Ficamos em silêncio e por algum motivo eu decidi que tentar ligar o rádio era a melhor coisa a se fazer no momento. Infelizmente a minha coordenação motora não parecia ajudar e achar a sequência certa de botões para mudar uma estação era uma tarefa quase impossível de se fazer com as mãos trêmulas.

"Lauren..." Sofia murmurou ao meu lado. "Você está tremendo."

Soltei um riso tentando controlar minha respiração. A mais nova colocou a mão no meu ombro e me empurrou delicadamente contra o banco para que eu pudesse relaxar.

"Você tem certeza de que está bem?"

Fechei os olhos e puxei o ar com força para dentro dos pulmões. A sensação de tontura fazia com que tudo ao meu redor acontecesse em câmera lenta e eu não fazia ideia de como eu seria capaz de pegar três horas de estrada nesse estado.

"Lauren?"

"Sim?"

"Fala comigo", ela insiste. "Eu preciso que você fale comigo, ok?"

Assenti debilmente. Alguns segundos depois eu escuto o barulho de algo plástico batendo contra o painel do carro e a voz de Sofia ecoar novamente.

"Beba isso", abri os olhos para dar de cara com uma garrafa d'água em minha frente. "Você cuidou de mim antes. Nada mais justo do que eu fazer o mesmo agora."

Sorri com as palavras. Após alguns goles gélidos a ardência de minha garganta parecia sumir aos poucos.

"Obrigada", falei.

Get Me OutOnde histórias criam vida. Descubra agora