Take Shelter

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Ecos. O vai e vem de pessoas caminhando de um lado para o outro na sala de espera do hospital estava me levando à loucura. A televisão ligada transmitia algum programa culinário que eu realmente não dava a mínima, e a cada vez que um médico aparecia na porta com uma prancheta em mãos, o meu corpo inteiro gelava.

“Eu comprei um lanche”, a voz de Ally surgiu no portal da sala e eu levantei minimamente os olhos para observá-la.

“Mas eu disse que eu não queria nada.”

“Você precisa comer, Lauren”, ela diz sentando ao meu lado enquanto estendia um pacotinho de bolachas salgadas e uma lata de refrigerante na minha direção.

“Ally, eu não—”

“Já fazem quase três horas. Eles provavelmente vão ter que fazer mais exames ainda e isso consequentemente vai fazer com que nós fiquemos mais tempo ainda aqui. Por isso eu preciso que você coma a droga dessa bolacha e tome a porcaria desse refrigerante pra não desmaiar de fome.”

Rolei os olhos. Eu sabia que Dinah seria a primeira a telefonar para a texana assim que a ambulância saísse da clínica. Meia hora depois de Camila ser levada para uma bateria de exames – e por que não, algo cirúrgico –, a advogada apareceu completamente transtornada no lobby do hospital.

Duas horas e quarenta e três minutos esperando alguém dar notícias dela. Era esse o tempo exato que eu estava esperando uma única pessoa chamar pelo meu nome na sala de espera e me explicar qual era a situação atual de Camila. Duas horas e quarenta e três minutos. Eu contei eles. Não era tão divertido.

“Você vai comer ou não?” Ally pergunta novamente.

Respirei fundo tentando controlar meus nervos.

“Só o refrigerante já está bom”, falei pegando a lata da mão dela.

“Sua irmã ligou”, ela diz recostando o corpo contra a cadeira acolchoada. Meus olhos seguem o movimento.

“O quê? Quando?”

“Eu estava tentando pegar uma barra de chocolate da máquina de doces e o meu celular começou a tocar”, a advogada abre lentamente o pacote que tinha em mãos e em seguida levanta a cabeça para me encarar. “Acontece que se você não selecionar o que quer da máquina em menos de trinta segundos, ela come o seu dinheiro.”

Franzi o cenho.

“Quatro dólares na lata do lixo, dá pra acreditar?” Ela rola os olhos e leva uma bolacha até a boca.

“O que ela queria?” Indaguei curiosa.

“Bom, tecnicamente ela ligou apenas pra avisar que Violet ainda estava dormindo.”

“Ok. E...?”

“Digamos que ela resolveu passar o tempo usando o seu notebook e casualmente viu que você havia recebido um e-mail do seu pai.”

Engoli seco. Eu não tinha notícias dele há quase dois meses.

“Às quatro da manhã de uma terça feira?”

“Yeap. Aparentemente você foi multada”, ela ri. “Duas vezes, aliás.”

“O quê?”

“Eu sei que eu não devo me meter em assuntos de família, mas você realmente achou que fosse uma boa ideia comprar o seu carro no nome dele? Tipo, quantos anos você tem? Cinco?”

“Eu não tô entendend—”

“Lembra daquela vez que você praticamente fez seu carro voar até Briarcliff quando descobriu que ela tinha sido transferida?”

Get Me OutOnde as histórias ganham vida. Descobre agora