Unplanned Changes

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Entrei no carro aos prantos. A sensação de deixar Camila para trás era a mesma de quando eu vinha visitar Taylor e ia embora sem ela. Só que pior.

Muito, muito pior.

Sequei minhas lágrimas com as mangas do meu casaco. Liguei o carro e peguei a estradinha de volta para casa. Decidi não ligar o rádio. O silêncio parecia confortante e ligeiramente agradável. Abri o vidro e deixei o vento congelante bater em meu rosto.

Eu não sentia nada.

Era um vazio que me consumia, algo que eu nunca havia experimentado antes. Uma mistura de raiva e pena. Raiva pela falta de humanidade da parte dos pais dela e pena por ter que deixá-la naquele lugar à própria sorte.

Sorte.

Isso definitivamente não existia lá. O modo como ela me olhou e perguntou se eu iria voltar lá já dizia tudo. Nove anos. Chegava a me dar náusea só em pensar nas coisas que ela já havia passado lá dentro.

Os maus tratos, o abuso de autoridade, a medicação sem controle médico algum. Eu não ia me perdoar se algo de grave acontecesse com ela pelos próximos meses.

Porque se dependesse de mim, ela já teria saído de lá hoje.

~~

O resto de sábado e o domingo passaram num estalar de dedos. Taylor não conseguia parar de falar no quão incrível o final de semana dela com Chris tinha sido bom, e pra falar a verdade eu estava mais do que contente em ouvir que os dois não haviam perdido os laços. O único problema é que é difícil tentar bolar um plano pra tirar uma pessoa de dentro de um hospício com uma irmã que não cala a boca um segundo ao seu lado.

“Nós compramos revistas!” Taylor fala sorrindo enquanto dava uma mordida na torrada em sua frente. “Chris disse que sábado que vem nós podemos sair com a namorada dele.”

Tomei um longo gole de café e rolei os olhos. Encarei meu celular em cima da mesa. Deus, não havia café suficiente no mundo pra me acordar apropriadamente às 8 horas da manhã de uma segunda-feira. Um estalo me fez voltar a realidade.

“Você está no mundo da lua hoje, não?” Taylor fala rindo.

“Desculpa... Eu só tô pensando em algo aqui...” Falei despreocupada.

“Se importa em compartilhar?”

Engoli seco.

Eu sei que era errado esconder isso tudo dela, até porque até mesmo Camila já sabia. Mas eu simplesmente não conseguia achar um timing correto pra revelar isso tudo a ela.

Não era o momento certo, eu acho.

“Não é nada demais.” Dei de ombros. Levantei da mesa e peguei meu celular. “Termine a sua torrada e tire as coisas da mesa”, falei me afastando.

Ela balança a cabeça tomando um gole de suco.

Entrei em meu quarto e fechei a porta. Sentei na cama e encarei o aparelho em minhas mãos. Eu sabia exatamente o que fazer, mas havia algo me impedindo. Eu já havia cogitado e executado o plano umas duzentas vezes na minha cabeça. Não tinha como dar errado. Era perfeito.

Respirei fundo e dei alguns toques na tela até chegar na agenda de contatos e achar o nome que eu procurava. Levei meu celular até o ouvido e escutei uma sequência de toques até que uma voz preencheu a linha.

“Alô?”

“Eu preciso da sua ajuda”, foi tudo o que eu disse.

Ela deu um risinho fraco.

Get Me OutOnde histórias criam vida. Descubra agora