Dazed and Kinda Lonely (part I)

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Eu sou um paradoxo.

Eu quero ser feliz, mas eu constantemente me pego pensando nas coisas que me deixam triste. Eu sou preguiçosa, e de uma forma muito curiosa, eu também tenho ambição. Eu não gosto de mim mesma, mas eu também me amo. Eu digo que não me importo, mas não há um dia que passe sem que eu pense naquela coisa "insignificante". Eu almejo atenção, mas a rejeito na primeira oportunidade que posso. Eu sou uma contradição ambulante. Se eu não conseguir me entender, ninguém vai.

~~

Dor.

Foi a primeira coisa que senti no momento em que eu abri meus olhos na manhã seguinte. Minha garganta queimava como brasa e minha cabeça latejava. O som do vento contínuo batendo contra minha janela era a única coisa que se fazia ouvir no cômodo pequeno, e apesar da quantidade excessiva de cobertores, a cama se encontrava fria. Vazia, sem vida.

Depois de tudo o que havia acontecido, eu realmente não esperava acordar na primeira manhã, em um cenário como esse.

Não deveria ser assim. Não era pra ser assim.

Levantei na ponta dos dedos e caminhei até a porta. Por algum motivo uma onda de receio e ansiedade tomou conta do meu corpo. A maçaneta parecia queimar meus dedos e o abrupto feixe de luz que se fez visível, me fez piscar os olhos.

Ela não pareceu notar a minha presença quando eu caminhei pela sala e a vi ao lado de Taylor no sofá. Ou talvez ela tenha me visto e apenas decidiu me ignorar. De qualquer forma, ela teve sucesso em ambos os casos. Minha irmã foi a primeira a notar o olhar caótico que eu direcionava a elas.

"Hey! Bom dia, dorminhoca!" Ela fala em um tom divertido enquanto fazia malabares com o controle remoto em mãos.

Ignorei o bom humor excessivo da caçula e lancei um olhar questionador à Camila. Ela parecia me ler de cima abaixo, mas não demonstrava sinal algum de que iria falar alguma coisa. Os olhos completamente vazios, sem emoção alguma. Inertes. Não piscava ou movia um músculo sequer embaixo do edredom quadriculado que dividia com Taylor no sofá.

Então era apenas eu, com dor, parada no meio da sala, o olhar vidrado ao dela, e me sentindo a pior pessoa do mundo. Engoli seco no momento em que ela inclinou a cabeça para o lado como quem diz o que você ainda tá fazendo aqui?

Cristo, ela estava me julgando. Na minha própria casa. E com razão.

O contraste do clima de ontem para hoje era absurdo. A frieza e melancolia eram completamente palpáveis no ar, e eu não a culpava por estar agindo assim. Afinal de contas, depois da idiotice que eu havia feito na noite passada, eu definitivamente não conseguia imaginá-la fazendo outra coisa a não ser se auto proteger.

E era irônico perceber que Taylor não fazia a menor ideia do que estava acontecendo ao seu redor. A constante troca de olhares entre Camila e eu permanecia completamente desconhecida para ela, e o par de olhos verdes agora estavam fixos na televisão da parede oposta. Não era ridículo? Minha irmã estava no mundo das nuvens enquanto a mulher da minha vida e eu discutíamos mentalmente através de olhares.

Quando eu era menor, eu costumava ouvir de meus pais que sempre irá existir um determinado período na sua vida onde você odeie tudo e todos, e especialmente você mesmo. Nenhuma das suas ações parece condizer com os princípios que você dizia ter, e a cada vez que você toma uma nova decisão, acaba se arrependendo instantaneamente. Era exatamente assim que eu me sentia no momento.

Eu me odiava.

"Bom dia", falei para ninguém em particular.

Pude sentir o olhar dela queimando buracos nas minhas costas enquanto eu me dirigia à cozinha. Ao me sentar em um dos banquinhos altos em frente à bancada da ilha, percebi a caixa da pizza de ontem aberta sobre a pia. Um riso sem humor ecoou em minha mente, e por um segundo eu me perguntei em que momento as coisas começaram a dar errado em um intervalo de menos de 24 horas.

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