Red Liquors and Silver Keys

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"As vezes tenho a sensação de que o universo luta para que almas fiquem juntas. Existem coisas extraordinárias e fortes demais para serem classificadas apenas como coincidências."

~~

O chão acarpetado abraçava a sola de minhas botas naquele dia congelante. Já não conseguia sentir meu nariz a esse ponto.

Estiquei meus dedos na tentativa inútil de tentar fazer aquela câimbra horrenda ir embora. Meu celular vibrou contra meu bolso e um sorriso instantâneo se formou em meus lábios.

"Eu te amo. Você consegue, anjo." – C .

Engoli seco diante das palavras. Deus, se não fosse por ela, eu nem sairia de casa. Muito menos viria me enfurnar em um escritório 4x4 em uma tarde de quinta-feira.

Agradeci mentalmente por ter pego um táxi. A saída da cadeira de rodas foi incrivelmente repentina, e Camila argumentou horrores sobre a necessidade de eu precisar ao menos uma muleta para me locomover, mas a verdade era que, eu não sentia mais dores. Conseguia andar normalmente como se nenhum carro houvesse colidido contra o meu.

O problema era apenas as fisgadas repentinas que apareciam toda vez que eu caminhava mais do que o necessário. Nesse caso, os três lances de escadas que tive que subir, quando percebi a plaquinha vermelha de manutenção pendurada do lado de fora da porta do elevador.

"Srta. Jauregui?"

Meus olhos seguiram a fonte da voz melódica fazendo me deparar com uma senhora gorducha de camisa social e saia risca de giz. Um crachá perfeitamente alinhado pendia em seu seio esquerdo e segurava seu nome em letrinhas pretas.

"Huh..."

"Estão aguardando a Srta. na outra sala. Posso levá-la até lá?"

Estava intacta. Congelada. Paralisada. Deus, e agora? Já estavam me esperando e eu nem tive a decência de me arrumar – mais física do que psicologicamente.

"Huh... Claro."

Forcei um sorriso amarelo e deixei-me ser levada por aquela senhora, que, por um momento, lembrou a figura de minha avó.

Caminhamos por um corredor extenso, localizado exatamente no meio do andar, onde imensas placas de vidros substituíam paredes e nos permitiam ver cubículos e seus respectivos donos teclando em seus computadores e gritando com telefones na mão. Estavam fazendo seus trabalhos, acredito.

Por um momento, tive a leve sensação de que meu cabelo estava parecendo um ninho de rato – considerando que, umas três ou quatro funcionárias passaram a me encarar à medida que eu seguia a secretária gorducha. Ela caminha rápido demais, pensei.

Eu estava tão encantada com a magnitude da arquitetura do prédio que não me dei conta quando a mulher em minha frente parou de andar e virou-se para trás. Travei minhas pernas de forma súbita e arregalei os olhos quando a secretária segurou meus ombros para que eu não tropeçasse sobre ela. Eu queria morrer naquele momento.

"Ei... Cuidado, garota", ela riu. Não possuía tom algum de julgamento ou algo do tipo.

Pra falar a verdade, ela mais parecia uma avó controlando uma neta desgovernada, do que uma secretária preparando uma candidata a emprego para entrar em uma entrevista. Minhas bochechas queimavam.

"Desculpa, eu estou muito nervosa."

"Você vai se sair bem. Vejo nos seus olhos o potencial que tem."

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