Último Capítulo - PARTE III

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TERCEIRA E ÚLTIMA PARTE

VIII

Um pesado caneco submergiu no ar e bateu rudemente sobre a superfície de madeira, fazendo o homem adormecido sobre a mesa despertar num sobressalto, deixando escapar um grunhido assim como um macaco. Seus olhos assustados e ainda sonolentos se reabriram, confusos, e fitaram a redonda servente que tinha uma grande verruga peluda no queixo. Esta lhe observava com grande desprezo.

- É a última coisa que lhe servirei, e depois deverá partir, está assustando a clientela!

Os olhos semicerrados do bruxo fitaram o âmbito a sua volta, efetivamente as horas tinham corrido mais rápido do que esperava e pela quantidade de pessoas naquela taverna, já deveria passar do meio dia. Todos os clientes presentes espiavam-no sem discrição.

- Eu estou assustando-os? - questionou com deboche, sem poder tirar os olhos da grande verruga peluda.

- Se coça como se tivesse pulgas e tem mais pelos que um homem comum! Sem contar com esses grunhidos!

O homem quis responder, mas seus movimentos ainda não lhe respondiam corretamente, ele arreganhou os lábios e bateu os dentes.

- Eu estou em transição, mulher! À propósito, em que ano estamos?

Com desgosto, a servente lhe empurrou o caneco.

- Essa é a última cerveja que lhe sirvo, espece de selvagem!

Ele revirou os olhos, entediado, e estes caíram sobre um pequeno inseto que se movimentava pela mesa. Arregalou as pálpebras quando viu que se tratava de uma bendita joaninha! Seus lábios se entreabriram e com a cabeça ele começou a segui-la, para contar suas pintas. Por mais que seu instinto de macaco lhe desse vontade de dobrar-se sobre a mesa e comê-la, se obrigou a se controlar! Aquilo era um sinal de sorte! Tudo que estava esperando nos últimos dias, um maldito sinal de sorte!

- Eu quero que jogue um jogo comigo! - pronunciou as palavras quase que atropeladas, recebendo uma expressão crítica da servente.

Mas, o bruxo ignorou sua reação, rapidamente arrancou um vilar enferrujado do bolso, atirou-o para o ar e deixou-o cair sobre a mesa, esperando ansiosamente para ver seu resultado. Quando vislumbrou o desenho ilustrado no anverso da moeda, que representava as quatro estações, uma incontrolável felicidade domou seu corpo.

- Ah, Ceres, sua safadinha - ele gracejou, rindo involuntariamente sentindo a glória correr a flor da pele. Aquele seria uma nova era de sorte! A servente por sua vez, era incapaz de se mover, mesmo que quisesse, seus membros tinham se tornado duros como uma velha pedra. - Irá retornar com mais cerveja e roupas apropriadas para que eu me vista adequadamente. Está na hora do Grande Bruxo Klaus Fletcher retornar ao mundo real!

Contra sua vontade, a servente partiu a procura de todos os itens desejados, enquanto Fletcher lhe fitava com um amargo sorriso nos lábios, acenando amigavelmente. Aquela nova era seria promissora!

+++

Sob o manto celestial azul, singelas nuvens refletiam os tons quentes do solo avermelhado. Com os primeiros raios solares erguendo-se no vasto céu, os olhos amarelados do Comandante Berbatov puderam pela primeira vez observar atentivamente a paisagem inédita que se engrandeceu à medida que se aproximava, roubando até mesmo um suspiro de seus lábios.

Ainda deveria ter algumas léguas de distância de seu destino, porém tinha estrategicamente vindo pelos caminhos que levavam para as rochas mais altas que facilitavam o acesso ao desfiladeiro, tendo assim uma ampla visão do local. Estava ainda no início das terras do Mar do Inferno, o que significava que tudo era rochoso e os supostos vulcões ainda não visíveis, somente um: a boca do inferno. O único vulcão da região que ao invés de vapor, soltava lava. Há quilômetros de distância dali, via a névoa que o encobria, certamente pelos gêiseres espalhados pelo local. Hora sim, hora não, jatos de vapor eram espirrados para fora, e seus sons podiam ser ouvidos de longe, como suspiros monstruosos, algo que provocava arrepios.

Ceres - O Retorno Da Escuridão [LIVRO 3 - COMPLETO]Where stories live. Discover now