Ceres - O Retorno Da Escuridão [LIVRO 3 - COMPLETO]

Último Capítulo - Parte I

Capítulo Quarenta

O imponente sol se erguia no céu no alvorecer, levando sua cintilância fulgurante sobre o quarto arejado do Casal Comandante. A calma que refletia no exterior demonstrava o oposto no interior, onde o caos reinava por todo âmbito. Jarras vazias espalhadas pelas mesas, lençóis embolados pelo assoalho, vestes jaziam atiradas por todos os lados, e sobre o chão, os dois estavam deitados, ainda despidos, cobertos por uma tapeçaria que tinha sido arrancada da parede na noite anterior, num acidente.

Sonolenta, Mia esfregou as pálpebras pesadas, extremamente irritadas com aquela luz excessiva. Sua cabeça estava ao ponto de explodir e a garganta seca como o próprio deserto. Precisou de alguns minutos para recordar-se do que diabos tinha feito na noite passada que causara uma exaustão no corpo, extremamente dolorido. Reparou na corda ainda envolvida no seu pulso, e enfim conseguiu retomar sua consciência.

Após a reconciliação, ela e o ladrão resolveram roubar algumas bebidas do banquete e trazer para o quarto. Foi sua última recordação com clareza. Descabelada, ela ergueu-se sobre o chão, e fitou Berbatov, desmaiado ao seu lado.

– Berbatov, acorde – Mia o chacoalhou, assustada com a quantidade de ronchas no seu peitoral largo que vinham do abdômen até o pescoço, certamente causadas por ela. – Deuses, o que fizemos com o quarto?

O arqueiro deixou um sorriso travesso correr nos lábios, rindo, ainda de olhos fechados.

– Estou falando sério – insistiu, o balançando.

– Apenas a conciliação mais épica do mundo – replicou, com troça. – Deveríamos brigar mais vezes, Norwood.

Mia respondeu com uma careta, e ele enfim se deu o trabalho de abrir os olhos. Fitou-a com as íris amareladas fazendo-a simultaneamente relaxar, depois mostrou-lhe um sorriso preguiçoso.

– Estou falando sério – ela tentou manter a forma, que tipo de comandante seria se deixasse seduzir tão facilmente por olhos como aqueles?

– Estou falando sério – o ladrão imitou seu tom, para pirraçá-la, terminou por puxá-la para perto de si e lhe encher de cócegas até que a fizesse rir. Rindo e se debatendo, ele se deixou envolver num beijo que terminou em mais risadas quando anunciou estar com o corpo dolorido.

E aquela doce harmonia foi rapidamente erradicada quando a porta do quarto se abriu com violência e Caliana kan Hakan surgiu. A expressão rija dos traços do rosto não escondeu seu asco ao se deparar com o caos espalhado no âmbito. Continuou a aproximação, mesmo se eles ainda estivessem nus sobre o assoalho.

– Claro, entre e sinta-se a vontade – Lucky ironizou. – A filha do sol chegou tarde, porém se desejar, podemos repetir os acontecimentos de ontem para que você possa acompanhar tudo de pertinho.

Mia sufocada por um riso, escondeu-se debaixo da tapeçaria, como uma criança arteira.

– Limpe essa boca suja e vistam-se – ela rosnou. – Temos uma conversa séria pendente.

Franzindo o cenho, Mia desvencilhou-se de Berbatov e cobriu a totalidade do seu corpo com a tapeçaria. Ele, por sua vez, livre de qualquer pudor, sentou-se sobre a cama, entediado.

– O que aconteceu, Caliana?

– Pergunte ao nosso Comandante, ou melhor, deveríamos perguntá-lo onde esteve ontem a noite.

Mia e Lucky trocaram um olhar confuso.

– Claramente revirando esse quarto de cabeça para baixo. Se duvidar, a prova viva jaz à sua frente, completamente descabelada.