Capítulo Trinta - Parte II

4.2K 313 2.7K
                                    

IV

Lucky ouviu seu nome ser chamado num sussurro frio e distante. Fazia luas que não adormecia tranquilamente, e ainda sentia o cansaço martirizar seu corpo. Sua mente ainda não estava totalmente consciente para acordar. O que lhe fez despertar violentamente foi o solavanco da chalupa. Ofegante, entreviu um líquido esparramado pelo chão, molhando uma de suas pernas, e depois avistou seu odre caído. Sua cabeça girava em círculos. Não sabia o porquê, mas o cheiro do álcool impregnava seu nariz e lhe causava enjoo. Estava forte e intenso, como se toda sua veste tivesse sido imergida nele, mas a sensação lhe era um tanto estranha. Não lembrava-se de ter bebido até perder o controle na noite anterior. Lembrava-se que estava com Mia, que ele a consolou em seus braços até que ela adormecesse.

Derrubou a pesarosa cabeça para o lado e percebeu preocupantemente que a princesa não estava mais ali. A única coisa que fora deixada para trás era um rastro de sangue.

Ele arfou, e rapidamente tentou se colocar em pé. Uma assombrosa vertigem lhe rodava. Chamou por seu nome, experimentou a falta de equilíbrio pelo balançar incessável do barco. Alarmado, procurou pelos demais tripulantes e não encontrou ninguém a sua vista, somente paredes manchadas com sangue. Tentou andar sobre a superfície instável do casco, que fazia seu mundo balançar.

Berbatov gritou por Mia, e ouviu um sussurro lhe responder. Alguém soprava seu nome.

Procurou a volta, e somente o vazio lhe circundava. Naquele momento, desejou ver qualquer rosto, qualquer pessoa, mas somente a fria e mortífera solidão lhe acompanhava.

O coração acelerou e ele tornou a gritar pelo nome de Mia, e novamente ouviu seu nome ser sussurrado. Tendo a certeza de que ninguém estava na parte inferior do barco, subiu esperando encontrá-la na parte externa. Ainda era noite, mas nenhuma estrela ou lua adornava o céu. Berbatov viu como o furioso mar se debatia em seu manto fazendo o barco dançar em sua superfície. Procurou por qualquer ser, e nada lhe rondava, estava só.  Ninguém estava a bordo. Quando seu nome foi sussurrado pela última vez, ele percebeu que vinha da ilha.

A ilha estava lhe chamando.

Lucky forçou-se a abrir os olhos sonolentos para escapar daquele pesadelo, e uma vez que retomou a consciência, procurou por Amélia. Ela não estava mais deitada sobre seu peito, mas curiosamente avistou-a numa posição pouco comum. Estava de costas para ele, com os joelhos e uma das palmas das mãos coladas ao assoalho. Tinha uma generosa visão para seu quadril, vendo as nádegas empinadas diretamente para seus olhos.  Ela tinha toda sua atenção fixada no conteúdo de um dos caixotes que os contornavam, e por vezes balançava seu corpo fazendo-o ficar excitado.

– É uma boa maneira de acordar – ele comentou, sorrindo.

Assustada, viu-a bater a cabeça contra a tampa de madeira, e rapidamente sentar-se no chão.

– Com o quê? – Ela lhe lançou um olhar irritado, enquanto apertava a parte da cabeça machucada.

– Com o barulho obviamente – respondeu cinicamente, com um sorriso malicioso desenhando os lábios. – Posso saber o que a princesa procurava arduamente no fundo do caixote?

– Não é o que estava procurando, é o que encontrei – Mia deixou uma sombra pairar no seu semblante e o ladrão colocou-se sobre os joelhos, espiando o conteúdo. – São inúmeras armas!

E eram, somente num rápido olhar, avistou sete bestas intactas, mais algumas lanças pontiagudas que forravam o fundo da caixa.

– E todas as outras caixas também possuem mais armas.

Lucky forçou com os braços, levantando o caixote e espiando o que estava embaixo. Ela estava certa, também preenchida com armamento.

– Por que trariam tantas armas para a ilha? – Mia sussurrou, espiando se alguém lhes ouvia. – Sobretudo quando apenas somos, éramos em seis?

Ceres - O Retorno Da Escuridão [LIVRO 3 - COMPLETO]Where stories live. Discover now