Capítulo Nove

2.8K 333 677
                                    

Capítulo Nove

A princesa sentia o vai e vem do balançar da liteira, enquanto pronunciava silenciosamente e receosamente o fim de sua reza. Seus ouvidos se atentaram involuntariamente ao barulho que vinha do exterior, conversas aleatórias, cacarejos, batuques entre outras coisas. Ousou espiar pela cortina e um forte tom de pastel refletiu em seus olhos castanhos. Oksanna avistou inúmeras casas de calcário amontoados e tendas de mercadorias coloridas, sentindo também um odor repugnante. Viu em seguida a quantidade de olhos arregalados e curiosos estavam sobre si, rapidamente se escondeu.

– Gosta do que vê? – Earleen perguntou.

– Parece sem vida – ela admitiu, arrependendo-se imediatamente, não deveria se expressar daquela maneira ao lado de sua companheira.

– Compreendo, a capital tem mais cores, mais vida. Mas aprenderá a gostar.

A princesa aquiesceu, sem realmente acreditar naquela hipótese.

Sem demora, elas chegaram no castelo de Nassor. Uma grande fortaleza de calcário. Tinha formas predominantes como o quadrado e o retângulo, algo nos pensamentos de Oksanna não a fez pensar num castelo e sim em algum tipo de exilio para traidores ricos.

– Bem vinda ao seu novo castelo – Earleen abriu um sorriso amigável, estes eram raros. Era uma mulher direta que não costumava demonstrar afeição por nada. O mais intrigava a menina eram os desenhos que via na nuca nua. Não eram belos, mas visíveis e chamativos.

Elas desceram da liteira e Oksanna sentiu o mormaço queimar sua pele, o calor do deserto que cercava a cidade era sufocante. Foi levada para dentro de seu castelo para banhar-se e tirar a areia do corpo. Segundo as ordens, deveria se preparar para sua refeição com seu marido.

– Serei apresentada a algum familiar? – Oksanna perguntou para sua companheira, quando notou todos os preparativos em seu quarto particular. Lhe indicaram que aquele aposento seria apenas para suas preparações diárias, entretanto era um aposento enorme. Parecia até mesmo uma casa de verão num oásis. Grandes arcos que arejavam o âmbito, tapeçarias amarelas e alaranjadas, com plantas espalhadas por todos cantos.

– Nossa senhoria não tem nenhum familiar.

– Pai, mãe? – Ela quis saber. Ficou surpreendida, ao ver Earleen menear a cabeça. – Nem sequer um primo?

Earleen fez questão de contornar o assunto, perguntando para uma das aias o que ela vestiria naquele dia.

– Essas serão suas aias, Oumou e Maymuna.

A princesa encarou as meninas, que faziam uma reverência. Oumou era raquítica e parecia ter uma cabeça desproporcional ao corpo, deveria ter por volta de trinta anos ou mais. Maymuna por sua vez parecia ter a idade da princesa, também era magra apesar do quadril avantajado, tinha belos cabelos cacheados e traços realçados.

– Olá, sou princesa Oksanna.

– Sabem quem você é – Earleen respondeu. – Tudo que não seja verdadeiramente importante, não me incomode, incomode elas. Certo?

Oksanna acenou com a cabeça observando suas aias.

– Voltarei mais tarde para acompanhá-la para o jantar – Earleen anunciou por fim, saindo do quarto.

– Gosta de seu banho morno ou quente, Vossa Majestade? – Maymuna perguntou numa voz terna.

– Morno, ficaria grata.

Maymuna afirmou com a cabeça e se retirou do quarto principal. Oksanna a acompanhou com o olhar até ter sua atenção desviada para o estridente barulho da bandeja de ouro que carregava uma cesta de frutas cair no chão, derrubado pelos finos dedos de Oumou. A princesa observou como ela teve dificuldade para se abaixar, como se sua perna não funcionasse da melhor maneira.

Ceres - O Retorno Da Escuridão [LIVRO 3 - COMPLETO]Where stories live. Discover now