Capítulo Vinte e Seis

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Capítulo Vinte e Seis

De queixo erguido e costas aprumadas, os olhos esmeraldas retribuíam o olhar depravado que recebia do senhor de Blackridge. Era jovem, mais jovem que esperava. Os senhores feudais do astral costumavam herdar oficialmente o trono dos pais após o trigésimo ano de vida. O menino deveria ter recentemente entrado na sua segunda década. Esguio e magro, o que deveria lhe dar mais peso eram os inúmeros acessórios de ouro. Ajeitava a cabeça sobre o braço apoiado no seu trono, com um sorriso corriqueiro nos finos lábios, que quando abriam-se, revelavam dentes extremamente brancos como leite. Um sinal de sua juventude ainda florescente.

Era compreensível a preocupação do imperador.

Marcus era metódico, dotado de um talento nato para estar sempre a um passo a frente de tudo e de todos. E aquela característica somente era capaz de prevalecer quando ele controlava tudo e todos a sua volta. Seus planos sempre estavam revestidos no seus reflexos.

Quando soubera que seu maior aliado, rei Talib, senhor do Oeste, já velho conceberia seu primogênito, Marcus certificara-se que o menino seria criado no Sul. Ekos aprendera ser imparcial, frio, meticuloso e disciplinado, uma cópia mal feita de seu mentor. Provara seu valor quando quebrou o coração de Mintaka, sua irmã, quando ela ainda era uma estrela pura, diferente de tudo aquilo que Nádia encontrou de retorno a Gardênia.

A Dominadora nunca conseguiu entender como Marcus aceitara aquela relação, uma moderatóris com o futuro rei de Helsker. A resposta somente viera com sua reintegração no império dos horrores. A relação deles somente prosperara, porque ela poderia atingir Nádia. Ekos quebrara o coração de Mintaka, corrompendo-a, e sua irmã simulou uma morte brutal para fazer Nádia acreditar que estava sozinha e seu único refúgio seria a escuridão. Se não quisesse sentir a culpa e a dor da solidão, deveria se corromper. Mas, a estrela nunca estivera pronta para se entregar, sua solução fora fugir e por aquilo, Marcus não esperava.

Agora olhando para aquele jovem menino, Félix Blackrigde, sentado no trono ainda quente do corpo do pai, observando-os superiormente como se o mundo lhe pertencesse. Era algo que Marcus certamente detestava.

– Permita-me entender – Félix arranhou a garganta, mexendo delicadamente o macaco que levava em seu ombro, um pequeno ser extremamente curioso com os olhos levados. – Vossa Majestade Imperial enviou-vos aqui para...?

– Protegê-lo, meu senhor – Sor Hawley pronunciou, com falsa cortesia. – Vossa Majestade Imperial entende a dor brutal de perder um pai, sobretudo para essa guerra traiçoeira...

– Que tomou início, se assim me recordo, com a ordem de nossa Majestade Imperial, ao derramar sangue nortenho sobre seus próprios tapetes.

Sor Hawley lhe mostrou um sorriso azedo.

– Tudo em nome de proteger nossos deuses – acrescentou o cavaleiro, com uma voz solene.

– Ah, deuses – Félix pareceu divertir-se. O macaco guinchou, como se risse com seu dono. – Penso que essas criaturas divinas devem ter uma baita diversão assistindo o caos que eles causam nessa terra.

– Os hereges são responsáveis pelo caos, e Vossa Majestade Imperial certifica-se de puni-los.

– Certamente, cavaleiro – o senhor assentiu, colocando-se fugazmente em pé, sobre as finas pernas. O primata trocou de ombro, andando com uma admirável facilidade sobre o couro do sobretudo que o senhor vestia. – Poderia ser relembrado de vossos nomes?

Sor Hawley apresentou-se, com uma paciência limitada, apontando para os dois outros homens que lhe acompanharam na viagem. Não pareceu achar de suma importância a apresentação da estrela.

Ceres - O Retorno Da Escuridão [LIVRO 3 - COMPLETO]Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora