Capítulo Trinta e Dois

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Capítulo Trinta e Dois

Com os pulmões preenchidos com a enegrecida fumaça que instalava-se no seu interior e queimava seu corpo de dentro para fora, Lucky Berbatov tivera que encontrar o equilíbrio para ser rápido e forte o suficiente para arrancar a princesa da casa subterrânea, mas ao mesmo tempo sem que precisasse continuar a inalar o ar tóxico que os encurralava. Aqueles minutos foram um dos mais longos e apavorantes de sua vida. O fogo que devorava tudo estava pronto para sucumbi-los na escuridão naquele âmbito imerso na terra, sem ventilação, tornado num forno humano. O arqueiro não sabia de onde tinha vindo aquela força ou aquela resistência ao calor, mas se não tivesse sido por elas, acreditava que ele teria morrido queimado e Mia sufocada.

Quando alcançou o corredor de saída, bateu rudemente na porta de metal ardente com pontapés e subitamente ouviu homens do lado de fora gritando de dor, mas unindo-se para abrir a única passagem que absorvera todo o calor do local. Quando o ar arejado tocou-lhe na pele, Berbatov entregou Mia nos braços de Kaleb para que ela pudesse alcançar o frescor com urgência, e uma vez que a princesa estava salva, esforçou-se para não sucumbir a vertigem que lhe cercou, mas precisou da ajuda de Yasir e Caliana para ser retirado da passagem fervente de metal.

Anelante, o ladrão tentava recuperar o fôlego do peito, mas sentia que sua pele estava em carne viva. Deveria ter tido queimaduras desesperantes, a dor que sentia lhe garantia isso agonizantemente. O mundo a volta era perturbadoramente barulhento, porém ele não conseguia se focar em nada. Investiu assim na visão, procurou Mia com o olhar, e avistou seu corpo estirado do lado de fora, encardido pelas cinzas, e Kaleb gritava com desespero:

– Ela não está acordando!

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Com as costas curvadas e as batidas incessantes do pé inquieto, Lucky Berbatov observava apreensivamente a pálida pele da princesa nortenha, ainda jazia inconsciente sobre a mesa de madeira. Na casa do curandeiro, Swamali contava com a ajuda de Myesha para todos seus pedidos. O ladrão ignorava o que era maior parte daqueles procedimentos, mas o que sabia era que Mia não respondia a nenhum. Respirava, mas tão baixo que por vezes era impossível de escutar. Seus batimentos quase inexistentes. E imóvel como uma estatua sobre a mesa. Estava há tanto tempo naquela posição que por vezes lembrava um cadáver, e ligeiramente espantava aqueles malditos pensamentos que surgiam sem seu consentimento e somente perturbava a situação.

– Lucky, tente pensar bem, nada pareceu estar errado com Eklissi? – Myesha insistiu.

Ele revirou os olhos e esfregou os dedos no couro cabeludo.

– Já disse mil vezes – arfou, exausto. – Bebemos, saímos do tumulto e continuamos a festa no quarto dela.

– Acredito que foi aí que as coisas começaram a dar errado – com um humor azedo, Swamali riu baixinho. Antes que o arqueiro reagisse com violência, Myesha controlou a situação, autoritariamente.

– Swamali mantenha o foco nela e eu faço as perguntas e os comentários para ele.

– Para fazer meu trabalho preciso de paz! E silêncio!

– Há algo mais que você acha que poderia ajudar? – A filha da Lua direcionou a pergunta para o ladrão que não teve nenhuma resposta. – Sinto muito, mas precisarei pedir para que você espere do lado de fora.

– O que farão? – ele tentou manter a voz limpa.

– Tentaremos acordá-la entrando na mente dela, através de magia. E se alguém que não esteja implicado no feitiço estiver na sala, poderemos errar nosso foco – o arqueiro manteve-se imóvel sem saber o que mais poderia dizer, mas não queria ir. – Sei que está preocupado, mas não há nada mais que você possa fazer, Berbatov.

Ceres - O Retorno Da Escuridão [LIVRO 3 - COMPLETO]Where stories live. Discover now