Capítulo Dezoito

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Capítulo Dezoito

O Palace Garden era tido como o jardim mais belo dos quatro reinos. Outrora, teria sido, como costumavam dizer, a menina dos olhos de Nádia. Aspirou fortemente que aquela fosse sua casa, porém não era capaz de sentir a mesma atração ou enxergar a mesma beleza. Enquanto andava num passo lento sobre sinuosas pedras que tinham sua superfície gravada com desenhos minuciosos e delicados por artesões renomados era como se tivesse sido levada para cento e cinquenta anos mais cedo.

Naquela época sua caminhada era mais próspera, segurava-se para não saltar todos os instantes que se movimentava. Amava ter pés. Eles a levavam para todos os lugares que quisesse ir, apenas precisava andar. Também podia saltar, mas via poucas pessoas saltando de um lado para o outro, então preferia não se exibir.

Era doce lembrar-se os olhares cúmplices que trocavam com as irmãs, brilhantes e iluminados, Mintaka e Alnitak. Elas riam, e encantavam-se com as inúmeras flores que cercavam. Espécies nas quais elas nunca tinham visto no Vale de Jugend. Escutava ao fundo o cantarolar harmonioso de diversas espécies que viviam naquele lugar.

Rodeadas pela personificação da própria beleza exótica das plantas que cresciam unicamente em Gardênia, adentrar aquela estufa era como penetrar num mundo alternativo, onde o mistério e a beatitude reinavam.

Os odores eram sobretudo estranhamente aprazíveis, por não serem específicos e especialmente fortes, de certa forma oníricos. A visão era dominada por cores exuberantes que atravessavam todas as possíveis misturas de tons e cominações. E o que ainda impressionava a estrela era as pétalas furta-cor das flores, a cada mudança de estação era como se as pétalas trocassem suas vestes.

Eram eternamente gratas pelo convite do rei para ficarem aquela noite num verdadeiro castelo!

No presente, os pássaros ainda cantavam e a beleza ainda existia, apenas era cega aos seus olhos.

Nádia jamais reviveria tal sentimento. Doce e traiçoeira inocência.

Aliviar sua mente de pensamentos sombrios era um exercício por vezes severo, mas necessário, por isso também tinha atenção para relaxar os músculos do corpo. Não tinha nem mesmo a sombra de uma ideia do que lhe esperava do outro lado do Palace Garden, mas deveria com a mente límpida.

A manhã tinha um ar úmido e o azul começava indolentemente tomar seu espaço no céu, até então coberto por nuvens cinzentas. Ainda trajava seu uniforme de couro, retornava de uma missão de sucesso liderada por ela mesma.

Após salvar a vida do imperador, foi uma questão de tempo para a estrela ocupar o lugar da irmã, seu antigo posto de Dominadora. Para seu profundo desgosto, ser a líder das moderatóris era algo que já estava na sua natureza. Todas as missões entregues em suas mãos eram bem sucedidas. E provava sua confiança a cada missão onde mesmo com tentadoras oportunidades de fugir, Nádia prevalecia.

Por mais que soubesse que o fingimento e a mentira faziam partes do seu ser, também sabia que lidava Marcus Lancaster, este em muitos aspectos se demonstrou estar na frente dela.

Recebera o anúncio que o imperador lhe esperava no jardim, no Nascer das Gardênias, era o local específico do poço que decorava o jardim, conhecido como a boca da pantera.

E ali estava Marcus Lancaster, a beira do poço, com o olhar perdido nas flores. Seus cabelos escuros eram enaltecidos pela frágil luz diurna, naquela manhã fria, o imperador usava um gibão marrom, com ornamentos negros, que combinavam com o couro das calças e das botas.

– Aprecia a beleza desse jardim? – Ele perguntou, numa voz distante.

– Por muito tempo, eu o apreciei – Nádia não se censurou.

Ceres - O Retorno Da Escuridão [LIVRO 3 - COMPLETO]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt