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— Talvez eu não tenha mais que cuidar da minha avó. — Falo entre meus devaneios virando de lado, encarando Billie.

Era um dia após os nossos estudos na biblioteca, sábado à noite, estava na casa do irmão de Eilish. O mais velho decidiu passar esses dois dias na casa da namorada, deixando a sua casa para nós duas, para que pudéssemos estudar sem mais interrupções e isso de fato aconteceu. Estudamos e relemos nossos resumos e partes especificas de alguns livros alguma vezes durante o dia entre um período de distração ou outro, e de fato me ajudou a ficar mais calma.

— Por que? Ela está melhor? — Pergunta curiosa bloqueando o celular entre seus dedos o pondo sobre o criado mudo antes de deitar virada de frente para mim.

— Não exatamente. Minha tia, que é viúva, mora em outra cidade que é mais perto da qual a minha avó mora. Ela se ofereceu 'pra ficar com ela, se eu conseguir um emprego legal posso pagar minha faculdade e parar de ir lá. — Explico baixo e calma, pela nossa proximidade.

— Ela paga sua faculdade? — Indaga.

— Paga, mas se trabalhar não preciso mais dela. — Constato.

Óbvio que essa história de avó doente era uma metáfora sobre a verdade, sobre a minha verdadeira realidade. Talvez devesse arrumar um emprego que consiga me manter na faculdade, de resto daria um jeito, não aguentava mais ser machucada. 

— Ela é tão ruim assim? — Billie questiona confusa.

— Péssima. Você não faz ideia. — Afirmo sorrindo e a ouço rir.

Eu a queria para mim e sentia como se a qualquer momento pudesse desabar em desespero por não a ter.

— CHARLOTTE FAZ ALGO 'PRA COMER ANTES QUE EU MESMA O FAÇA E JOGUE NA SUA CARA! — Grita em um tom engraçado me fazendo rir alto.

— Quase isso. — Concordo após cessar meu breve riso.

— Tenho dó de você. — Diz baixo, tendo um total contraste com o sua frase gritada anteriormente, a sinto mexer em meus cabelos.

— Também tenho. — Desvio meus olhos dos seus piscando algumas vezes para disfarçar as poucas lágrimas que os inundaram.

Fecho meus olhos diante de seus carinhos e uma maldita lágrima solitária escapa escorrendo pela minha bochecha esquerda.

— Não chora, vai ficar tudo bem. — Fala baixo e usa um de seus dedos para apagar gentilmente o rastro molhado.

Concordo com a cabeça em um suspiro baixo, tomo a liberdade passar meus braços por sua cintura e esconder meu rosto rente ao seu pescoço.

Seu braço direito estava em volta da minha cintura, sua mão esquerda deixava carinhos sobre a minha nuca. A festa virou um enterro de repente. A senti retirar a mão dos meus cabelos brevemente para apagar o abajur e então seus carinhos recomeçaram. Me concentrei nos mesmos e em sua respiração calma, assim como o pulsar de seu coração que refletia em um lugar especifico em seu pescoço.

[...]

Não percebi quando adormeci apenas soube quando despertei. Sozinha na cama, tinha um cobertor a mais em cima de mim. Puxo o ar com certa força e me viro para o lado contrario ao qual estava, pego meu celular confiro as hora era madrugada, se passavam das três.

Junto meu último resquício de coragem e saio debaixo das cobertas quentes. Dou leves passos até a porta, estava fechada, a abro com calma e ando pelo corredor, que dava na sala de estar, quando chego no final do mesmo vejo Billie, sentada rente o piano, ela dedilhava as teclas mas parecia errar pois parava de imediato e tentava novamente em seguida. 

Apoio o peso do meu corpo sobre meu ombro contra uma parede próxima ainda a olhando curiosa, a mesma não pareceu perceber, tirou os dedos do piado suspirou chateada e os estalou rapidamente. Sem demoras os mesmos dedilharam as teclas em uma melodia diferente.

It's a beautiful day
I wish this moment could stay
With the Earth
Some primal paradise
But there you go again
Saying everything ends
Saying you can't depend on anything
Or anyone... — Canta suave.

...If the end of the world was near
Where would you choose to be?
If there was five more minutes of air
Would you panic and hide?
Or run for your life?
Or stand here and spend them with me?
If we had five more minutes
Would I
Could I
Make you happy? — Seu tom sobe drástico e drámaticamente. 

Escuto cada palavra que saia de sua boca com atenção. 

Todos os dias eu vivo o meu próprio fim do mundo, sozinha sem ninguém por perto que possa me ouvir ou ajudar. Ninguém quer ouvir. Todos estão ocupados demais vivendo suas vidas e construindo seus futuros. Não fico triste com eles, se estivesse em seus lugares também não ligaria e sequer olharia para mim. Tinha tudo para dar certo, tudo para ser o que esperaram de mim mas não foi bem assim que se desenrolou.

Se tivesse cinco minutos para respirar o ar fresco e leve que procuro quando saio para correr todas as manhãs e ficar com alguém que me fizesse feliz. Eu o faria e então assistiria o fim de tudo.

Seu agudo me tirou dos pensamentos, mordo meu lábio inferior que tremia levemente deixando algumas lágrimas escaparem. E então, a música terminou. Billie se afastou do piano antes de sair dali, não estava muito preocupada com o que iria pensar quando me visse daquele estado.

— Charlotte? Tudo bem? — Pergunta preocupada.

— Tudo, é só que... — Pauso para secar rapidamente as lágrimas pelas minhas bochechas. — Que tenho absoluta certeza que não conseguiria escolher outra de mim em cinco minutos e muito menos me daria o trabalho de correr pela minha vida. Me sentaria ao seu lado e esperaria que tudo terminasse. — Digo e sorrio levemente. — Você me faz feliz, sabia? — Falo em um tom de surpresa enquanto a observava se aproximar.

— Não, eu não sabia disso. — Assume colocando uma mecha dos meus cabelo atrás da minha orelha.

— Todos os dias. — Sussurro a sentindo aproximar a boca da minha.

Seus olhos estavam fixos em minha boca mas a deixaram vindo de encontro aos meus, como se pedisse permissão, apenas entreabro meus lábios e fecho meus olhos em uma resposta silenciosa. Nossa bocas se encostam levemente antes de realmente se tocarem, em um selar demorado, e então Billie separa minimamente nossos rostos após o baixo barulho estalado. 

— Eu sei de tudo, Cherry. — Sussurra contra os meus lábios.

{···}

Hey,

Antes tarde do que nunca rs

Cuidem-se.

Call 666 • Billie EilishWhere stories live. Discover now