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Adentro a cafeteria e de automático solto um suspiro por estar sendo confortada pelo ambiente quente. Estava tão gelado lá fora, quando criança costumava amar o frio afinal a estação era cheia de neve, também tinha o recesso escolar devido ao Natal, a minha data comemorativa favorita, depois do meu aniversário claro, só que agora até o verão parece ser frio então nem faz tanta diferença assim.

Abro o sobretudo que usava enquanto passava os olhos pelo local, não achava que os reconheceria depois de todo esse tempo, quer dizer, não faz tanto tempo assim mas sabe como é; As pessoas mudam. No final tinha apenas achado mesmo, reconheci na hora, na fileira encostada na parede do lado esquerdo do estabelecimento. Um do lado do outro.

Me aproximo em passos lentos e paro ao lado da mesa, demorou um pouco para a minha presença ser notada pois os mesmo estavam concentrados em uma conversa baixa, quando recebi seus olhares continuei séria e enrijeci ainda mais a minha postura em um claro desconforto. 

Tomo liberdade de sentar na frente de meus pais, retiro a mochila dos meus ombros a colocando apoiada na parede sobre o espaço vazio ao meu lado. Depois disso não havia desculpa nenhuma para não os olhar nos olhos então assim o faço.

— Está diferente. — Fecho os olhos diante da voz da minha mãe, engulo em saco e, volto a encarar.

— Só esqueci os óculos, nada demais. — Dou de ombros e sorrio minimamente mas verdadeiramente lembrando de Billie.

Havia deixado os mesmos na sua escrivaninha na noite anterior, não era obrigada a usá-los era para leitura mas tinha doloridas dores de cabeça por esquecer de colocá-los para essa tarefa todas as vezes a qual a fazia.

— Nós viemos aqui 'pra te convidar a largar a sua vida de pecados e voltar 'pra casa com a sua família, 'pra igreja. — Meu pai se pronuncia calmo e franzo as sobrancelhas.

— O que desejam? — Uma garçonete, jovem, nos interrompe.

— Nada. Obrigada. — Minha mãe agradece.

— Quero um café, forte e sem açúcar, 'pra viagem por favor. Obrigada. — Peço e agradeço quando percebo que a mesma termina de escrever em seu bloco de notas. — Achei que não quisessem uma pecadora entre vocês. — Dirijo os meus olhos a eles enquanto retrucava em um claro deboche.

— No domingo, na missa, o Padre Marcus falou sobre perdão. Todos somos pecadores, até os mais pecadores aqueles que pecam porque gostam de enfrentar a Deus podem ser absolvidos, filha você pode ser absolvida disso tudo, é só voltar e se arrepender. — Encaro a senhora de belos cabelos castanhos a minha frente.

— Não preciso ser absolvida de nada, não cometi crimes que eu saiba. — Rebato baixo.

— Cometeu perante a justiça divina. Charlotte, por favor. — Meu pai implora colocando a mão sobre a minha. — Queremos que tenha a vida eterna, que sua alma seja salva. — Continua.

— Não quero vida eterna, uma só está difícil o suficiente 'pra que nunca mais queira viver. — Sussurro de modo que todos na mesa possam ouvir.

— Se voltar Deus irá te dar uma bela vida, tão bela que irá querer viver a eternidade junto a Ele. — Sorrio diante daquela frase.

— Vocês acham que podem voltar depois de quase seis anos dizer meia dúzia de frases feitas que irei os perdoar e tudo vai ser como antes? — Indago direta.

— Sei que consegue nos perdoar, sempre foi tão amorosa e carinhosa. — Amélia diz e coloca, também, sua mão sobre a minha que estava sob a de meu pai. Frederick.

— Mesmo se conseguisse não iria cedê-lo a vocês. — Sorrio sem deixar meus dentes a mostra e os mesmos me encaram perplexos. — Por que perdoar pessoas que não me perdoaram? Se perdão é amor, por que não me amam? — Pergunto chateada.

— Nós a perdoamos, filha, volte 'pra casa e se livre dos seus pecados. — Minha mão é apertada suavemente.

— Não estão me perdoando, estão se perdoando. Sei que se sentem culpados por me expulsarem de casa com apenas dezesseis anos, também me culpo por pensar em vocês durante todo esse tempo e terminar nessa conversa percebendo que amam a sua salvação, que nem sequer existe, do que a mim que estou aqui. Agora. — Digo retirando minha mão da deles e a coloco sobre o meu colo. 

— Seu café. — A garota loira nos interrompe.

— Obrigada. — Sorrio doce para a mesma.

Ficamos em silêncio até a mesma se afastar.

— Nos perdoe por te colocar nessa vida e permitir que homens diferentes toquem em seu corpo todas a noites. — Amélia salta deixando seu desespero transparecer. 

— Você deveria gozar sabia? — Mudo de assunto bruscamente. — Isso sim é o paraíso. — Concluo arqueando uma das minhas sobrancelhas deixando um sorriso crescer na lateral dos meus lábios.

— Charlotte tenha respeito com a sua mãe! — Frederick exige imediatamente e solto uma risada baixa.

— É apenas um conselho. — Dou de ombros bebericando o café em minha frente. — Quem contou o que eu faço? — Questiono curiosa.

— Deus. — Frederick diz e prendo a risada com uma careta. — Ele cedeu uma visão ao Padre Marcus. — Completa.

— Achei que Deus tivesse aversão a gays. — Sorrio abertamente e os olhares confusos dos meus pais me fuzilam querendo entender o porquê daquela frase. — Padre Marcus é gay. Ele faz a missa e passa o resto da noite pagando boquete. — Esclareço.

— Pai nosso que estás no céu, santificado seja o vosso nome, venha a vós o nosso reino. — Franzo as sobrancelhas séria encarando o meu pai sussurrar o Pai Nosso.

— Deus guarde e proteja a alma de minha filha. — Amélia diz em seguida colocando meu crucifixo sobre a mesa.

— Me chamaram aqui 'pra isso? Irão me exorcizar por ganhar dinheiro fazendo sexo? — Rebato brava enquanto levantava, pego a mochila a passando pelos meus ombros. — Soube que Marcus adora dar um de exorcista, chamem ele, assim posso o desmentir na cara de vocês. — Continuo pegando o café sobre a mesa.

— Por favor, leve o seu crucifixo. — Ouço o pedido aos prantos de Emília enquanto caminhava em direção a saída após pagar a garçonete o meu simples pedido.

Paro aonde estava relembrando, andava com o mesmo em meu pescoço desde os meus sete anos, só o retirava para dormir o deixando pendurado a cabeceira da cama para não correr o risco de me machucar enquanto dormia entretanto havia outro na parede logo acima da minha cabeça. Lembrei que a última coisa que fiz antes de retirar aquele crucifixo do meu pescoço foi me masturbar olhando para o que estava pendurado na parede.

Viro e retorno recebendo os olhares dos dois mais velhos, pego o crucifixo sobre a mesa.

— Conheço uma garota que vai amar foder comigo enquanto eu estiver com isso em meu pescoço. — Digo por fim e saio de lá em passos apressados buscando desesperada pelo meu celular. — Billie? É a Cherry, preciso de você amor. Por favor vem me encontrar. Por favor. — Choramingo. 

— Te encontro em vinte minutos. — A mesma responde baixo, rouca.














Call 666 • Billie EilishWhere stories live. Discover now