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Ando para trás do balcão após entregar o pedido de um cliente, observo todo local garantido que todos ali estão servidos.

A lanchonete ficaria aberta até às oito da noite, afinal, era véspera de Natal. Costumavam abrir por ser perto do campus e ter uma boa quantidade de alunos que moravam muito longe das suas famílias para voltar.

Só que isso não impedia os donos dali de se reunirem em suas casas, como estavam de fato fazendo. Estava apenas eu atendendo e também tinha uma moça na cozinha que preparava os pedidos. Talvez o nome dela fosse Sarah, não tinha prestado atenção em exatamente tudo que ela tinha dito além de que eu fecharia o estabelecimento.

Aparentemente Sarah tinha um bebê pequeno e assim que o último pedido fosse feito iria correr de volta para casa e amamentar.

O Natal também não empedia às estações de rádio de tocarem músicas tristes além das natalinas. Assim que tenho certeza que posso me retirar por mais alguns minutos, como já havia feito em torno de uma hora atrás, adentro ao banheiro destinado aos funcionários e tranco a porta.

Apoio minhas mãos uma de cada lado da pia e me encaro pelo enorme espelho por alguns segundos antes de abaixar a cabeça e chorar.

Fiz muitas escolhas erradas tinha consciência de cada uma delas e de cada uma que podia ter tomado uma decisão diferente, e saber que não o fiz quando podia ou então não concertei há tempo me doía.

Cherry nunca existiu, tudo era apenas eu, tomando minhas decisões erradas e desesperadas, não tendo força para aguentar às consequências dos meus atos antes mesmo deles serem referentes a Billie.

A rotina era agora solitária. Ficar no quarto sozinha, deitar na cama e encarar o lado ao qual pertencia à ela vazio. Às vezes me pego mexendo nas suas coisas, nas que ficaram que ela não havia buscado ainda, tinha uma blusa esquecida no fundo de seu closet.

Não sei se os alunos dos quartos ao lado do meu conseguem ouvir o meu choro que durava horas até que pegasse sono.

Eu não tinha ninguém, ninguém que confiasse tanto quando confiava nela, ninguém que me deixasse segura como ela deixava, ninguém que cuidasse de mim como ela cuidava, com carinho.

Billie é a minha casa. Qualquer lugar no mundo em qualquer situação possível de existir, pode ser meu lar, pode ser sim o meu lar se eu estivesse com ela.

Me dilacerava ficar longe dela porém quando a via pelos corredores da universidade corria para um lugar onde pudesse chorar sozinha, porque era muito pior.

Queria gritar, gritar até perder a voz, até minha garganta doer. Meu corpo inteiro doía com a falta que ela fazia.

Só queria estar em casa. Queria me agarrar nela e nunca mais a deixar ir embora.

Sei que a machuquei, sei que a deixei chateada, frustrada e desapontada. Eu só... Fiz péssimas decisões e sabia disso.

Sabia que tinha sido minha culpa, ela é o meu tudo e consegui estragar a única coisa boa que tinha, Billie é a única coisa boa que há em mim sempre vai ser porque ela vai sempre estar comigo.

Sempre vai estar nos meus choros nas madrugadas ou tantos outros que irão vir quando a vida me derrubar aonde ela não estará lá para me levantar.

Nem mesmo tinha ideia se havia sido algo bom para ela. Talvez só uma perda de tempo que nos forçamos a ver como aprendizado.

Meu coração queimava em amor, um amor sofrido, um amor ao qual havia sido correpondido mas que de agora em diante viveria só sabendo como eram as lembranças dessa ternura tão sutil que arrebata e tão forte que destrói.

Billie me ensinou a amar, me ensinou a resistir e ser melhor todos os dias.

Eu amo o seu sorriso, o seu jeito, a cor de seus olhos e tantas coisas que poderia descrever por tanto tempo que perderia a vontade de fazê-lo para setecentas e dezoito pessoas pois gosto de acreditar que você é minha e de mais ninguém.

Call 666 • Billie EilishWhere stories live. Discover now