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— Tem certeza que não quer ficar? — A senhora doce e gentil perguntava pela décima vez nessas últimas semanas.

— Sinto muito. — Sorrio sem jeito. — Preciso me dedicar aos estudos e a faculdade oferece dormitórios. — Explico a entregando as chaves do trailer.

Amélia era uma senhora na casa dos sessenta anos, a única que me ofereceu ajuda quando mais precisei, ela não sabe de tudo apenas do suficiente para ceder o trailer em seu terreno por vinte dólares semanais.

Achava que meus pais moravam em outro país, vim para os Estados Unidos para tentar dar a eles uma vida melhor e não consegui e por isso sabe que fazia programas. Em partes era verdade, já em outras...

[...]

A mochila cheia em minhas costas pesava mas não tanto quanto a caixa entre minhas mãos.

Não sabia definir se estava dando passos lentos pelo peso das coisas as quais carregava ou por estar um pouco distraída admirando o campus, era mais bonito do que todas as milhares de fotos que vi nos últimos meses.

O prédio da faculdade era um pouco distante dali, dava em torno de meia hora de caminhada. Tinha ginásio com piscina, área para ginástica artística e inúmeras quadras, tanto no prédio da faculdade quanto os dos dormitórios eram rodeados pela grama verde e amparada, flores e árvores bem cuidadas.

Eram três prédios que continham dormitórios, cada um com sessenta dormitórios divididos em cinco andares. O primeiro era uma sala de estar e jogos e o restante era preenchido com quartos medianos para duas pessoas com banheiro.

Adentro o prédio 1B, não tinham pessoas na sala de estar mas ainda assim sabia que haviam estudantes ali pois ouvia conversas altas e paralelas ecoar por todo o local.

Meu quarto era o número vinte e quatro, por tanto ficava no terceiro andar. Subo os dois lances de escadas com calma.

Ninguém olhava estranho apenas continuavam fazendo o que faziam sem ligar para quem entrava ou saia.

Não demorei a me achar, a porta estava fechada e trancada demonstrando que o meu colega, ou minha colega, de quarto não havia chegado.

Abro a porta tendo visão de duas camas, uma em cada extremidade do local, ao lado de cada uma delas havia apenas um criado mudo já que as mesmas eram encostadas na parede. A porta de entrada era no meio da parede, por isso haviam duas escrivaninhas, uma de cada lado, a alguns centímetros da mesma, de frente mas ainda assim um pouco distante das suas respectivas camas.

No espaço vago entre a escrivaninha e a cama na parede, a qual as mesmas eram encostadas, havia o closet pequeno com uma porta de correr, no lado direito havia mais uma porta que daria ao banheiro.

Como ainda estava sozinha me dei a liberdade de escolher qual lado ficaria, e não queria ficar do lado do banheiro parecia mais apertado e isso me incomodava. Me dirigi ao esquerdo colocando minhas coisas sobre a cama, ainda sem lençóis ou cobertores.

Abri as persianas deixando a claridade do Sol que se punha entrar, eram por volta de quatro da tarde, era inverno e por isso o dia escurecia tão cedo.

Todos os alunos que iria usufruir dos dormitórios teriam de ir no Sábado assim teriam o Domingo para entender e saber das regras antes das aulas de fato começarem.

Retirei o sobretudo preto que usará começando a arrumar a minha parte do quarto. Teria toque de recolher o que significava que não poderia sair de lá depois das nove da noite, a não ser claro, por uma emergência, meu rendimento no Call 666 cairia já que só éramos livres para sair e voltar quando quiséssemos aos finais de semana. Só me importava em ter o suficiente para me manter estudando de resto daria um jeito.

Termino de organizar tudo rapidamente, não tinha muitas coisas, facilitando o meu trabalho, saio do quarto e em seguida do prédio para me livrar da caixa e qualquer embalagem vazia que dispensei durante a organização. As joguei no lixo e retornei ao local em passos calmos.

Abro a porta dando de cara com alguém, de costas, lá dentro.

— Desculpa. — Peço imediatamente.

— Ah, tudo bem. — Uma voz conhecida soa aos meus ouvidos. — Sou Billie Eilish O'Connell, prazer. — A minha, mais nova, colega de quarto se vira para mim estendendo a mão.

Meu coração disparou tão forte que  sentia o reflexo da sua pulsação em meu pescoço.

— Charlotte Campbell. — Sorrio minimamente apertando a sua mão após alguns segundos.

Esse é o meu verdadeiro nome. Gostaram?

— Que lindo nome. — Billie elogia se afastando começando a arrumar suas coisas no lado direito do cômodo.

— Obrigada, o seu é.. Diferente. — Falo baixo.

— É, eu sei. — Ri baixo.

— Como cheguei primeiro tomei a liberdade de escolher a cama, mas se quiser, podemos trocar. — Sugiro sentando na cama da esquerda.

— Não. Claro que não, me atrasei. Tudo bem. — Me encara rapidamente sorrindo gentil.

Estava odiando tudo isso. Será que o destino podia ser mais filha da puta do que isso?

— BILLIE! Achei você! — Uma acastanhada entra pela porta abraçando a garota de olhos claros.

— Achou Drew e 'tá me esmagando. — Diz rindo retribuindo o contato.

Sorrio para ela que me encarava. Queria sair correndo mas no fundo sabia que Billie era desligada e escondia Cherry de todo mundo, por isso, não notaria nenhuma semelhança entre mim e a menina que transava a noite.

Meus cabelos castanhos escuros com leves ondulações acompanhados dos olhos na mesma coloração e óculos a impediriam de lembrar mais de mim do que apenas uma colega de quarto.

Precisava respirar e relaxar para poder bancar o meu teatrinho.

— Drew, essa é Charlotte minha colega de dormitório e, Charlotte essa é Drew uma amiga. — Billie nos apresenta e levanto rapidamente estendendo minha mão, aberta, em sua direção com um sorriso amigável e prestativo nos lábios.

— Quase mais que amigas. — Drew comenta baixo, mas alto o suficiente para que todas nós pudéssemos ouvir.

— Para. — A platinada retruca imediatamente.

— O que?! Só estou avisando, assim a Charlotte não perde tempo gostando de você. — Sorri me olhando de cima a baixo para então apertar minha mão finalmente.

Tínhamos um estilo de roupas parecidos, praticamente iguais, estava usando calças jeans justas preta com rasgos, consideravelmente grandes, que deixavam meus dois joelhos a mostra por completo, blusa de moletom com capuz em cinza, um par de All Star brancos e claro, o sobretudo que conversava com o jeans.

Drew estava praticamente igual tirando a cor do jeans e o casaco de moletom que substituía o sobretudo.

Estava com ciúmes. De novo.

— O sinal 'pro jantar. Vamos! — Eilish quebra o clima desconfortável, puxando a amiga porta a fora com a expressão fechada.

Suspiro empurrando o óculos sobre o meu nariz e saio do quarto.

Parece que o Universo cisma em conspirar contra mim sempre me impedindo de ser eu mesma.

Call 666 • Billie EilishWhere stories live. Discover now