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O som de vozes me trazem de volta do meu conturbado subconsciente. Não preciso me mexer muito, na verdade nenhum pouco, para ter a sensação que um caminhão havia passado por cima de mim à noite inteira.

Deixo um gemido sôfrego escapar dos meus lábios enquanto apoiava o peso do meu corpo em meus antebraços. Encaro o lado direito e o vejo vazio, sem nenhum sinal rescente de Billie, suspiro frustrada e minhas bochechas assim como o meu rosto começam a queimar.

Alguns flashbacks da madrugada me atingiram, estava entorpecida mas não alucinando e nem falando coisas completamente sem sentido. Estava apenas falando coisas que guardava para mim e que claramente não deveria sair falando por aí, especialmente para Eilish.

Sabia que não havia contando sobre Cherry, ficava agradecida por isso. Esse era o meu maior segredo e estava pronta para enterrá-lo de vez. Não queria nem lembrar que ele um dia existiu, queria o tornar em uma breve e distante lembrança, lembraça ruim.

O fato de ter confessado os meus sentimentos não me deixava de fato preocupada, apenas constrangida pois sabia que era o que realmente sentia porém podia desmentir e usar a êxtase como motivo. Ninguém iria desconfiar e nem me confrontar diante dessa justificativa, a qual tinha total sentindo.

Encaro a mesa de cabeceira, localizada ao meu lado, tinha um bilhete sobre a mesma e sabia que não estava lá antes. Estendo um dos meus braços e o pego.

"Lotte,

Fui fazer uma trilha com a Clau e a Peaches, logo estou de volta. Se precisar de algo que não saiba onde achar peça para o Finn, ele está no primeiro andar.

Beijos, Billie."

Mordo meu lábio inferior evitando um sorriso e cedo meu peso sobre a cama outra vez, droga, mil vezes droga. Eu gostava dela, gostava muito dela.

Esse momento não durou muito pois a cede descomunal que sentia me obrigou a levantar. Paro em frente ao espelho do banheiro e me encaro por alguns momentos antes de prender meus cabelos em um ajeitado coque manual, lavo o rosto e escovo os dentes. Visto uma roupa descente e desço as escadas em passos rápidos.

Para chegar à cozinha precisava passar pela sala de estar por isso avistei Finneas, deitado no sofá falando no celular, o mesmo acenou para mim e retribuí.

Pego um copo de vidro, consideravelmente grande, e bebo uns três ou quatro copos de água. Logo o ruivo adentrou a cozinha e ainda  pendurado no celular abriu a dispensa aparentemente falando o que faltava.

Coloco o copo na lava louças e abro a geladeira pegando alguns ingredientes para fazer uma espécie de café da manhã, encaro o relógio moderno e bonito sobre uma bancada próxima, se passavam do meio-dia.

— Estava falando com Claudia, nossos pais vão vir jantar hoje à noite então passei a lista das coisas que estão faltando. — Finneas comenta fechando a dispensa e coloca o celular em um dos bolsos da calça de moletom que usava.

— Sem problemas. — Sorrio levemente sem deixar meus dentes a mostra.

— A Billie foi fazer uma trilha com a Claudia, faz mais de uma hora que saíram devem estar chegando logo. — Avisa.

— Ah, ela deixou um bilhete avisando. — Revelo.

— A Billie deixando bilhete? — Franze as sobrancelhas e o encaro confusa. — Sei lá, ela podia te mandar uma mensagem ou me pedir 'pra avisar. Eu acho que ela gosta de você. — Comenta e reviro meus olhos com força.

— Óbvio que não, somos amigas e dividimos um quarto na universidade. Nada demais. — Dou de ombros e sento em sua frente, na mesa, começando a comer.

— Vocês transaram? — Fala e o encaro perdida.

— Não tem nada importante em sexo, e aliás, estávamos alteradas. — Justifico e sinto minhas bochechas quentes lembrando do que havia dito enquanto estava com ela.

— Foi uma pergunta, mas tudo bem. — Ri e levanta saindo do cômodo. — Tem analgésico na gaveta se estiver se sentindo muito mal. — Avisa em um tom mais alto pela distância, não respondo e continuo comendo em silêncio.

[...]

Estava terminando de ajeitar a minha bagunça na cozinha quando as duas retornaram. Billie me cumprimentou com um selar sobre os meus cabelos, Claudia e Finneas logo saíram de carro para ir até um mercado próximo.

Eilish e eu conversamos sobre coisas normais, como sempre, talvez ela não lembrasse então seria melhor fingir que eu também não lembrava. Arrumamos a casa e escondemos a êxtase no quarto de seu irmão.

Me arrumei de forma comportada para conhecer os seus pais e por mais que eu soubesse que somos só amigas, me sentia como se estivesse indo conhecer os pais da minha namorada.

Estava terminando de ajudar Claudia na cozinha quando a campainha soou. Billie atendeu pois estava na sala de estar com Finneas consequentemente mais perto da entrada. Os dois estavam jogando jogos de tabuleiro.

Assim que a porta foi aberta sua fala se tornou animada e logo ouvi a porta ser fechada. Meu coração estava disparado, e minhas mãos começaram a tremer.

— Tudo bem? — A acastanhada indaga e apoia a mão sobre a minha me impedindo de continuar cortando os morangos que iriam decorar a torta.

— Tudo, eu só... Só... — Engulo em seco ouvindo meu nome ser chamado.

— Charlotte, pode vir aqui por favor? Quero te apresentar aos meus pais. — Suspiro e solto a faca.

— Só um minuto. — Responto e abro a torneira lavando as minhas mãos.

— Não precisa voltar, só falta colocar os morangos e já vou ao encontro de vocês. — Claudia avisa e concordo com a cabeça.

Mordo meu lábio inferior e olho para baixo encarando a saia suavemente rodada do vestido, em um estilo romântico, passando minhas mãos pela mesma.

Adentro a sala de estar em passos rápidos fingindo estar distraída ainda com o vestido, paro assim que sinto o braço de Billie ao redor da minha cintura. Ergo meu olhar e congelo, meu coração começou a palpitar e sentia os reflexos em minha nuca, sentia também o suor se formando sobre o meu pescoço.

— Charlotte, esses são os meus pais. Patrick e Maggie O'Connell. — Diz Eilish quebrando aquele estranho silêncio.

— Senhor O'Connell. — Estendo minha mão em direção ao mais velho sorrindo nervosa.

— Por favor, sem formalidades, Patrick está de bom tamanho. — Repreende descontraído apertando minha mão em um toque suave e sorrio deixando meus dentes discretamente à mostra.

— Como achar melhor. — Falo baixo engulo em seco e encaro Maggie. Estava tremendo, sentia que poderia apagar a qualquer momento.  — Senhora O'Connell. — Digo apreensiva e sou cumprimentada em um toque firme diria que até forte demais.

Mordo meu lábio inferior sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. Conhecia Maggie, suas expressões e podia apostar a minha vida que ela não estava nada contente de me ver lá, muito menos com a sua filha.





Call 666 • Billie EilishWhere stories live. Discover now