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As duas próximas semanas após aquela noite passaram se arrastando.

Dividia minha atenção entre me livrar das coisas da espécie de trailer em que morava e encaixotar algumas que iria levar para o dormitório da faculdade.

Seria um pouco arriscado dividir quarto com alguém diante do meu trabalho mas ninguém me conhecia e/ou reconheceria de verdade. Não tinha dinheiro o suficiente para mensalidades, materiais específicos, mais uma "casa" e ainda algumas coisas que comprava para agradar clientes e, falando neles.

Pensava em Billie o tempo todo mas principalmente as noites quando tinha que transar com outras pessoas.

Sempre fui uma pessoa bem conformada com a minha vida e com o que tinha de fazer, pelo menos nessa altura do campeonato ficar reclamando ou resmungando só iria piorar as coisas, se tinha que fazer algo, mesmo não querendo, o fazia da melhor forma com a melhor expressão de vontade que pudesse fazer.

Entretanto esses dias estavam tão difíceis. Em algumas noites quando algum cliente específico ia embora me batia um certo desespero. Não estava tão legal, não tinha mais tanta gentileza, era apertada, mordida, algumas vezes estapeada ou fodida de uma forma agressiva e isso me machucava as vezes. Porém, era o meu trabalho, não posso reclamar ou obrigar as pessoas a usarem preservativo.

Suspiro dentre meus pensamentos e levanto da cama sentindo o líquido viscoso e quente escorrer pelas minhas coxas.

Odiava a minha vida.

Puxo o ar mais uma vez e sigo rumo ao espaço e bonito banheiro. Removo o que sobrou da maquiagem com demaquilante, minha crise de choro anterior não tinha dado conta de a remover por completo, lavo o rosto e o enxugo.

Desembaraço meus cabelos que estavam com nós e em alguns lugares, onde passava a escova de cabelos, se mostravam doloridos pelos puxões agressivos. Prendo os mesmos em um coque manual feito com as próprias madeixas e deixo alguns fios caírem e moldarem o meu rosto.

Tomo um longo gastanto uma boa quantidade do sabonete líquido para retirar as "tatuagens" e todo mundo sabe, outra pessoa me tocou estava me sentindo esquisita.

Saio do chuveiro analizando e escondendo com corretivo todas as marcas de sucções e mordidas espalhadas pelo meu corpo. Estava cansada, só queria alguém que me tocasse com carinho e não me machucasse.

Visto uma lingerie simples, um conjunto de moletom do meu tamanho e calço um par de All Star. Arrumo tudo, deixando pronto para a próxima noite.

Pego minhas coisas e saio do "meu" quarto logo saindo do prédio também. Chamo um táxi a algumas quadras dali, eram quase cinco da manhã. Queria ver como daria conta de estudar quase o dia inteiro e transar a noite toda.

Chego no "trailer" e começo a organizar as coisas, estava amanhecendo, então dormir agora iria me atrasar para o resto do dia.

Arrumo e limpo todo o local, termino de guardar algumas coisas e enquanto tomava café da manhã respondi e-mails de pessoas que iriam comprar algumas coisas específicas que estava me desfazendo antes de me mudar e também confirmei minha matrícula na faculdade.

Terminava de conferir os últimos e-mails quando um de Call 666 chegou, meus olhos automaticamente se encheram de lágrimas, mas logo tratei de secá-las terminando rapidamente o que estava fazendo e o abrindo.

" Olá Devil,
A noite será agitada. Pirata Eilish solicita sua companhia em Devil's as 22 PM. Não se atrase."

Um sorriso se formou entre meus lábios automaticamente. Mal podia esperar, fiquei tão empolgada que perdi o sono e decidi adiantar minha corrida diária para mais cedo saindo para correr alguns quilômetros naquele mesmo instante.

Call 666 • Billie EilishWhere stories live. Discover now