Seus olhos eram castanhos, sua voz era suave e arranhada, num tom feminino palpável e coerente diante de suas feições delicadas, eu não demorei a compreender que ela era muito querida diante de todos ali porque ela mexia e conversava com todo mundo, ela ria e fazia os outros rirem, mesmo que seu local no intervalo fosse ao lado dos populares que iam desde de atletas musculosos a lideres de torcida com jeito de Regina George.

Antes que pudesse enfim começar mais uma das minhas torturas matinais e já clichês, eu paralisei na porta quando me deparei com um intruso e desconhecido sentado ao lado dela, e o pior, no meu lugar que era gentilmente arranjado pelo destino para que eu sentasse ao lado dela.

Já faziam-se dois anos que eu estava nesse impasse, e é óbvio que era vergonhoso e completamente constrangedor nunca sequer ter trocado uma conversa decente com ela. A verdade é que nós conversávamos o básico, que ia desde "me passa a cola" até um "você fez a questão a número dez?" E só, ela não parecia fechada acerca de puxar assunto, o problema era o fato de eu não conseguir expressar em palavras e tão pouco em ações, tudo aquilo que eu sentia por ela.

O garoto mexia em seus cabelos e também soprava sua orelha, ato que a fazia rir de forma irritada enquanto o empurrava carinhosamente pelos ombros. Uma pessoa qualquer não repararia, mas eu notei a aliança reluzente e prateada entorno de seus dedos bonitos e longos, suas unhas naquela manhã estavam coloridas em vermelho sangue, ironicamente, o meu mundo tornava-se azul, pálido, triste e frustrante ao observar aquela cena desastrosa.

Minha melhor amiga — Dinah Jane Hansen, uma de nossas vizinhas — com certeza iria me dizer que, a culpa era eventualmente minha, afinal eu estive ali do lado dela o tempo inteiro e nunca sequer cogitei a hipótese de chama-la para sair ou então criar algum tipo de vinculo amigável, eu era uma pedra engessada seu lado, e eu sei que ela me achava estranha e antipatica, afinal meu semblante sério transparecia que eu não queria papo, mas a verdade é que eu estive em completo gay panic diante dela por todos esses meses, enquanto cada músculo de meu corpo contorcia em amor e paixão.

Minha família possuía descendência hispânica e cubana, o que fazia de meus parentes seres completamente galanteadores em seus sotaques e trejeitos latinos. A timidez eminente em meu corpo saiu de um momento efêmero entre todos os meus longos e catastróficos dezessete anos de vida, e desde então eu me tornei completamente reservada e sem coragem alguma para ter o controle de certas coisas em mãos. O bullying sofrido durante o fundamental — uma fase de nossas vidas muito determinante em nosso caráter — fez de mim futuramente uma adolescente sem muito apego a socializações. Eu levava dentro de mim algumas pendências das quais eu já havia tratado ainda quando pré-adolescente com as idas ao psicólogo, mas a verdade é que se aquele momento efêmero em minha infância não houvesse de forma alguma acontecido, talvez hoje, eu, Lauren Jauregui, seria uma garota confiante o suficiente — não só por fora — para chegar em Camila Cabello, a linda latina que se sentava ao meu lado em alguns dias da semana em pelo menos duas das seis aulas que tínhamos.  

Bom, pelo visto não mais.

— Noah, você precisa sair. — A voz calma e lotada em sotaque de Camila levava naquela manhã um tom excessivamente doce, eu não precisava de mais provas para que o instituto médico legal finalmente carimbasse nos documentos o meu estado de óbito.

Eu estava encrencada e inegavelmente fodida.

Quando eu estava prestes a passar por eles e fingir que não havia notado — e tão menos me machucado — com a perda abrupta de lugar, a mão áspera e gentil do garoto encontrou meu pulso, cobrindo minha peleque perdia-se em meio aos pelos eriçados de meu braço.

Camila - Camren Where stories live. Discover now