LVII

13.5K 1.3K 851
                                    

Talvez o maior erro dos seres humanos seja racionalizar sentimentos, escolher um culpado sempre, colocar ações na balança que, de alguma forma, não fazem sentido ao observar o acontecido como um todo.

Lauren errou em se exaltar, Camila errou em não avisa-la antes — ou ao menos a professora — Lauren foi enérgica com seus sentimentos que outrora jamais conseguiria ser ao estar presa em um protótipo de adolescente fria e impenetrável, e, Camila foi imprudente em suas desatenções acerca da materidade. Eram humanas, com personalidades distintas e precisavam aprender a lidar com todas as diferenças, caso contrário não funcionaria, independente de quantas noites de sexo fossem deleitadas, de quantos dias a mais a morena de olhos verdes ficasse no apartamento da latina ou qualquer coisa do tipo. Eram momentos efêmeros sequenciais que num piscar de olhos fora derrotado por um desentendimento que mostrava que precisavam ir com... Calma.

Ao aproximarem-se, sentiram a ânsia de correr, de fazer acontecer, de dar espaço a aquela intensidade baseada na adrenalina, mas... Tudo aquilo era frágil e o desentendimento provou isso com louvor.

Se continuassem correndo ao dar voz a impulsividade de um coração que tudo queria, muito em breve estariam caindo no mesmo mar de contradições que as separaram no passado.

Lauren dirigiu pelas ruas de Newcastle upon Tyne pensando em diversas coisas do gênero, desceu daquele carro com ideias mirabolantes rondando-lhe a mente e também seria complexo conta-las em voz alta. Quando adentrou no café e o sino tocou, Camila permanecia distraída observando seu cardápio ao sorver da xícara de um chá com coloração vermelha. A enóloga trajava um vestido casual florido, muito longe dos requintes nos quais era acostumada e aquela era prova viva de que fatalmente esperava por Clara e não por Lauren. Mas foi ela quem sentou a mesa, chamando a atenção de olhos castanhos que tornaram-se surpresos, para logo em seguida olhar em volta como se procurasse pela chegada de mais alguém.

E nada.

— Ela não vem. — A Jauregui anunciou sutil, coçando a garganta. — Será somente eu mesmo. — Lubrificou os lábios róseos. — Nós precisamos conversar e... Acho que não fomos um bom exemplo de mães para Charlie nessa tarde.

Camila não demorou muito para entender que aquilo obviamente tinha haver com sua ex-sogra, mas também não pareceu desgostar da ideia, somente manteve o olhar passivo, dando oportunidade que continuasse com seu discurso, mas quando o tom de voz rouco não vibrou outra vez, ela suspirou breve, respondendo:

— Você está mais calma para uma conversa? — A especialista em vinhos arqueou a sobrancelha, e por mais que parecesse uma pergunta irônica, não era em seu cem porcento estado.

— Eu fui idiota ao me exaltar e sei disso, me desculpe. Mas você poderia ter me ligado ou ligado para escola antes que nossa filha se desesperasse a ponto de chorar. — A filha dos Jauregui's rebateu calmamente, desviando o olhar para o céu turquesa em fase de escurecimento que pintava a janela envidraçada.

— Sim, eu deveria ter feito. Me desculpe também. — A enóloga admitiu — Mas na hora eu me frustrei tanto com o atraso que sequer lembrei de avisar que demoraria. — Confessou e era possível ver o quanto se sentia culpada — Eu não quero competir sobre quem errou mais ou menos nos últimos anos ou sequer agora. Se trata de nós e eu tenho certeza que muitos já tentaram colocar na balança nossos atos com o intuito de justifica-los ao nos defender. — A latina encostou as costas na cadeira, suspirando, mas não deixou de fita-la profundamente — Você é uma mãe absurda, Lauren.  E apesar dos pesares eu ainda sim escolheria você para ser mãe deles. Olhos castanhos brilharam em sentimentalismos, mas não ousou deixar que transbordasse a ponto de escorrer — Eu quero fazer isso funcionar, mas você precisa confiar em mim.

Camila - Camren Where stories live. Discover now