Shadows

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Quarta-feira. Era o dia em que ela finalmente iria sair de lá e eu estava mais do que ansiosa para vê-la. A chuva era incessante e a umidade do clima era realmente desanimadora, mas nada iria me fazer mudar de ideia.

Dois anos. Ela finalmente iria sair de lá.

Peguei minhas chaves, joguei meu casaco por cima do ombro, tranquei a porta e peguei o elevador. Por algum motivo pareceu demorar mais do que o habitual. A campainha soou. Entrei na cabine e cliquei no último botão do painel. Uma sensação estranha tomava conta de mim.

Nostalgia? Medo? Ansiedade?

Eu não fazia a menor ideia.

As portas se abriram. Coloquei meu casaco rapidamente e fui em direção ao estacionamento. Estava tudo tão calmo, tão silencioso que chegava a ser perturbador. Liguei o carro e rumei em direção ao lugar mais inquietante e repulsivo que eu já havia visitado.

Kings Park.

O hospital psiquiátrico onde minha irmã vive. Bem, não mais.

~~

A chuva parecia ter dado uma trégua. A viagem não demorou muito e cerca de 40 minutos e eu já estava na estradinha que dava para os portões daquele manicômio. Desacelerei ao chegar perto da entrada. O guarda, – um cara gordo, barbudo e ligeiramente arrogante – deu uma risadinha ao reconhecer a placa do meu carro. Senti meu estômago revirar.

Baixei o vidro e ele se aproximou.

"Boa tarde, Srta. Jauregui", ele disse.

"Olá, Gordon", sorri sem mostrar os dentes.

Era um nome horrendo e ironicamente adequado. Terrivelmente adequado.

"Está aqui pra visitar a sua irmã?" É claro que ele iria dar um jeito de bisbilhotar a vida alheia. Típico.

Rolei os olhos e encarei o relógio do painel.

1:50PM.

"Na verdade eu vim buscá-la", falei simples.

"Mesmo?", a curiosidade invasiva dele era o que mais me perturbava. Deus, o que custava abrir a droga do portão e me deixar passar?

"É... Quem diria, hein? Por mais escroto e precário, aparentemente esse lugar faz milagres", falei.

Ele levanta uma sobrancelha e enruga a testa. Espero que tenha se ofendido.

"Certo..." Ele coça a barba e alguns farelos de bolacha que estavam escondidos entre os pelos caem sobre a farda amarrotada. Uma sensação de náusea me faz desviar o olhar. "Eu vou comunicar a eles que você chegou", ele diz se afastando.

Fecho o vidro imediatamente.

O portão abriu e eu avancei alguns metros. Aquele amontoado de ferro parecia que ia cair a qualquer momento, mas milagrosamente funcionava.

Ele acenou e entrou na casinha minúscula que ficava ao lado da entrada.

Estacionei o carro no lote 4 que ficava bem em frente ao pavilhão onde Taylor estava. Tranquei as portas e coloquei a chave no bolso. Uma enfermeira me esperava na ponta da escadaria com um sorriso forçado nos lábios.

"Srta. Jauregui", ela estende a mão e eu a cumprimento.

Ela gira os calcanhares e começa a subir os degraus. A pintura gasta e inexistente em alguns pontos do prédio dava um ar ainda mais macabro ao local. Chegamos ao lobby.

"Fique aqui, eu vou buscá-la. A Sra. Willians vai lhe mostrar os documentos que você precisa assinar", a enfermeira aponta em direção ao balcão caindo aos pedaços que ficava à direita do salão.

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