Chegando ao castelo, o Primeiro Cardeal e seu sobrinho foram encaminhados para as masmorras enquanto o Segundo e seu filho seguiam outro caminho guiados pelos guardas e por mim.
Subimos vários degraus até o alto de uma das torres, onde estava uma guilhotina afiada e, ao que parecia, sem uso há um bom tempo. O rei discursou e os acusou formalmente ao lado de Laika e Amira, com todos os papéis em mãos e o apoio geral do público, que agora clamava pela morte do cardeal. Jamais entenderia aquela gente.
— Por favor, garoto, sei que pode me soltar.
—Sim, eu posso — respondi, empurrando-o até seu fim. — Mas nunca faria isso. Há tempos espero para ver seu sangue sendo derramado.
— Eu sei como trazer sua amada de volta.
— Não se atreva a falar sobre Serene. — Torci seus braços, fazendo-o resmungar pela dor.
— Necromancia pode fazê-la ter uma segunda chance.
— Ela está morta e jamais voltará a viver.
Sua cabeça, bem como a de Antony, estava na marcação certa, apenas esperando pela lâmina. Um guarda desamarrou a corda e nenhum de nós se atreveu a observar os momentos seguintes até que o sangue respingou, manchando o chão, as roupas do rei, a armadura do soldado e meu rosto. Houve um momento de silêncio, depois algumas orações e então o povo se dispersou. A família real foi a última a se retirar enquanto levavam o corpo dos dois para outro lugar.
— Avren, tem um minuto?
— Mas é claro, Majestade — afirmei após limpar minha face do sangue daqueles vermes. O segui até a sala do trono, onde não havia ninguém além de nós.
— Agradeço de coração por tudo o que fez. — Lucios começou — Se não fosse por sua insistência e mente brilhante, não teríamos livrado o reino de alguém tão vil quanto Brasjen.
— Não foi nada, senhor. Fiz isso pelas pessoas importantes para mim primeiramente. — Me curvei um pouco antes de prosseguir: — Sou eu quem deveria agradecer por me ouvir e cooperar com meus planos.
— Sei disso, mas mesmo assim gostaria de lhe fazer uma proposta.
Fiquei em silêncio, esperando pelo que viria a seguir.
— Gostaria que fizesse parte da guarda real.
— Infelizmente não posso aceitar, Majestade. — Endireitei a postura para encará-lo — Existem compromissos que já assumi com outras pessoas e comigo mesmo.
— Entendo. — Ele não escondeu a decepção — Realmente uma pena. Alguém com habilidades como as suas seria útil para nós.
— Mas fazer parte de algo deste tipo não combina comigo — falei, inflexível. Não conseguiria ficar parado igual a uma estátua pelos cantos para tomar conta da realeza. — Não recusarei ajuda caso precisem de mim, só que me comprometer a virar um guarda está fora de cogitação.
— Saber que posso contar com você já é significativo para mim.
Nossa conversa terminou por ali e voltei como corvo para a floresta, que se tornou minha casa após tantos anos e tudo o que vivi. Além do mais, gostava da tranquilidade dali e com o fato de que não seria incomodado por ninguém. Uma vez concretizado meu desejo de vingar as três pessoas importantes para mim, o amanhã seria outra história.
Sentei perto do túmulo de Serene, colocando algumas flores que colhi ao longo do caminho sobre ele. Era estranho pensar que, agora que conquistei a liberdade que almejava há tanto tempo, não estava mais interessado nela de fato. Me livrei do encantamento, contudo havia duas grandes razões para eu permanecer ali.
Minhas promessas.
E meus sentimentos.
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O Último Corvo
FantasyEra a época da "caça às bruxas". No entanto, não eram apenas as mulheres que estavam na mira da Igreja. Os corvos, mesmo sendo inocentes, também pagavam o preço por serem considerados malignos e portadores de feitiçaria. A capital do reino de Elysiu...