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— O que significa isso, Antony?

O rapaz loiro tensionava a mandíbula e batia o pé direito no piso com impaciência enquanto tinha o lado esquerdo do rosto suturado de ponta a ponta. Por sorte, não perdera a visão.

— Um corvo maldito fez isso comigo.

— Um corvo? — A voz do cardeal estava carregada de incredulidade — Foram todos mortos, já se esqueceu? Por acaso vai começar a delirar igual aos caçadores e aldeões?

— Não é delírio, meu pai. Ainda sobrou um.

— Então é verdade mesmo? Interessante... Mas não é sobre isso que quero saber agora. — Brasjen franziu o cenho e semicerrou os olhos — Os pais da menina disseram que você a ameaçou e mandou os camponeses atirarem nela. Além disso, impediu o contato de mãe e filha. O que tem a me dizer a respeito?

— A garota é a bruxa — O jovem murmurou, fitando o chão. — Não poderia permitir que uma de nossas fiéis se contaminasse, mesmo que fosse filha dela.

— E quanto ao restante? Ameaçar sua noiva em frente aos camponeses e seus futuros sogros é uma falta grave, não esperava isso de você.

— Estou cansado de passar por toda essa humilhação. — Os olhos do rapaz encontraram os de seu pai adotivo — Desde quando ela desapareceu escuto e vejo pessoas rindo de mim, principalmente agora que a viram como uma bruxa. Sim, eu a ameacei entre se casar comigo ou morrer.

— Pela sua cara, imagino que a segunda opção prevaleceu.

— Por isso ameacei me casar com ela à força, para reparar tudo o que sofri até agora.

— Entendo, porém isso não é coisa que se faça, ainda mais com outras pessoas por perto — O religioso repreendeu. — Mandei trazê-la de volta e ponto. Você sequer precisaria pensar a respeito de sua honra. Se ela de fato era a bruxa, então seu dever absoluto era obedecer minhas ordens e eu cuidaria do restante.

O garoto engoliu seco e fez uma careta quando o curandeiro passou um algodão frio e molhado no rosto dele, fazendo o líquido escorrer pela bochecha e cessar a dor. Ele reconhecia sua falha, que era gravíssima. Por causa da falta de controle, perdeu créditos com os pais de Serene e mais ainda com o próprio pai de criação por tê-la deixado escapar como bruxa.

— Acho que agora terei que ir por conta própria, uma vez que ela jamais se aproximará de você depois de tudo isso. E também quero ver esse último corvo com meus próprios olhos.

— Sim, senhor. — Antony não teve coragem de dizer mais nada.

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Resolvi parar de pensar no que aconteceu e fazer algo mais útil do que lamentar a discussão com Avren. Fui até a plantação e decidi que já estava na hora de dar um jeito em tudo. Até então apenas estava colhendo, sem plantar nada, portanto em breve não haveria mais legumes para comer. Vasculhei primeiro a casa toda, procurando por sementes e encontrei algumas.

Quando cheguei à horta, porém, tudo estava no lugar. Os alimentos restantes haviam sido plantados e o terreno se encontrava impecável. Já soube que aquilo foi trabalho de Avren e logo me senti inútil outra vez. O que poderia fazer agora? 

Peguei a cesta e comecei a colher os ingredientes para o jantar quando ouvi o corvo grasnar e o grito de uma garota não tão longe. Tentei seguir o som e a primeira coisa que vi foi o pássaro com as penas eriçadas e encarando uma... árvore?

— O que houve? — perguntei para o corvo, que saiu de onde estava e voou até a árvore que estava próxima. 

O segui, ficando surpresa ao ver uma garota encolhida e tremendo de medo com as mãos tampando as orelhas, de certo tentando abafar o barulho do pássaro. Agachei perto dela e acabei por assustá-la sem querer.

O Último CorvoWhere stories live. Discover now