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 Levantei enquanto tentava, em vão, limpar a terra do vestido que ficou rasgado nos joelhos. Me concentrei mais nos arredores, porém não consegui captar os passos daquele estranho. Era como se fosse um fantasma que aparecia e desaparecia quando queria.

— Você é mais rápida do que imaginei.

Sufoquei um grito ao ouvir novamente a voz dele. Olhei para trás e o vi sentado sobre o galho de uma árvore.

— Como você faz isso?

— Isso o quê? — Uma sobrancelha foi arqueada para mim.

— Você desaparece e aparece do nada!

— Claro que não. — Seus olhos verdes reviraram — Apenas sou mais veloz. Por falar nisso, o que está fazendo aqui?

— Estou aqui por motivos pessoais. E você?

Ele pensou por um instante.

— Estou aqui por motivos... pessoais. — E um sorriso de deboche apareceu.

Não respondi. Dei as costas e me enrolei no cobertor novamente, afinal ainda era noite. Estava cansada por ter passado por tudo aquilo e com sono.

— Fico feliz que tenha gostado tanto do meu cheiro.

Levantei quase que automaticamente ao ouvir aquilo.

— Então era seu mesmo?

— Mas é claro. Achei que você precisaria disso mais do que eu, não precisa me devolver.

— Bem... obrigada, eu acho.

— Isso não significa que quero ser seu amigo. — Certo, consegui compreender, mas ele não deixou de fazer uma careta.

O encarei por um tempo, digerindo o que disse sobre não "querer ser amigo". 

— Então por que está ajudando? — questionei. — Primeiro me deu o cobertor, depois me trouxe junto com você para longe dos caçadores. Se não está fazendo caridade, quais são suas intenções?

— Quando te vi ontem dormindo ao relento, decidi entregar a manta, pois não me faria falta e tive certeza de que você está perdida. Afinal, ninguém que planeja entrar na floresta vem com roupas assim. — O rapaz observava minha vestimenta com uma sobrancelha arqueada enquanto balançava a cabeça em reprovação — E só te ajudei a fugir para garantir que não fizessem perguntas sobre mim para você.

— Está achando que sou do tipo que denuncia os outros?

— Precaução nunca é demais.

Revirei os olhos e decidi mudar de assunto.

— Qual seu nome? — Arrisquei perguntar. Não acho que mais alguém estaria por perto, então por que não puxar conversa?

— Nome? Não acho que precise saber desse tipo de coisa. — Deu de ombros e desceu da árvore, dando a volta por trás dela. 

Caminhei até onde estava, mas novamente não vi ninguém. Que tipo de pessoa era aquele homem, afinal de contas? Acho que não saberia e era melhor assim. Ele me parecia um ímã de problemas e eu não queria me envolver em nenhuma confusão. Aninhei-me no cobertor e consegui dormir finalmente.

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Quando acordei, esbarrei a mão em uma pequena tigela ao me espreguiçar. Alguém havia trazido para mim alguns pedaços de peixe já assados, o suficiente para matar minha fome, que já estava aparecendo. Comi alguns e guardei o restante para garantia.

— Não tem de quê.

— Você quer parar com isso?!

Nunca gostei de pessoas que me assustavam, mas ele parecia se divertir com a situação.

O Último CorvoWhere stories live. Discover now