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 Caminhamos em silêncio. Amira ia ao meu lado, dando as coordenadas de onde seguir enquanto nosso "guarda" nos acompanhava logo atrás. O trajeto todo até então era formado por apenas uma trilha, por isso não havia dificuldades.

— Vamos por cima — Avren decretou quando a trilha se dividiu em duas.

— Não foi por aí que eu passei – A princesa retrucou. — Vamos por baixo.

— Indo por aí estaremos perto demais da cidade e as pessoas poderão nos ver.

— E o que tem de mais?

— Ela vai ficar exposta. — Ele apontou na minha direção com o queixo — Virão atrás dela pensando que se trata de uma bruxa.

— Serene não é uma bruxa, isso não vai acontecer.

— Apenas nós sabemos disso, porém não teremos força para convencer os demais a pensarem a mesma coisa. Além do mais, de qualquer forma vamos terminar no castelo.

— Como tem tanta certeza?

— Conheço a floresta toda tão bem quanto conheço a mim mesmo. — Avren me pegou pelo pulso — Vamos por cima.

Amira revirou os olhos, entendendo que não adiantaria argumentar e nos seguiu, sem dizer mais nada. O caminho era mais fechado e sombrio, mas não duvidava da escolha dele. Por outro lado, a outra estava desconfiada, olhando tudo sem parar até ver melhor alguma coisa, fazendo-a suspirar de alívio.

— O castelo está logo ali! — constatou, ansiosa.

— Eu disse que ambos os caminhos terminariam no mesmo lugar, não? — Avren respondeu, puxando discretamente minha capa enquanto a princesa tomava a frente. Diminuí o passo até chegar perto dele — Daqui a pouco não poderei mais prosseguir. Terá que se virar sozinha.

— Até parece que estou indo para o sacrifício.

— E se estiver? — sussurrou de volta, prendendo algo em minha roupa.

Puxei o manto e, para minha surpresa, vi a adaga no meu cinto. Estava fixa perto das minhas costas, logo ninguém poderia ver por causa da capa. Virei a cabeça na direção dele e vi que realmente estava desarmado. 

— É melhor prevenir do que remediar. Ao menos sei que não estará de todo indefesa.

— Obrigada.

— Me agradeça quando voltar inteira. — Ele me olhou de um jeito sombrio — E com a minha adaga de volta.

Revirei os olhos e voltei para perto de Amira, a qual parecia mais alegre do que nunca enquanto alternava olhares entre a bolsa e o castelo. Notei que mais adiante as árvores estavam terminando e olhei para trás. Avren já diminuíra o passo, mas continuava olhando fixamente para mim o tempo todo.

— Finalmente fora da floresta! — Ela exclamou, contente. O castelo estava agora a poucos passos de nós e não ouvi ninguém nos seguindo. Não tive tempo de checar onde Avren havia ficado, pois precisei acompanhar o ritmo da princesa, que se tornou uma corrida de repente.

Ficamos diante de uma muralha enorme de pedra sólida e dois portões de ferro cor de cobre que eram quatro vezes nossa altura. As únicas coisas davam para ver do lado de fora eram três torres altas, todas da mesma altura e pintadas em cor de creme, com sentinelas sempre alertas no topo. De cada lado da entrada, havia dois guardas com suas cotas de malha brilhantes e espadas afiadas no cinto enquanto no alto da muralha guardas com arcos estavam nos olhando de maneira estranha.

— Não fique com medo, vocês vão passar tranquilamente por... — A princesa olhou para trás e só então notou que faltava alguém conosco — Onde está ele?

O Último CorvoWhere stories live. Discover now