|SOLDIERS|

|Things That Only I Know|

|Styles|

Sempre me senti um homem preparado. 

Quando minha família precisa de mim, eu estou pronto. 

Quando meus amigos fraquejam, lá estou eu à disposição para levantá-los. 

Quando minha equipe recorre a mim, nunca titubeio.

E quando alguém está em perigo, não penso duas vezes antes de ajudar. 

Eu não sou de hesitar.

Meu pai sempre mergulhava em tudo de cabeça; Lembro de perguntar se ele não tinha medos; e ouví-lo dizer que tinha muitos e dos mais variados, mas que nunca se responsabilizava por coisas às quais não pudesse entregar-se com todo o coração. 

Eu gravei aquilo em meu coração e memória. E observando a entrega dele às coisas mais simples, decidi que seria como ele.

Sempre achei que estava dando certo. 

Eu tenho medos. Muitos deles. Mas me entrego a tudo em que meu coração confia. 

Eu não hesito. 

Sou um homem preparado. 

Ou era nisso em que acreditava. 

Porque no momento em que Valerie entrou neste salão, todas as minhas certezas pareceram sumir. 

Não me sinto pronto. Na verdade sinto-me como uma criança perdida em um território inexplorado, não sei para onde olhar, nem sei se devo olhar para qualquer lugar que seja. Não sei o que me aguarda, não sei o que quero que me aguarde. Minha mente não processa nenhuma informação que não seja o fato de que ela está diante de mim, apesar dos metros que nos separam.

Sinto vontade de fugir e ao mesmo tempo de nunca mais tirar meus olhos dela. 

Eu sabia que seria difícil vê-la novamente depois desse tempo afastados. Mas não imaginei a bagunça em todos os meus sentidos. Não consigo ouvir nada ao meu redor, não vejo nada além dela, não quero sentir nada além de seu cheiro, minhas mãos imploram para tocá-la e a saudade deixa um gosto amargo na minha boca. Meus lábios sentem sua falta, tal qual meu corpo todo e eu inteiro. 

Tive medo do que encontraria em seus olhos ao fitá-los novamente. Ela me machucou mais do que eu poderia prever; eu nem sequer a perdoei completamente. Mas isso não significa que ela não tenha direito de estar magoada comigo também. 

Ainda que minha rejeição não seja  proporcional ao impacto que sua revelação teve em minha vida, talvez no contexto de nosso relacionamento, tenha significado tanto quanto. 

Porque no fundo eu sabia que ela partiria meu coração. Mesmo sem imaginar que Valerie estivesse envolvida com tantas coisa sérias, era impossível não saber que ela era como uma força da natureza. Eu sentia que em algum momento ela iria tomar impulso e arrastaria tudo o que estivesse ao seu redor, inclusive eu. Minha esperança era que nós encontraríamos um meio termo. 

Mas eu não sou como ela nesse sentido. E bastava olhá-la para perceber que Valerie também sabia disso. Eu não tinha a menor pretensão de machucá-la ou de mesmo que minimamente partir seu coração. De algum modo ela sabia que eu preferiria magoar a mim mesmo do que lhe causar qualquer que fosse o dano. 

E é por isso que a maneira como a tirei de minha vida deve ter doído além do normal. Porque foi inesperado. Ambos sabíamos que eu sairia ferido desse amor, ambos sabíamos que eu protegeria seu coração. Mas no fim, nós dois machucamos um ao outro. 

Ela tem o direito de estar com raiva. Não só de mim, mas do mundo. A vida nunca parece ter sido muito justa com ela, afinal de contas. 

Mas não é isso que vejo em seus olhos. Há sim ressentimento quando ela entra no salão, mas assim que me encontra, sua expressão torna-se suave, apesar de não menos intensa. Ela está tentando ler-me tanto quanto estou tentando decifrá-la, mas Valerie não parece ter o suficiente. Seu olhar é faminto por pistas, mas receio que não consiga entregar-lhe nada agora. Não sei como transparecer um sentimento que não tenho capacidade de traduzir para mim mesmo.