|Honored|

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|Collins|

Tenho que me apresentar novamente ao Exército amanhã. E apesar de ser estranho estar em casa, gostaria de ter mais alguns dias aqui. Para ser sincera, não cheguei a dormir de verdade nas últimas vinte e quatro horas.

Em metade do tempo o peso no meu coração faz com que tudo pareça extremamente desconfortável. Antigamente, quando estava em casa sempre ficava pensando em qual seria o melhor dia para visitar minha mãe. De vez em quando esse pensamento ainda me vem, e é difícil ter que ficar dizendo a mim mesma que não há mais ninguém a quem visitar.

E bem, na outra metade do tempo me pego questionando a situação com Malik. Parece que toda vez que fecho os olhos me vem uma nova recordação de quando éramos crianças.

Agora é como se sempre tivesse sido muito óbvio. Ele mudou muito, é verdade, mas os olhos ainda são os mesmos. De repente naquele dia na floresta quando pensei ter visto uma versão mais verdadeira dele eu apenas estivesse reconhecendo-o um pouco.

Javadd era meu melhor amigo. O garoto que morava ao lado da casa para onde me mudei com os meus pais quando trocamos de país. Ele não estava lá há muito tempo também. O pai era do Paquistão, apesar dos filhos terem nascido na Inglaterra, e tentou abrir um negócio em seu país de origem, mas seus planos foram por água abaixo quando a guerra chegou até lá.

Nós éramos duas crianças assustadas que não conseguiam entender a vida. Ele não sabia por que tinha que deixar a Inglaterra e depois o Paquistão. Eu não entendia por que tive que abandonar o Canadá. Não fazia ideia de que meus pais precisaram deixar a América do Norte porque não permitiam que eles se sentissem em casa.

Acho que reconhecemos o mesmo medo um no outro. Foi aí que nossa amizade começou. Mas infelizmente perdemos contato com o tempo. Durante um longo período me perguntei o que teria acontecido àquele menino. Só não imaginava que o reencontraria nas Forças Armadas Americanas como o homem que tem me infernizado.

E por mais que o meu lado mais emocional esteja completamente desestabilizado pelo que significa reencontrá-lo, uma enorme parte de mim está em alerta, me fazendo pensar em como será daqui pra frente. Devo confrontá-lo ou fingir que nada aconteceu? Apostaria que ele vai seguir o segundo caminho. Por enquanto não tenho medo de que conte sobre meu passado para ninguém. Já percebi que para ele não seria interessante que soubessem o seu também.

Coloco o travesseiro sobre meu rosto para abafar meu grito de pura frustração. Tudo está uma bagunça de novo.

Aparentemente não importa o quanto você tente deixar tudo arrumado, a vida está pouco se importando com a sua organização; ela simplesmente chega, revira tudo e te obriga a lidar com a zona novamente.

E eu já arrumei tantas vezes que estou começando a pensar que talvez seja melhor aprender a simplesmente conviver com a bagunça.

Sou arrancada desses pensamentos quando minha avó começa a me chamar do andar de baixo. Posso sentir a euforia em sua voz.

Levanto rapidamente e desço as escadas já questionando do que se trata. Deixo uma sentença pela metade quando vejo Harry parado ao seu lado.

"Estava voltando do mercado quando vi este jovem parecendo meio perdido pela vizinhança, querida. Sorte a dele que nunca deixo de notar um rapaz bonito, especialmente quando sua mochila carrega o símbolo do Exército." Ela lança um sorrisinho divertido para mim.

"Você esqueceu de colocar o número da casa na sua ficha." Ele dá de ombros.

"Harry? O que você está fazendo aqui?" Desço o último degrau.

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