|Be Alright|

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|Collins|

Os shuras são conselhos formados nas aldeias existentes ao longo do país. O chefe da shura mais próxima e de maior influência é Najibullah Shah, ainda que ele aparentemente não veja problemas em dividir teoricamente o posto com Hashmat, um dos líderes locais, e o ancião com quem Harry teve uma reunião há alguns dias.

E o primeiro desafio do grupo de seis pessoas escalado para acompanhar o Primeiro Tenente ao encontro com os anciãos da aldeia é conseguir chegar até lá sem maiores imprevistos. À princípio o momento havia sido marcado por eles para acontecer em sua própria aldeia, o que obviamente é bem justo, mas extremamente perigoso. Apesar de não estar situada em meio à área principal de fogo cruzado, é um espaço que está fora da nossa zona de ação até o momento.

Mas imaginamos que assumir riscos é necessário. Ao menos, essa é a decisão de Styles. Ainda que ele queira fazer de tudo para não colocar o pelotão em risco à toa, também sabe que se quer realmente ter algum progresso nesta missão, precisa mostrar aos locais que desta vez será diferente. E a primeira forma que ele encontrou de demonstrar isso foi abrindo mão dos procedimentos de praxe, em que os aldeões vêm até nossas instalações para que as reuniões aconteçam. Ele não se mostra hesitante, mas se o conheço bem o suficiente, sei que adoraria não precisar mudar códigos de conduta feitos para garantir nossa segurança. Eu, particularmente, acho que está certo. Do contrário, jamais conseguiremos avançar. E o fracasso não é uma opção, ainda que a vitória não passe de uma hipótese.

Ainda assim, Styles não cedeu 100%. A reunião foi realocada para o bunker desocupado que fica nos fundos do domínio da escola mais próxima. É uma área localizada a poucos metros do nosso raio de proteção, e quase igualmente perto para eles. Assim, as duas partes poderiam ficar mais relaxadas. Quero dizer, eles sim, nós nem tanto.

Antes de mais nada, mesmo que seja uma zona neutra para nós, entramos em contato com as autoridades locais para estudarmos a viabilidade de acesso e termos certeza de que nada sobre esse conselho é uma armadilha. Não é que a comunidade seja maldosa, é só que eles já não sabem quem realmente são os inimigos.

No que me pareceu um dos dias mais longos e entediantes da minha vida, montei guarda nos limites do território que ocupamos para verificar se haviam movimentos suspeitos, se existiam riscos detectáveis, mas não consegui notar nada de diferente, além da quase inexistência de pessoas nas ruas. Há alguns meses, quando eu deixei o Afeganistão em minha última missão, as coisas estavam complicadas, mas era mais fácil de notar as tendências de resistência. Desta vez tenho a impressão de que eles perderam um pouco de sua fé em qualquer um que já tenha se proposto a ajudá-los, inclusive nós. E eu os entendo, afinal há anos chegamos ao seu país, combatemos em suas ruas, contribuímos para mudar suas rotinas, e ao fim, vamos embora com a promessa de retornarmos quando tivermos estratégias melhores. A descrença é mais do que compreensível. Às vezes custa a mim mesma acreditar. E se continuo crendo em nosso propósito é porque, apesar de discordâncias e convívio por vezes complicado, eu sei que meus colegas fazem o que podem para dar seu melhor sempre, sei que se importam de verdade, sei que assim como não querem falhar com seu próprio país, também não querem faltar com essas pessoas.

O problema é que nossos inimigos também possuem muita força de vontade.

Assim que chegamos e conferimos o local para confirmarmos nossa segurança em seu interior, Dalton e Payne montam guarda na entrada, enquanto esperamos a chegada dos representantes da aldeia.

Chegamos com adianto, portanto ainda temos alguns minutos de espera. Aiden e eu engatamos uma conversa sobre as novas técnicas de aprendizagem que ele tem testado para tentar compreender ao máximo os dialetos locais. Ele é a nossa referência em conhecimento de dialetos e essa é a sua função hoje aqui: facilitar a comunicação entre os membros da shura e Styles.

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