Divided

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|Styles|

Eu estou cansado. E exausto. E cansado. 

Desde que descobri sobre os problemas com os medicamentos as coisas têm andado um pouco mais difíceis para mim. Tenho estado tão ocupado com a necessidade de entender o que está acontecendo que meu tempo está basicamente dividido entre cobrar explicações dos níveis mais altos de comando e liderar este pelotão. 

E por estar tão ocupado com questões administrativas imaginei que poderia contar um pouco mais com a ajuda dos instrutores que estão ao meu redor, mas vejo que estive errado. Bastou deixar que Malik guiasse um dia de atividades para que eu tivesse mais um problema adicionado à minha lista crescente de coisas desgastantes a serem resolvidas. 

É só um caso de situação conflitante entre um instrutor e um soldado, eu sei. Não é algo que deveria me deixar tão preocupado. Eu sei muito bem o que aprendi durante os meus anos de treinamento: a menos que o caso seja sério, o superior sempre tem razão. E, sinceramente, nunca foi muito difícil colocar isso em prática até agora. 

Mas até agora fazer o que me foi ensinado nunca havia significado estar contra Valerie. 

Acho um tanto vergonhoso admitir, mas a verdade é que ainda não sei o que fazer. Aliás, sei o que devo fazer, mas infelizmente não corresponde ao que eu quero. 

Para ser bem sincero, eu fiquei satisfeito de ver que ela não abaixou a cabeça diante dele, e vibrei internamente ao ouvir posteriormente o que ela disse para Malik, mas é completamente antiprofissional que eu me sinta assim. O que ela fez é considerado errado e se eu apenas fingir que nada aconteceu estarei dando a Malik a oportunidade de registrar uma reclamação contra mim junto à superintendência. Tanto eu quanto Collins poderemos sair prejudicados. 

Mesmo que ele a provoque constantemente, ninguém dos setores mais altos das Forças Armadas lhe daria razão, apesar de ser um caso tão bobo e que não valeria a pena nenhum desgaste, as pessoas não perderiam a chance de colocar Collins no que eles chamam de seu lugar. Na visão dos demais atitudes como as dela indicam que ela está mais para uma rebelde do que para um soldado. 

E nós não criamos rebeldes. Nós os combatemos.

Após tomar o último gole de café restante em minha xícara, não me dou muito tempo para pensar e sigo em direção ao dormitório. Depois de deixar o comprimido que comprei na cidade ao lado de Collins na noite passada, a isentei se compromissos por hoje, liberando-a para descansar. 

Por isso fico extremamente surpreso ao entrar em nosso dormitório durante o intervalo de almoço e vê-la sentada na cama devidamente fardada e com o olhar concentrado em um porta-retratos. Ela nota a minha presença, mas não diz nada inicialmente, apenas volta a olhar para o objeto em suas mãos. 

Ainda em silêncio sento-me ao seu lado na cama e observo a foto que ela segura. Na imagem há apenas uma criança e uma mulher de certa idade a segurando. Ambas carregam sorrisos que aparentam ser genuínos. 

"É você, certo?" Pergunto gesticulando para a criança sorridente na foto. 

"Sim, eu mesma." Ela suspira. "Eu e a minha avó." Valerie não olha para mim, mantendo seus olhos fixos na fotografia. 

"Vocês parecem felizes." Observo. "Ainda não havia visto nenhuma fotografia sua por aqui."

"Não nos deixam trazer muitos objetos pessoais, o senhor sabe." Ela dá de ombros. "E eu não fui capaz de achar nenhuma foto dos meus pais."

"Nenhuma?" Questiono quase que automaticamente. Sua revelação me pega de surpresa porque tenho centenas de fotos antigas de família. Elas me ajudam a manter as lembranças do meu pai um pouco mais vivas. 

|SOLDIERS|Onde as histórias ganham vida. Descobre agora