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Passo a mão sobre o material dourado da medalha que recebi há pouco e não consigo evitar sentir que algo está errado.

Acredito que mereço ser condecorado nesta cerimônia de reconhecimento de atuação. Ainda que ao menos 3 de meus soldados estejam incapacitados de voltarem a atuar pelas Forças Armadas, o fato de não terem havido mortes em meu pelotão é considerado um grande feito. É raro não termos perdas em missões assim, então obviamente sinto orgulho do que fizemos.

Malik também merece a medalha que agora carrega no peito por sua coragem e inteligência, assim como Liam, que assumiu diversos papéis ao longo da missão, e é digno de ser homenageado por isso.

O que ninguém está falando, mas todos parecem estar pensando, é que a cerimônia bonita e pomposa que estamos presenciando agora não é justa o suficiente porque o maior destaque da missão não está aqui. O fato de não ser nossa culpa não diminui o quanto sua ausência parece gritar a todo instante.

Uma das coisas que mais tornam incoerentes as acusações de que Collins estaria confabulando contra os Estados Unidos é justamente a sua atuação no Afeganistão. Ela não salvou tantas vidas afegãs por uma questão ideológica, eu via o tempo todo que ela estava tão disposta a salvar os locais quanto estava a salvar os nossos. A soldada queria evitar mortes, e conseguiu fazer até mais do que estava ao seu alcance.

Por mais que me machuque profundamente pensar nela, olhar para essas pessoas tomando champagne e rindo ao compartilhar histórias me faz lembrar que ela deveria estar aqui, sendo abraçada pela avó após receber sua medalha e deixando as autoridades boquiabertas ao contar sobre como sua mente brilhante e coração generoso levou-lhe a uma atuação admirável.

Esforço-me para prestar atenção no que o governador está falando ao grupo, mas minha mente não para de me atormentar com pensamentos sobre ela, então escolho afastar-me antes que ele faça uma pergunta que não serei capaz de responder.

Estou cansado de ouvir tantos "Como você está?" sem nenhum sentimento real. O que eu devo dizer? "Ah sim, estou ótimo. Estou aqui provando bebidas caras enquanto a mulher que amo está na cadeia por certas coisas que nem fez."

Às vezes lembrar que a amo é como um soco no estômago, porque não faz sentido amar alguém e conseguir seguir com a vida enquanto essa pessoa está sofrendo. Sempre soube que apesar de o principal, o amor não é tudo em um relacionamento, mas acho que só estou compreendendo isso realmente agora.

Com um breve pedido de licença, retiro-me do grupo e caminho um pouco pelo evento. A cerimônia está acontecendo nos jardins da casa que o Governador da Carolina do Sul possui em Washington Dc. Se tivesse que apostar, provavelmente diria que ele também tem uma casa em Columbia, capital do estado e onde encontra-se o distrito capital dos EUA;

A decoração é mais elegante do que o esperado por chefes de pelotões e soldados que até pouco tempo não tinham direito a mais do que 4 horas de sono, menos banhos do que gostariam e mais fast food do que deveriam consumir. Para ser sincero, sinto-me quase que desconfortável em um ambiente tão faustoso. Ainda que festas com tanto garbo não sejam algo novo em minha vida, considerando o ciclo de amizades de minha família, é sempre incômodo ver tanta comida e bebida sendo desperdiçados em nome de conversas cheias de intenções, quando acabamos de voltar de um lugar em que há tanto faltando.

Felizmente as conversas fiadas distraem as pessoas por tempo suficiente para que minha cabeça abaixada seja o bastante para passar por elas sem ser notado. Há pouco estavam aplaudindo-me, mas alguns minutos comigo poderiam gerar mais frustração e decepção do que sou capaz de mensurar. Não tenho sido uma boa companhia para ninguém, nem para mim mesmo.