|I survived|

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|Collins|

"Precisa de ajuda, Collins?" Sanderson pergunta quando nossos caminhos cruzam-se rapidamente.

Uma olhada simples em mim justificaria sua oferta, porque sei que não me pareço com alguém capaz de ajudar outras pessoas agora. Estou suando mais que o normal e meus sentidos parecem embaçados, tais quais os meus sentimentos estão à essa altura. Não sei o que está acontecendo, mas houve um momento entre encontrar pessoas que precisavam de um lugar seguro e avistar corpos sem vida que me fez desejar os comprimidos que o psiquiatra costumava me receitar.

"Não, pode deixar comigo." Assinto para ele, e por mais que eu saiba que não sou convincente o bastante, a nossa luta contra o tempo o faz seguir em frente.

E é o que faço também. Com paciência levo a mulher que acabei de resgatar até um dos carros blindados, que deverá levar todas as vítimas resgatadas nessa região até um galpão providenciado pelas autoridades.

"De início, achei que fosse um terremoto." Diz ela repentinamente e fico aliviada. Não é que eu esteja com tempo para conversar com os cidadãos nesta ocasião, mas ela estava em estado de choque até pouco tempo, e considero uma vitória que esteja ao menos falando alguma coisa. "Eu só queria tentar emitir um novo passaporte." Ela relata ao encostar a mão no ferimento em sua testa, parecendo distante demais, como se enunciasse a si mesma.

Contando com o auxílio de Peterson, ajudo-lhe a subir no veículo, onde poderá ficar segura. Percebendo sua hesitação em permanecer ali, decido dedicar-lhe um tempo que nem tenho.

"De onde a senhora é?" Pergunto ao subir também no veículo, e puxar debaixo do banco o kit com materiais de emergência. Não vou conseguir cuidar de seu ferimento, mas posso conter o sangue.

"Índia." A mulher diz ao receber os pedaços de gaze e algodão que separei para ela. "Meu passaporte estava próximo ao vencimento. Acho que deveria tê-lo deixado vencer."

Sinto vontade de perguntar em que parte de Cabul ela mora, mas me contenho. Porque dependendo de sua resposta, talvez ter ficado em casa também tivesse colocado sua vida em risco. E desta vez não me sinto capaz de contar a uma mulher aterrorizada que os estragos das ações de hoje vão além do sangue em sua testa.

As explosões da última hora aconteceram próximo às embaixadas em uma extensão do bairro diplomático, um alvo já atacado há um par de anos. Mas houveram também outros focos de explosões em partes diferentes ao longo da cidade. Ouvi um pouco através do comunicador acoplado em nossos capacetes, porém da última vez em que alguém repassou notícias, o mapeamento de ataques ainda não havia sido concluído.

Enquanto estamos agindo na área das embaixadas, há equipes de diferentes pelotões atuando em outros locais de Cabul que sofreram ataques. No exato ponto em que estou agora, já não parecem haver pessoas para serem resgatadas, mas não sei sobre a gravidade do que está acontecendo no resto da cidade. Ouvi conversas sobre estar havendo um confronto direto entre nossas forças e os terroristas em algum lugar por perto, mas nada que me tenha fornecido grandes informações.

"Eu preciso ir agora, você será bem cuidada." Ela segura de leve a manga da minha farda, como se pedisse silenciosamente para que não a deixe. "Desculpe, há mais gente precisando de ajuda." Essa frase é suficiente para que me solte. "Você vai ficar bem, eu prometo." Garanto antes de descer do veículo.

Enquanto faço meu caminho de volta ao perímetro mais afetado para conferir se há mais alguém precisando de auxílio, vejo que Sanderson está levando uma criança machucada para o blindado. Quando escuto-a perguntar a ele sobre onde está sua mãe, aumento os meus passos.

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