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“Você parece bem melhor, estou certo ou é pura ilusão?" 

Talvez pudesse mesmo ser apenas uma ilusão, vovó me disse que não achava saudável que eu tivesse acompanhamento psicológico online porque poderia facilmente enganar o psicólogo, e consequentemente enganar a mim mesma. Ela acha que tenho aptidão para fingir estar bem quando não estou em uma conversa presencial. 

Mas Donovan disse que achava uma boa ideia, considerando que ser uma subcelebridade relâmpago às vezes dificulta a minha privacidade. Ele me deu esse conselho baseado no dia em que fui à farmácia comprar absorvente, fui secretamente fotografada e horas depois havia uma thread no Twitter detalhando todas as provas de que estou grávida. Bem, ultimamente a única forma deu estar grávida seria por interferência divina. 

O fato é que apesar de soar como algo que dará uma boa história a ser contada algum dia, na prática não é tão legal se sentir vigiada, especialmente quando se está tentando tornar um lugar confortável. Sei que esse apreço pela minha figura vem de boa intenção, as pessoas querem me dar visibilidade para tentar reverter o destino que a Justiça determinou para mim, mas em alguns aspectos, essa atenção toda tornou algumas coisas ainda mais difíceis. Como, por exemplo, escolher ter consultas online por medo de alguém me fotografar saindo do consultório. 

Uma coisa é fazer um tweet alegando que meus quilinhos a mais são uma das provas de que entrei na farmácia para comprar teste de gravidez ou fraudas - é, ainda não decidiram em que estágio da gravidez estou. Outra é fazer suposições sobre a minha saúde mental e transformar algo sério e importante em material de fofoca na boca de gente que nem sabe por que a minha história tem repercutido tanto.

Felizmente nas últimas semanas a situação melhorou, há muitos escândalos novos ocupando a mente das pessoas. Se por um lado me preocupa ficar totalmente esquecida e o movimento pela suspensão da minha deportação perder força, por outro é relaxante não me sentir tão vigiada. E de todo modo, não posso ficar apenas focada em algo que pode ou não acontecer. Neste momento minha vida é aqui e preciso estar presente para mim mesma; não sentir que estou sendo monitorada ajuda bastante. 

Com o meu histórico, acho que mereço muito o direito de me sentir livre pela primeira vez. 

“Não é ilusão." Sorrio. "Estava há pouco conversando com meu melhor amigo. Já falei sobre Liam, certo? Sempre fico melhor depois de falar com ele. É um dom natural daquele cara."

"Ele deve ser mesmo uma pessoa incrível." A expressão do meu psicólogo é realmente tão empática e interessada que às vezes preciso lembrar a mim mesma de que ele é meu médico e não um amigo. 

Foi Donovan quem me passou o contato de Louis, e nesse sentido fico feliz que tenha escolhido fazer consultas online. Na vida real, para encontrar pessoalmente esse profissional incrível que ele é, eu teria que estar no Reino Unido. Por enquanto, minha cota de viagens está esgotada.

“É muito importante que, apesar da distância, você ainda se cerque, da maneira que for possível, daqueles que ama. Mas não deixo de me perguntar se você tem feito avanços quanto a tentar estabelecer relações com alguém que não está do outro lado da tela. Sei que não sai tanto, mas você já se enturmou por aí, mesmo que com uma só pessoa?"

“Ah, definitivamente o vizinho do quinto andar está louco pra se enturmar comigo."

"É um rapaz insistente, um possível problema?" 

"Ah não. Achei divertido à princípio, não por ter interesse, mas porque é engraçado lembrar que quando pessoas que não me conhecem me vêem, elas não enxergam a minha história, apenas uma mulher jovem vivendo a própria vida. De todo modo, já deixei delicadamente avisado que sei manipular uma arma muito bem."